Pausa para pensar...

Ontem, ao assistir o fantástico, me deparei com uma cena que me deixou sem palavras, tentei respirar fundo, tentei fechar os olhos, tentei não acreditar...

Mas por uma questão de segundos, as palavras vieram-me como labaredas de fogo sobre mim, queimando minha pele, meus sentidos e me deixando em brasa.

Sim, fiquei extasiada, anestesiada com tanta crueldade, tanta violência, tanta frieza.

Ainda sinto os meus olhos lagrimejarem só de lembrar da dor, da perda, do sofrimento daqueles pais que tiveram arrancados de si, da forma mais desumana e bruta o seu filho.

Diante da dor, entre uma lágrima e um soluçar, eles clamavam por justiça, falavam das lembranças do filho, da felicidade que tinham, de tudo que ele significava para eles.

Falavam do vazio, de uma saudade que nunca terá fim.

Quem os consolará?

Quem trará de volta o sorriso no rosto deles?

Pequeno ser, tão frágil, tão menino, tão inocente e tão, brutalmente, vítima da violência e da ganância dos malditos humanos que vivem na terra para amedrontar e matar.

Pausa para pensar!

Pausa para entender!

Pausa, apenas, uma breve pausa para tentar se conter na dor!

A cada dia a violência no Brasil aterroriza ainda mais os brasileiros. Não sei mais o que pensar ou como agir, ou com que mais se indignar.

As ruas - a praça, a calçada de casa -, o shopping... Enfim, tudo já virou uma ameaça.

Inocência violentada, espancada, torturada, morta... Crianças que ainda estão conhecendo o mundo, a vida, são vítimas da brutalidade humana, da covardia daqueles que não tiveram infância, que não sabem sorrir, viver, amar.

Medo? Eu tenho.

Medo de viver em uma eterna desconfiança, medo de abrir o vidro do carro, de dar esmolas, de ser gentil com alguém na rua. Medo de ir ao banco, de ter dinheiro no bolso,

Medo de ser vítima também.

Na verdade, já não sei se essa situação pode ser controlada, talvez se o Super - Homem estivesse nessa história, estaríamos salvos desse novelo de linha que se chama violência.

Homens na rua, armados, de cara lavada, de roupa bonita, de carro...

Homens com mão de sangue, sorriso malvado...

Homens que não choram... Que não amam... Que apenas ignoram a felicidade.

Homens que estão do nosso lado, na esquina da rua, no nosso trabalho, homens que apenas esperam para atacar.

Pensar em justiça?

Pensar em segurança?

Pensar em que?

Sofro com as notícias na TV, com a frieza de quem arrasta uma criança agarrada a um cinto de segurança a quilômetros em um carro.

Não sei o que pensar! Não sei como agir!

Sofro pelos meus filhos que estão vindo ao mundo, pela luz negra que cobre a beleza de um país tão bonito.

E a segurança? Onde ela está?

Nas mãos daqueles que tentam se defender com seu próprio punho? Que desejam fazer justiça pela morte do irmão, do pai, da mãe, do filho...?

Às vezes queria viver como os pingüins, na frieza de seu mundo.

Mas, infelizmente, sou brasileira, humana, e, também vítima.

Vítima do medo, da insegurança, da desconfiança, da falta de proteção, da injustiça, da falta de consideração.

Enfim, sou uma, entre tantas pessoas que temem o seu próprio país, temem abrir o portão de casa, entrar no carro...

Temo até viver, e por medo me sinto covarde e pequena, sem nenhum papel nessa história, sem armas, sem heróis pra me agarrar.

Queria dormir e acordar sem notícias na TV, sem mortes nas ruas, sem lágrimas nos olhos, sem dor pela dor dos outros. Mas, infelizmente, aqui, nesse país dá apenas pra sonhar.

Que se danem os poderes, que se danem todos àqueles que põem a cara na TV e dizem que tudo está controlado.

Que culpa temos?

Que culpa tem as crianças?

De quem é a culpa.

Mas uma vez, pausa!

Ana Clea Bezerra de Abreu
Enviado por Ana Clea Bezerra de Abreu em 12/02/2007
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