Bom senso e honradez

No ano em que os brasileiros mais uma vez vão às urnas para escolher os prefeitos e vereadores de seus municípios, vêm à tona algumas questões que nos acompanham há décadas. Os nomes que são apresentados aos eleitores podem ser enquadrados como “mais do mesmo”, “o menos ruim” ou “uma luz no fim do túnel”?

Embora concorde que a escolha de “cidadãos comuns” para ocuparem o Executivo e o Legislativo (em todas as suas esferas) seja a forma mais democrática para a gestão da vida pública, não dá para afirmar que esta seja a forma mais eficaz. Analisando o assunto apenas pela ótica da administração, dá para arriscar o palpite de que seria o caos completo para a iniciativa privada se as empresas fossem comandadas pela maioria dos nomes que ocupam as funções de prefeito, governador e mesmo de presidente da República.

Completamente despreparados para a complexidade do cargo que ocupam, milhares de chefes do Executivo (a situação é ainda mais grave na esfera municipal) realizam gestões amadoras, imediatistas e populistas. Algo cada vez mais difícil de se admitir em organizações privadas. Para estas últimas, um gestor amador e de pouca visão futurista representa sério risco de falência.

Por que, então, temos que aceitar no topo da administração pública nomes que sequer seriam admitidos para os cargos mais elementares das empresas privadas? Se alguém acha que estou exagerando, basta fazer uma pesquisa sobre a situação da maioria dos municípios do Brasil para constatar como agem seus prefeitos e como são os serviços oferecidos pelas suas administrações aos moradores.

Algo parecido pode se dizer sobre os nomes que são apresentados (e eleitos) para ocupar as cadeiras do Legislativo (aí tudo é quase igual nas esferas municipal, estadual e federal). Pouquíssimos possuem capacidade para entender a dimensão e profundidade do que são muito bem remunerados para realizar. Faltam para a maioria dos nossos legisladores cultura geral, conhecimento sobre leis, maturidade para criá-las e independência para pensar e agir por conta própria.

Como sei que as qualidades que cito aqui para gestores públicos e legisladores estão quase no campo da utopia, apresento apenas duas que, se fossem seguidas pelos escolhidos do povo, já trariam mudanças significativas em nossos municípios: bom senso e honradez. A primeira qualidade está ligada à capacidade que todos podem ter de agir com a razão. Na vida pública significa priorizar as necessidades das mais diversas áreas e resolver de forma eficiente os problemas que atravancam cada uma delas. A segunda qualidade é colocar a atitude ética à frente de todas as etapas que envolvem a gestão do dinheiro público.

Como o eleitor pode diferenciar os candidatos que possuem ou não tais qualidades? Também fazendo do poderoso instrumento do voto um exercício de bom senso e honradez.