PENA DA VIDA!

PENA DA VIDA.

Brasil, puta que pariu!!! Um desabafo de Má Oliveira tem sido divulgado pela Web.

Nenhum brasileiro pode deixar de se horrorizar com a barbárie que vitimou aquele menino, o João Hélio. Arrastado por sete quilômetros, teve seu corpo e sua vida destruídos. Então nossas vozes se erguem, num urro ancestral, pela nossa impotência diante da violência do ato.

O triste é que apenas agora se ouve tal grito. Caladas estavam essas vozes enquanto o monstro crescia. E se alimentava, dentro das camadas menos favorecidas, de outros tantos meninos de seis, de sete e de todas as idades. Afinal, eram apenas pobres favelados que, se ainda não eram bandidos, em breve o seriam!

A nossa polícia, treinada como um órgão de repressão, com a garantia da impunidade, há muito decretou a pena de morte. Sem a burocracia jurídica. E sem direito à defesa!

E as vozes caladas! Umas poucas, talvez murmurando.

Quando foram gastos milhões de escassos reais num plebiscito imbecil sobre o desarmamento, em várias cidades e estados o desarmamento saiu vitorioso. Por uma questão de segurança, diziam alguns. Ora, basta uma pequena leitura das nossas leis e uma revisão histórica, ver-se-á que, quando se falam em armas e segurança, fala-se em Segurança Nacional. Não se quer uma população armada. Uma população armada pode, num momento, fazer frente ao Presidencialismo Imperial que impingimos a nós mesmos.

As vozes, caladas! Murmúrios aqui e ali. Só!

Quando uma torrente de corrupção é exposta, ficamos ofendidos! E gritamos, mas só um pouquinho. Afinal, fizemos ou faremos um concurso público e não ficaria bem. Por que corrupto também é o funcionário inepto, o professor que não cumpre com sua obrigação, o dirigente que se locupleta o serventuário que desconhece que Serviço Público quer dizer Servir ao Povo. É não ficaria bem!

Gritamos contra os políticos que não cumprem com sua obrigação. Mas votamos neles. E votamos de novos. E outra vez. Afinal, eles podem talvez calçar a rua em frente à nossa casa. Ou arrumar uma vaga na escola para nosso filho. Ou um cargo em comissão. Ou uma merda qualquer para tapar nossa boca. E nós aceitamos a merda na boca! E fica difícil gritar, assim, com a boca cheia!

Quanto vale a vida dos anônimos Joãos Hélios das favelas? É, pensando assim, não vale nada. Por que naqueles morros, a gratuidade da morte é uma constante cotidiana. É companheira de cada dia. Chega na forma da polícia, chega na forma do traficante, chega na forma das milícias. Ou chega por doenças, por falta de atendimento médico ou apenas por fome. Mas chega sempre! E deixam insepultos pelas ruas, corpos de todos os tamanhos e idades. Meninos e meninas. Mulheres e homens. Idosos, que nem mais sexo tem!

E as vozes caladas!

Alguns dos meninos e meninas sobrevivem. Crescem já carimbados, em sua testa ou mão direita, a marca do demônio. São parias. Sua vida nada vale. Porque, diabos, alguma outra vida valeria então?

Sou pai. Tenho um filho um pouco mais velho. 11 anos. Arrepia-me a idéia de que pudesse ser com ele. Mas pode ser! Foram presos 4 ou 5 desses parias, desse rebotalho. Dessa contrafação de gente. Quantos sobraram? Quantos ameaçam a mim e a minha família? A você e a sua família?

E eu não tenho uma arma para defendê-los. O direito de tê-la me foi tomado pela forma da extorção. Taxas tão absurdas que inviabilizam essa possibilidade de defesa. Talvez a minha última possibilidade de defesa.

Mas eu votei novamente. No mesmo político. No mesmo Presidente que veio do povo. E que esqueceu do povo!

Minha solidariedade à família. Sinto, mesmo, muita dor. Nunca comparável a que eles sentem, mas é uma dor grande também.

Que me fez sentar e escrever. Tentando que as vozes continuem, sempre, no urro! Que gritem tanto que façam tremer estruturas que precisam ser modificadas. Que não se calem pela rua calçada, pela vaga na escola ou pela ficha de consulta!

Que façam o país ouvir que a vida dos meninos da favela tem valor. Que eles também merecem uma chance!

Apenas quando todos forem condenados à Pena da Vida, cada um de nós terá respeito pela vida do próximo.

EDUGIG
Enviado por EDUGIG em 12/02/2007
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