O PARAÍSO DE CADA UM
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De vez em quando me pego imaginando (ou recordando, o mais provável), a reação que terei no dia em que enfim der por cumprida minha atual etapa na materialidade, e voltar para lá! Sim; para aquele lugar especial das dimensões maiores, das minhas origens, que eu imagine tenha pelo menos campos, sol, jardins perfumados, mar talvez, ou um laguinho cristalino! Afinal, não nos afinizamos com aquilo que não se sintoniza com nosso universo interior; então, permissível admitir que, em perseverando, pelo menos, em acertar, e conservar para com os que me rodeiam e com a vida de um modo geral um atitude positiva, mereça retornar para aquele círculo belo e amoroso de conhecimentos e de lugares que entressonhamos para a continuidade de nossas vidas, depois da nossa passagem por este mundo.
 
 
Tendência natural de todo ser, este progressivo apuro seletivo de preferências. Para tudo: para lugares, para companhias, para modo de vida. Também para lazer, atividades profissionais, e estudos. Difícil se admitir, em sã consciência, que quem já se vê adaptado a oportunidades privilegiadas de educação, de moradia, e de tantas outras conquistas de mérito, se conformasse de bom grado com retroceder para um estado de ignorância crassa e sofrida; de indigência de saúde, ou para estados mentais involuídos.
 
 
Sim. Viver é progredir. É evoluir para uma condição de felicidade de amplitude infinita e incessante. Deixar para trás estágios já vencidos de aprendizado e as escolhas que já nos não servem, nem contribuem para a nossa realização maior no vasto panorama desta existência compartilhada com tantos!
 
 
De uma ótica distorcida, poderia alguém conceituar estas realidades individuais, que para cada qual acontecem de maneira única, como mostra ostensiva ou dissimulada de presunção. Dias atrás mesmo, ouvia do maestro Leonardo Cunha, na abertura do magnífico concerto de câmara da orquestra Opus, no Rio de Janeiro, algo que ilustra bem esta verdade: as pessoas trazem preconceitos contra determinados aspectos da arte, que nada mais são do que isto: pré conceitos! Só adquirem consistência, desta forma, na mente de quem os elabora, deixando-se governar nas suas atitudes cotidianas por ideias que, de tanto serem alardeadas de modo pouco refletido, revestem-se com máscaras de verdades! Assim, a música clássica não é o bicho papão, a "coisa complicada e chata" que muitos julgam! Que se ofereça a muitos que assim pensam a simples oportunidade de assistir a um belo concerto de cordas, com músicos executando ao vivo músicas magníficas em ambiente acolhedor e apropriado, e muitos conceitos arraigados quão injustos sobre isto se modificariam!
 
 
O fato da música clássica ser atemporal, unanimidade para muitas e muitas gerações através dos séculos, desta forma, não invalida as infinitas outras modalidades de criação musical. Os grandes artistas de hoje, compositores modernos que são os bardos da atualidade, não perdem em valor para este gênero melódico. Temos, na música mundial, em todos os países, expressões sublimes de criação artística, afins ao contexto dos tempos em que vivemos! Assim, é preciso que se desfaçam deste conceito errôneo de que quem gosta e faz música clássica é besta, pretensioso, arrogante, ou outras referências errôneas. Trata-se tão somente de gosto, de dom, de tendência, e - isto, de fato! - de apuro na escolha e exercício deste gênero artístico, uma vez que música clássica exige estudo aprofundado e persistente; e o estudo, em si, se encarrega também de refinar a audição e a percepção, coisa que outras modalidades musicais mais informais talvez não requisitem de seus executores. De fato, não se requer do amador que toca em família um sucesso popular do momento, em muitas vezes, um conhecimento de partitura aprofundado, próprio de quem se especializou em reger orquestras. Mas, atendendo a gostos generalizados, não é, esta verdade, de molde a denegrir quem quer que seja!
 
O mesmo que se pode dizer do que experimentei, cerca de quinze anos atrás, visitando a ilha de Fernando de Noronha após conhecer quase todos os estados do nordeste brasileiro, pelos quais nutro acentuado fascínio por suas belezas naturais sem paralelo, talvez, em nenhum lugar do mundo! Porque João Pessoa, por exemplo, no estado da Paraíba, permanece como a minha referência de Éden, com os cenários luminosos de praias como Lucena e Coqueirinhos! No entanto, sem termos de comparação, Fernando de Noronha, que visitei duas vezes, se confirmou como o legendário "hors concours" em termos de beleza paradisíaca brasileira! Não compete! Disparata do conjunto magnífico de paisagens nordestinas, sem, no entanto, desmerecê-las! Espécie de lugar fora deste mundo, por assim dizer, como se materializado em pleno oceano a partir de cenários celestes! Simples assim!
 
 
Lucena, portanto, em João Pessoa - um éden brasileiro! Fernando de Noronha - ilha paradisíaca brasileira, outra modalidade exclusiva de éden, baixada do infinito, ao alcance de nossos olhos - embora, claro, ao preço algo salgado de um pacote turístico, pelo menos nas realidades sociais contrastantes de nosso país!
 
 
Mas o que se pretendeu ilustrar com estes comparativos, é que a tendência humana para se dedicar ao prazer e à apreciação saudável da beleza e dos dons naturais da vida é boa, é louvável! Tendência espontânea - e não mostra de arrogância ou de presunção de superioridade de qualquer espécie!
 
Que se perceba isto com o uso devido da sensibilidade inerente a cada um de nós, para que, sem pré-julgamentos, ampliemos livremente os nossos horizontes, rumo a um estado de consciência mais completo, mais feliz!
Christina Nunes
Enviado por Christina Nunes em 04/08/2012
Reeditado em 07/08/2012
Código do texto: T3813983
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