A Lenda do Angoéra (Lenda do Sul)

ORIGEM E CENÁRIO

Apesar de tribo do povo mbyá-guarani já viver no noroeste do sul do Brasil junto à fronteira da Argentina, onde hoje se situa o município Roque Gonzales, Rio Grande do Sul, a Lenda do Angoéra tem origem nessa região, com esse povo, mas só depois da chegada dos jesuítas.

Nessa região, onde o Rio Uruguai faz fronteira fluvial com a Argentina, existia e, ainda, existe, região conhecida como Pirapó, que em língua tupi-guarani significa "salto do peixe".

Certamente, a região ficou conhecida como Pirapó, devido a abundância de peixes que havia e que saltavam as cachoeiras do Rio Ijuí. Esse cenário tornava-se mais belo na época das piracemas e tornou-se reduto predileto dos índios guaranis, o Salto Pirapó,

A LENDA

No tempo dos padres jesuítas, Nos sete povos das Missões, no Pirapó, vivia um índio muito triste, que se escondia de tudo e de todos pelos matos e pelos barrancos dos rios.

Era tão tímido, acanhado e arisco, que mais parecia um fantasma. Por isso era chamado de Angoéra, que na língua guarani significa fantasma. Além disso, fugia dos padres e dos ritos religiosos como o diabo foge da cruz.

Entretanto, depois de algum tempo de insistirem com Angoéra, a paciência dos padres esgotou-se e o batizaram, praticamente, a força e deram-lhe o nome de Generoso.

Ninguém sabe ao certo explicar o que aconteceu. Mas, depois do batismo, quase à força, e de passarem a chamá-lo de Generoso, o comportamento do índio mudou da água para o vinho.

Angoéra, ou melhor, Generoso deixou de vagar pelos rincões escondendo-se, tornou-se alegre, comunicativo, admirado tanto pelas índias da tribo como pelas jovens brancas do povoado. Mas do que tudo isso, não dispensava reuniões alegres e festivas.

Ninguém sabe a causa, mas Generoso morreu jovem, como diz o ditado popular, muito antes do combinado.

Entretanto, todos afirmam que a alma de generoso continuou no povoado e na região. Vaga pela região, como se quisesse continuar fazendo o que mais gostava, participar de festas.

Afirmam que, até hoje, Angoéra vive à procura de diversão.

Onde tenha cantoria ou dança, podem ter certeza de que lá ronda a alma de Generoso. Se uma viola toca, sem ter ninguém por perto, podem ter certeza de que foram as mãos de Generoso. Se o silêncio da noite é cortado por risada solitária, ou se alguma moça é tomada de surpresa e de vergonha por ter sua saia levantada, podem ter certeza, foi ele, o Angoéra, o Generoso.

Quando alguma coisa dessas acontecer numa festa, o sanfoneiro, ou o violeiro deve cantar em sua homenagem:"Eu me chamo Generoso, morador de Pirapó. Gosto muito de dançar com as moças, de paletó".

“Angoéra” é nossa tentativa em rimas para registrar esse mito que partiu antes do combinado, mas continua na região tentando viver o não vivido

Angoéra

Numa tribo guarani, no tempo das Missões,

lá pelas bandas do belo salto do Pirapó,

índio arisco se escondia pelos rincões,

pois sua timidez exigia ficar só.

Assim como surgia, o índio sumia.

vê-lo com os seus era quimera

e, mais como um fantasma, vivia.

Por isso, o chamavam de Angoéra.

Certo dia, um padre de sua missão cioso,

quase à força, torna o índio cristão

e, no batismo, dá-lhe o nome de Generoso.

E os modos do índio tomam outra direção.

Aquele índio, que ficara, por todos, admirado,

sociável, amante de festas e da alegria,

morre jovem, “antes do combinado”.

Vaga sua alma, para seguira vida tolhida.

Se, numa festa ou cantoria,

uma viola toca sem a mão do tocador,

é Generoso procurando alegria.

Se alguma jovem sentir no peito grande ardor,

é ele atrás do que não teve em vida,

para viver um, não vivido, grande amor.

J Coelho
Enviado por J Coelho em 16/08/2012
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