O português nosso de cada dia.

Conversava um dia desses com um casal de chineses durante um voo e eles me disseram que estavam apavorados porque não sabiam nada de português, apesar de morarem no Brasil há mais de dois anos, e estudar intensamente o idioma. Eu disse para eles: “nem eu” , o que os deixou surpresos pois estava a lhes mostrar meu livro editado recentemente. Ela tentava ler e entender o que estava escrito na primeira pagina, ele simplesmente falou em chinês algo que ela traduziu como: “ desistiu, muito complicado”. Eles já falavam outros idiomas, mas o português estava sendo um desafio. Regras, significados variados e exceções numa língua, não estavam de acordo com a modernidade que é facilitar a comunicação. “Por que isso tudo? Praticamente vai servir pra quê?” Na decolagem ela ficou incomodada com o ruído e a pressão no ouvido. No pouso eu a abracei para aliviar o desconforto. Pensei: “falar pra quê?”

Lendo uma apostila de português para concurso eu também fiquei apavorada. É muita coisa para aprender e vem àquela menina chinesa, com sua praticidade, me dar motivos também para questionar. Que me importa se homem e mulher são substantivos heterônimos, que pingue-pongue é onomatopeia ou que o coletivo de pessoa pode ser gente, bando, legião, chusma...? De que adianta saber de coisas que não vão fazer minha vida ser melhor nem minhas relações interpessoais serem agradáveis? Uma coisa eu sei, conhecer aquele casal me fez muito bem, com um português pouco compreensível mas, com a comunicação mil, repleta de gestos, sorrisos e emoções.

Quando um dia, eu os encontrar de novo, eles continuarão a me ensinar e eu também a eles.

Vou aprender, seja amar mais, comunicar mais, ensinar mais e também o nosso tão complicado idioma português. Fazer o quê? Escrever exige.