1- Há somente uma vida ou existem várias vidas conforme dizem os reencarnacionistas?
Não pretendo solucionar tal questão nem sequer apresentar minha convicção sobre o assunto.
 
O objetivo deste artigo é ressaltar o notório despreparo das pessoas na compreensão das duas teorias, apresentando algumas críticas que a forma de interpretarem o tema sugere.
 
2- Possuímos a liberdade total de aceitar uma teoria ou admitir a outra, porém nenhum de nós tem o privilégio da verdade.
Como assim?
Podemos verificar, com grande facilidade, que as pessoas afirmam que somente há uma vida ou existem várias vidas depois dessa como se a opinião delas fosse decisiva.
Vale a pena destacar que o nosso pensamento a respeito do assunto não define o tema.
 
Tentando ser mais claro, vamos admitir que estejamos investigando a existência de Deus.
Sem dúvida, a maioria dos homens e das mulheres acredita que Deus existe.
Isso não determina, entretanto, que Deus existe.
 
Ou Deus existe ou não existe. Eis a verdade.
A opinião da maioria pode combinar com a verdade ou não, porém ter uma opinião, defender um pensamento, expor uma certeza não torna a idéia expressa verdadeira.
Essa presunção eliminada facilitaria o debate das idéias, pois facultaria a compreensão de que erramos, de que não somos infalíveis, facilitando assim o aprendizado mais a maturidade que todos podem buscar ampliar e desenvolver.
 
Considerando bem o que eu estou comentando, tudo que apresentarei neste texto apenas propõe uma reflexão e análise.
Jamais pretendo resolver uma questão filosófica tão profunda e polêmica.
 
Eu posso (e vou fazer) expressar os meus argumentos, o meu raciocínio, oferecendo o ponto de vista que instiga as críticas as quais pretendo ressaltar.
 
3- Freqüentemente, quando escutamos a idéia da reencarnação, ouvimos as pessoas preocupadas com quem foram no passado.
Tal preocupação suscita muitas vezes um palpite sobre a identidade numa determinada vida pretérita. Dessa forma, é comum escutar alguém dizendo que foi um rei ou uma rainha, que foi uma específica celebridade, foi Joaquim ou Bartolomeu ou alguém sem nenhuma fama.
Há aqueles que tentam descobrir detalhes da vida anterior explorando os limites de sua memória.
 
Também não será estranho escutar alguém justificando o sofrimento alheio considerando que a pessoa atualmente merece tal posição já que fez isso ou aquilo no passado.
Nessa linha de pensamento, talvez achem justo uma pessoa hoje estar mendigando, pois, no pretérito, ela deve ter abusado da riqueza.
 
Tais comentários e raciocínios realmente não são difíceis de verificar durante nossas conversas aqui e acolá.
Fica evidente, analisando essas opiniões e afirmações, uma grande incapacidade de compreender o que é a reencarnação.
 
Pessoalmente posso falar um bocadinho da doutrina reencarnacionista, pois estudei bastante o assunto, com imparcialidade e seriedade, quando resolvi um dia explorar a Literatura Espírita, podendo, então, conhecer as informações sobre o assunto e refletir muito sobre as implicações envolvendo essa teoria.
 
4- Posso resumir o seguinte:
 
A reencarnação faculta uma nova oportunidade ao ser imortal, o espírito, que segue uma trajetória evolutiva vivenciando várias existências terrenas.
Numa etapa ele será Fulano, noutra será Beltrano, em mais uma será Sicrano.
Ele terá um número indefinido de oportunidades na Terra, possuindo um longo caminho rumo a sua evolução que durará o tempo o qual cabe apenas a ele definir conforme os seus atos.
Ele, o espírito, o ser imortal, é o mesmo habitando várias roupas nas diversas jornadas corporais.
 
À medida que as vidas físicas acontecem, obviamente o espírito fica mais inteligente e moralizado.
Isso explicaria a diferença entre o selvagem, sedento pelo alimento, igualzinho a qualquer animal carnívoro, e o homem dito civilizado, sedento por livros e conhecimentos.
O selvagem seria um Espírito começando a caminhada.
O outro homem já avançou alguma etapa.

Vale ressaltar, porém, que alcançar o patamar da civilização é apenas o primeiro passo, pois o objetivo da reencarnação é desenvolver, ao lado das informações intelectuais e da sabedoria científica, as virtudes e o exercício pleno do amor.
Meditando a respeito dessa afirmação, perceberemos que a humanidade ainda engatinha nesse sentido, ou seja, os espíritos evoluídos aqui constituem raros exemplos que chamam demais a atenção quando nos concedem o benefício da presença no nosso meio tão inquieto e agressivo.
 
As vidas sucessivas podem acontecer noutras esferas do Universo, porém permaneçamos apenas com a informação de que há várias vidas no ambiente terreno.
Discutir todos os detalhes não é conveniente.
 
5- Após esse resumo, logo surgirá o questionamento sobre o crescimento populacional.
Se os espíritos reencarnam, por que a população sempre cresce?
Não deveria haver uma quantidade limitada de pessoas justificando as idas e vindas dos mesmos espíritos?
 
Respondendo a essa questão, devemos considerar que Deus cria continuamente espíritos, portanto há os novos que estão chegando ao lado dos antigos que estão reencarnando.
Eis o ir e vir contínuo de diversos Espíritos na nossa querida Terra, justificando, então, uma população que não cessa de crescer.
 
Quando alguém apresenta essa refutação, ela está dizendo que Deus cria o ser exatamente no ato da concepção, portanto Deus está criando o tempo todo espíritos novos, daí a população sempre aumentar.
Os reencarnacionistas concordam que Deus o tempo todo cria espíritos, porém a primeira vez desse ser não está no ato da concepção. A jornada do ser espiritual já começou antes.
Nossas crianças civilizadas sempre serão espíritos retornando, que já possuem uma história, que já realizaram ações no pretérito, que já trazem uma bagagem.
 
Eis o que interessa saber se aceitamos a reencarnação como uma realidade ou queremos somente saber o que tal doutrina afirma.
 
6- Justificar o mal como um efeito justo do pretérito constitui uma enorme bobagem de quem o faz.
Como saber se o problema está sendo inédito ou se o mesmo possui sua raiz no passado?
 
Qualquer situação pode ser exatamente a primeira oportunidade que, caso a desprezemos agora, causará danos que podem alcançar uma existência futura se não encontrar sua solução nessa etapa.
Talvez o sofrimento alheio apareça ao nosso lado exatamente para que sejamos a causa do alívio imediato.
Se a gente imaginar que o sofredor merece o sofrimento jamais ajudaremos o infeliz.
 
É importante saber que estamos construindo hoje o nosso porvir, portanto é bem interessante somar ações bondosas e edificantes para que o nosso futuro seja o mais agradável possível.
 
Saber quem fomos também assinala uma grande perda de tempo.
Se não recordamos o nosso pretérito, Deus quis assim.
Devemos respeitar a decisão da Providência.
 
Imaginemos que, recordando o nosso passado, verifiquemos que alguém hoje muito estimado nos fez um grande mal na vida anterior.
Como reagiríamos?
Tal relação seria abalada ou fluiria com a mesma espontaneidade que o véu do esquecimento possibilita?

Constatando a nossa incapacidade de esquecer os erros alheios ou de oferecer uma nova chance aos arrependidos, com certeza saber certas atitudes da jornada evolutiva dos outros causaria um lastimável mal-estar nas relações sociais.
 
Enfim, o que interessa considerar, caso aceitemos a teoria reencarnacionista, é que precisamos fazer o bem e evitar o mal.
É fundamental viver em harmonia e considerar que todos os nossos atos estão elaborando nossas condições futuras.
Exercitar o bem ganha assim uma aplicação efetiva e prática.
 
Discutir quem fomos assim como tentar definir as situações alheias ao redor, utilizando nossas análises precipitadas, preconceituosas e incompletas, é pura tolice.
 
7- A opinião daqueles que acreditam numa única vida é bastante conhecida.
Todos já ouviram falar, pois esse discurso alimenta as convicções tradicionais da religião e são defendidas pela maioria das pessoas, religiosas ou não.
Crescemos escutando essa opinião repetida, entre outros, pelos católicos e evangélicos.
 
Conseqüente a tal opinião surge a ventura total ou a desdita sem fim após a morte do indivíduo, ou seja, não haverá novas vidas rumo à evolução.
A sorte futura terá sua definição exatamente após abandonarmos o palco terreno.
 
Há algumas complicações oriundas dessa idéia.
 
Tal teoria não explica a grande desigualdade existente entre os recém-nascidos.
Por que alguns, desde o nascimento, são tão inteligentes?
Por que outros são tão toscos?
Por que alguns nascem num ambiente de riquezas enquanto outros conhecem apenas a miséria extrema?
 
São algumas questões bem difíceis de entender, porém imaginar o porvir sem a possibilidade de retorno também causa polêmica.
Levando a sério tal pensamento, concluiremos que a grande maioria habitará o inferno.
Apenas uma minoria da humanidade conhecerá as delícias do Paraíso.
Para complicar mais ainda, esse destino é irrevogável, ou seja, não adianta se arrepender quando estivermos no inferno.
A ocasião para o arrependimento, segundo essa opinião, é somente agora.
 
Peço licença para questionar o seguinte:
 
Por que não adianta se arrepender depois da morte?
Por que Deus não poderia oferecer mais uma chance?
Por que tamanho rigor do Pai celestial?
 
Conforme disse no início, minha intenção não é defender uma opinião específica, porém quero revelar uma crítica enfática aos defensores desse juízo definitivo associado a uma única existência corporal.
 
Eu imagino que, caso lançássemos uma enquete especial na qual as pessoas teriam o direito de definir se o espírito, depois da morte corporal, poderia ter outra chance ou não, veríamos uma boa parte delas dizendo:

Não!
Nada de nova oportunidade!
Inferno neles!
Que queimem os patifes e hereges para sempre!
 
Sei que é pesado o que estou dizendo, no entanto essa é a impressão que nutro na minha alma inquieta por respostas e apaixonada pelo ato de filosofar.
 
A grande maioria simplesmente quer que seja assim!
Ou Inferno ou Céu!
Se elas pudessem escolher, não dariam uma nova oportunidade a ninguém!
Seriam implacáveis na aplicação das sentenças!
 
Assim pensam os homens e agem, nesse mundo tão egoísta e violento, porém será que Deus também age assim?
Quem ousaria responder que sim?
 
Citarão a Bíblia, mas a doutrina de Jesus ressalta o amor, o perdão, a esperança.
Esse clima de terror que muitos defendem nada tem a ver com os exemplos nem as lições oferecidas por Jesus.
 
8- Tentando conciliar alhos com bugalhos, eu sugiro, meus queridos, que as pessoas admitam que Deus dá uma nova chance, porém tal oportunidade não seria necessariamente uma nova vida corporal, ou seja, é possível que Deus conceda a via da reabilitação sem que a alma reencarne.
 
Haveria assim alguma região destinada a essa purificação efetuada pelos espíritos que se arrependerem depois da morte física?
Haveria alguma espécie de purgatório no além conforme citam os católicos?
Sinceramente não sei.
 
Somente quis esclarecer que o meu objetivo não é defender a reencarnação.
Entendam também essa sugestão como uma espécie de provocação.
 
O que me parece muito evidente é o despreparo das pessoas quanto à compreensão das vidas sucessivas ou da única existência nos ofertada por Deus.
 
Muitos reencarnacionistas vivem preocupados com a possibilidade de um dia terem sido Cleópatra, Júlio César ou qualquer outra personalidade famosa.
Vários que negam a reencarnação, segundo o que costumo observar, demonstram uma intensa raiva ou oferecem um excessivo fardo ao seu semelhante, radicais demais quando o assunto é perdoar ou conceder uma alternativa suscitando a reabilitação.
 
Quem está com a verdade?
Levando em consideração essa forma de pensar, ambos estão bastante errados.
 
9- Penso que o importante é fazer aos outros o que desejamos que os outros nos façam.
Essa orientação não instiga dúvidas nem debates.
 
Dando guarida a esse princípio nos nossos pensamentos e o exteriorizando nos nossos atos conforme sentimos, estaremos gerando um porvir maravilhoso, ocorra ele no Céu ou numa vida futura tranqüila.
Além disso, saberemos conviver bem e desenvolver a justiça ao nosso redor.
Não há, quanto a esse aspecto, o que contestar.
 
O resto pode gerar especulação, censuras, contestações, porém não acalmará as angústias que tanto acompanham o indivíduo e só está relacionado a discussões infrutíferas.
 
10- Resumindo:
 
Se há vidas sucessivas, devemos nos preocupar em fazer o bem a fim de desfrutar, na nova oportunidade corporal que virá, uma existência feliz.
Se há apenas essa vida, devemos nos preocupar também em fazer o bem, garantindo a paz quando nossos corpos sucumbirem e estivermos enfrentando o grande julgamento.
 
Efetuar um debate, definindo quem está com a razão, me parece desnecessário se, quanto ao principal, aqueles que defendem uma ou outra opinião estão no mesmo barco, ou seja, ambos estão convidados a evitar o mal, realizar o bem e desenvolver as virtudes.
 
Esquecer o que é fundamental, gerando discussões improdutivas, imaginando quem fomos no pretérito ou desejando ver nossos desafetos no inferno, revela apenas que valorizamos o descartável, estamos habituados à falta de reflexão e persistimos correndo o risco de perder o hoje, essa preciosa oportunidade nos oferecida para que alcancemos, sem tardar, o Reino dos Céus, a recompensa obtida pelas pessoas que amam o próximo como a si mesmas e a Deus sobre todas as coisas.
 
Um abraço!
Ilmar
Enviado por Ilmar em 26/08/2012
Reeditado em 27/08/2012
Código do texto: T3849953
Classificação de conteúdo: seguro