Para ser escritor

Para ser escritor neste país é necessário muito mais do que amar a escrita, do que ter a cabeça fervilhando de histórias, é necessário ser imune à desmotivação. É, é isto mesmo. O camarada precisa ter uma “capacidade imensa” de ficar livre da desmotivação. Afinal o que não falta são motivos para desistir. Só de pensar que raramente um escritor no Brasil chega a vender o suficiente para “viver” da escrita, e, exatamente por isso, a maioria tem de fazer uma dupla ou até uma tripla jornada de trabalho, já é motivo suficiente para deixar qualquer um desanimado. Mas o que é ainda pior é que, ao fazer dupla jornada de trabalho, não sobra tempo para o escritor, sobretudo “o novo” escritor, freqüentar os eventos literários necessários para divulgação de seu trabalho; fato esse imprescindível para qualquer que seja o profissional. Aliás, não adianta em nada fazer um baita trabalho e deixá-lo na gaveta. Além disso, esses “eventos” não servem apenas para auto-divulgação mas sim, e principalmente, para a interagir com outros escritores que, com certeza, enfrentam problemas semelhantes.

Outro problema que causa profundo desânimo é a falta de perspectivas de um novo autor conseguir uma editora que invista em seu trabalho, porém mesmo depois de conseguir editar seu livro (seja por conta própria ou porque milagrosamente conseguiu uma editora que publicasse sua obra) o escritor ainda tem de enfrentar a falta de distribuição, a falta de divulgação, a falta de espaço na mídia, problemas para colocar o livro nas livrarias (principalmente se o escritor publicou por conta, pois, neste caso, a maioria das editoras “por demanda” não se compromete com a distribuição em livrarias).

Sendo assim, você deve estar se perguntando por que então insistir neste ofício tão lânguido e desprezado. Ora, porque escrever para o escritor não é uma preferência, é uma necessidade! Idéias e personagens pipocam em sua cabeça e você tem de dar-lhes vida, libertá-los... Libertar-se.

"Escrevo por não ter nada a fazer no mundo: sobrei e não há lugar para mim na terra dos homens. Escrevo porque sou um desesperado e estou cansado, não suporto mais a rotina de me ser e se não fosse a sempre novidade que é escrever, eu me morreria simbolicamente todos os dias". Clarice Lispector.

[Texto originalmente publicado no blog http://palavreando.zip.net]

Janethe Fontes
Enviado por Janethe Fontes em 19/02/2007
Código do texto: T386311