FALTA MAIS UM EM NURENBERG

Um marido, julgando-se traído, contratou um detetive para seguir a mulher. Este voltou com o seguinte relato: “Vi sua mulher ir a um quarto de motel com um homem. Espiei pelo buraco da fechadura e vi os dois se despirem. Ela tirou a calcinha e com esta tapou o buraco da fechadura e eu nada mais vi.” O marido está em dúvida até hoje porque não pode comprovar a traição.

O julgamento do mensalão ainda não terminou e o país demonstra avidez em passar outras páginas a limpo. O jornalista David Nasser é o mais lembrado por causa do seu livro “Falta Alguém em Nürenberg” onde sugere que o no famoso julgamento dos criminosos nazistas deveria fazer parte o brasileiro Filinto Müller que como chefe da policia nacional deportara Olga Benário e promovera “eliminações físicas” contra comunistas e desafetos do governo de Getúlio Vargas.

A coragem do relator do STF, Ministro Joaquim Barbosa com certeza influenciou seus pares a darem um basta nos criminosos de colarinho branco, muitos deles eleitos pelo voto popular. O Supremo, na verdade, apenas endossou o que o Brasil todo estava cansado de saber. Contudo, talvez esteja mandando para a prisão pessoas que ontem autorizavam a construção de presídios. Talvez alguns desses senhores lamentem que o superfaturamento destas obras não resultou em nenhum conforto extra. Mesmo fora da prisão perderam para sempre a credibilidade e irão para a história como vilões.

Se, por um lado, o povo brasileiro está apaziguado e não exija a presença do ex-presidente no banco dos réus, não isenta a este de culpa, uma vez que tudo aconteceu quando ele era o responsável por toda a nação. O senhor Lula continua interferindo em todos os setores do governo como se ainda fosse o chefe supremo da nação brasileira. Como de costume, parece não se sentir desconfortável vendo alguns de seus assessores da época ser condenados. A ficha ainda não caiu para grande parte dos brasileiros que o venera como líder que veio de baixo. Quosque Tamden, Senhor Lula?

No fundo ninguém aceita que um Presidente de uma nação que teve seu chefe da Casa Civil, o presidente e tesoureiro de seu partido, o presidente da Câmara Federal, marqueteiro da campanha, publicitário das estatais, churrasqueiro, cabeleireiro, irmão, filho, e muitos e muitos outros próximos a ele envolvidos em falcatruas, diga que “não sabia de nada”. Não se pode deixar de comparar com verdadeiros estadistas pelo mundo, como Willy Brandt, prêmio Nobel da Paz, que renunciou ao cargo de Chanceler do Governo alemão quando descobriram um espião em seu gabinete. Ninguém o acusou de conivente, mas ele declarou: “Se não consigo controlar o próprio gabinete, como vou dirigir um país?”

A maioria dos brasileiros não quer o senhor Lula no banco dos réus. Provavelmente, sua ficha de serviços seja muito maior que a de desserviços. Contudo, ele poderia deixar de tratar a todos os brasileiros como idiotas. Poderia, a exemplo do Chanceler alemão, retirar-se da vida política e aposentar-se enquanto os “maridos traídos” não despertem para a realidade de que não lhes faltam provas. Que afinal, ir a um motel aonde se vai com intenção determinada, trancar-se em um quarto com companhia de estranho(a) e ficar sem roupa já é crime suficiente para senhores(as) casados(as) de quem se espera um mínimo de virtude.