A DIVINIZAÇÃO DA AUDIÊNCIA: SÃO JORGE VERSUS REI DAVI.

Acabou a Av. Brasil, mas na Medina virtual, Nina e Carminha, travestidas de doutrina crista e liberdade religiosa, trocam ofensas defendendo interesses financeiros escondidos pelos panos dos altares, num embate de fé que provoca fedentina intelectual.

O Brasil sempre se gabou de sua hipocrisia religiosa. Aqui a fé sempre teve conotação financeira: Os bons eram ricos e os pobres tinham o direito de herdar reino dos céus. A macumba era até então o último e mais sagrado estágio da fé.

Quando os padres e pastores se perdiam tentando compreender as conseqüências de determinado problema recorria-se as mães de santo e estas acabavam com as causas. Era tudo muito claro, mas em se tratando de Brasil, devemos compreender que a clareza sempre veio matizada pelos tons enegrecidos do barroco mineiro, parda como a cor de nossa pele cabocla e, rodeado pelos anjinhos mulatos de Athaíde...

Mas o capitalismo precisou expandir-se e a grande nação formada pelos degredados da Europa, pelos exilados da África e esquecidos das Américas precisou ser reinventada... Infelizmente seguimos os moldes impostos pelos sobrinhos do Tio Sam.

Do norte desceram os demônios pentecostais trazendo a tal teologia da prosperidade que prega a resilencia à corrupção, mas é pior do que a inquisição espanhola quando o assunto é sexo e liberdade religiosa.

A tal teologia da prosperidade é tão perniciosa que chegou a influenciar a macumba.

Outro dia vi nos classificados de um jornal a foto de uma figura escatológica com sobrancelhas de rena, afirmando ser o tal pai não sei das quantas de Maria Padilha... A criatura prometia trazer a pessoa amada em 45 minutos. O “time is Money” já se tornou critério até para pombas Giras e Malandros...

- Que saudades dos pretos velhos e dos erês de minha infância – pensei.

Esta embolação se contrapõem a conscientização dos direitos civis, da liberdade religiosa e ao critério do livre arbítrio...

Somos uma geração carente, desesperada por viver experiências cinematográficas, e sabendo disto os abutres da fé nos oferecem um Deus que oscila entre a porta da esperança de Silvio Santos e o Lar doce Lar de Luciano Hulk... Um deus generoso com os que lhes são submissos e pior do que os coronéis de Jorge Amado com os que ousam pensar por si mesmos...

O resultado é a briga que assistimos pelas redes sociais. Evangélicos vociferam contra um dos santos mais populares do Brasil e o pessoal da cultura manda os evangélicos irem trabalhar nos feriados religiosos. Um tema que deliciaria João Trinta.

Mas toda esta celeuma tem como fundo um único motivo: a briga pelos patrocinadores do chamado horário nobre. Temos uma nova classe C. Uma fatia do mercado de consumo e o Bispo Macedo está de olho.

A Record está aproveitando o espaço entre o final de uma novela e deslanche de outra para conseguir audiência e para isto colocou no ar “ O Rei Davi”. A mensagem subliminar da Record é “Davi é um rei bíblico...São Jorge é Ogum...”

No fundo estamos servindo de soldados numa batalha entre o Bispo Macedo e o clã dos Marinhos... A disputa não é religiosa é financeira...

Por isto, quando começar o tal horário nobre desligue a TV e vá ler Cervantes que é muito mais nobre...