Ilusão pelo grande centro

Nos dias atuais, ainda se vê muita gente que vive no interior, acalentando o sonho duma vida mais digna e menos sacrificada na cidade. Como exemplo maior, temos os nordestinos que migram para o sudeste, em maior quantidade para São Paulo. E não vai só o nordestino, vai também o homem do norte, do centro e até do sul, lembranças consigo carrega, do seu torrão, do seu chão. Dos seus. Mas leva ele também, um montão de esperanças no coração. Com tudo isso, com mala e cuia ele chega. Chega para ficar.

Bem, antes de adentrar no assunto propriamente dito, obviamente sabe-se, que nem sempre os que convergem para uma grande cidade se dão mal. Têm mais chance o sonho de melhoria de vida tornar-se realidade, os que estudam e aproveitam as oportunidades, os que se especializam. Os que possuem a persistência necessária para alcançar o sucesso. De qualquer forma, há os que acreditam em destino e dizem que cada um já nasce predestinado para determinado tipo de vida.

Pois bem, lá vem ele, o homem do interior....

Luzes e mais luzes, brilho que ofusca, ilude e atraiçoa. Brilho que por vezes, faz parte do ditado que diz: “nem tudo que reluz é ouro”, as do firmamento, são estas, as verdadeiras.

A paisagem, já não é mais a mesma, as matas, lá longe ficaram, os campos verdejantes, aí também não estão. O rio límpido e cristalino, aí também não se encontra, nem o cumprimento do amigo que passa. No lugar, ruas e largas avenidas, tudo asfaltado. Concreto e mais concreto, a perder de vista, que se ergue imponente por todos os lados. E essa correria? Por que correm tanto? Para onde vão com tanta pressa? Não aprenderam a caminhar? E no meio disso tudo, quanto barulho! Santo Deus, carros e mais carros, como conseguem dormir?

Depois de passado o deslumbramento e o impacto do primeiro momento, segue o migrante em frente, com a certeza de que sua vida vai melhorar. Aos poucos, com o passar dos meses, começa a perceber a sua dura realidade. Se emprego conseguiu, é mal remunerado por causa da sua baixa escolaridade. Precisa acordar de madrugada e tomar dois ônibus para chegar ao seu trabalho. Ou então, o que é bem pior, vem a meses vagando pela cidade sem nada conseguir. Para sobreviver, um bico aqui, outro ali. Em outra ocasião, outro acolá, longe. Vida dura essa.... Se família, filhos menores possui, mais angustiante se torna, pois não consegue o suficiente para dar uma vida digna. Se para a cidade grande foi com ou sem familiares, à medida que o tempo vai passando, o coração vai apertando....É a saudade que vai se instalando. Saudade da sua terra, da sua gente, do seu povo. Até da seca saudade sente, pois sabe que no meio daquilo tudo (ou do nada), seco não é, o coração dos que lá deixou.

Anos já transcorridos, de saudade, lágrimas tantas já escorridas, mas ele continua ali. Continua ele presenciando o brilho que é do outro, no meio da vitória que não alcançou. Junto ao sonho que há muito já se desfez. Luta, muita luta houve, a tentativa de aprendizado, alguma coisa aprendida. Mas mesmo assim, acabou contribuindo para estufar ainda mais o cinturão de miséria que na cidade grande já existia. Está o homem que do interior veio, no meio da favela, no morro, debaixo do viaduto. Sua morada resume-se a isso. Os filhos, alguns quantos, sabe-se lá por onde andam, perambulando pelas ruas, vendendo balas no sinal.

Sonhos de outrora desfeitos, há muito a constatação de que ali não é o seu lugar, ele quer voltar. Seu maior sonho é outra vez rever os seus, pisar no solo tão amado, retornar. Mas como? De que jeito se não há condição financeira para a condução, para a passagem. Continuam então as cartas, que vão e que vêm, uma forma mais “em conta” de amenizar um pouquinho a saudade que sentem. Até que num belo dia o milagre acontece. Talvez algum patrão, ou uma alma caridosa os ajudem a voltar.

E eis que retornando estão, durante a viagem, um misto de ansiedade e uma imensa alegria no coração. A alegria de poder voltar, de rever os seus, de rever seus pais. O seu maior sonho está enfim, se realizando. Ao descerem do carro, defronte da casa humilde, um casal de velhinhos, já de cabelos brancos aguarda. Ao ver o filho querido chegando, a mãe mentalmente eleva uma prece aos céus. Obrigado meu Deus, minhas preces foram atendidas, meu filho voltou!