1- Quando uma pessoa diz que chegou ao fundo do poço, ela tem a sensação de que não há nenhuma saída para o seu problema.
Segundo ela não existe um sofrimento tão significativo quanto aquele o qual está sendo vivenciado.
Parece impossível ocorrer o mínimo de alívio.
A vida perde o sentido e a pessoa acha que tanto faz, tanto fez.
 
Nos meus estudos sobre o assunto, verifiquei algumas causas favorecendo tal desalento íntimo, no entanto, na esmagadora maioria das vezes, o que estimula esse estado emocional de total infelicidade é a denominada desilusão amorosa.
 
Podemos afirmar que, se não existissem as desilusões amorosas, essa expressão logo deixaria de ser utilizada e certamente cairia em desuso.
Se alguém fala que chegou ao fundo do poço, pode apostar que o coração dele experimenta uma forte dor no campo amoroso.
 
Compreendendo assim, o meu artigo pretende propor uma reflexão destinada a quem acredita estar no fundo do poço afetivo.
Bastante otimista, eu imagino, no final do artigo, modificar a triste visão que esses pobres apaixonados alimentam agora.
 
2- A desilusão amorosa acontece após a pessoa amada desprezar o seu pretendente ou a sua pretendente.
A imagem da mulher ingrata ou do homem insensível passa a perseguir quem sofre o desprezo, causando uma tristeza profunda demais que nunca desaparece.
 
Enquanto esse sofrimento nutre as entranhas do homem preterido, ao lado dele existe uma mulher supergostosa que nunca alcançou a coragem necessária para declarar o gostar, uma gata com curvas bem especiais, diferente da gordinha que resolveu abandoná-lo.
A mulher ignorada deixa de perceber um rapaz simpático e charmoso perto do seu lar, sem a barriguinha que o pinguço, o ex, possuía.

3- “Ilmar, nós não estamos interessados nos atributos físicos. Preferimos observar as qualidades da pessoa amada, destacando o conteúdo muito mais do que a forma!”
 
Considero bonita demais essa opinião, no entanto, verificando o “conteúdo” de quem optou pela separação, seremos forçados a enxergar algumas verdades muito duras.
 
O homem recordará que sua ex não sabia cozinhar. Ela nem sequer acertava fritar um ovo.
Costumava reclamar do excesso de peso, porém nunca deixou as guloseimas, os sorvetes e refrigerantes.
 
A vizinha gostosa, não! Ela faz academia, procura desenvolver uma alimentação saudável, possuindo assim um corpo fantástico.
 
4- Com um pouco mais de atenção, o cara que está no fundo do poço, sem lograr esquecer a gordinha, recordará a sogra chata acompanhando a filha o tempo todo, conversando mil bobagens, atrapalhando os diálogos que ele tentava ter com a ex-namorada. Uma verdadeira mala sem alça!
Nos momentos do cineminha caseiro, o cara lembrará que foi obrigado a assistir “Uma  Linda Mulher” mais de vinte vezes.
Não adiantava sugerir outro filme!
“Querido, vamos ver de novo Uma linda Mulher? Eu adoro!”
 
Na hora H, quando a sogrinha dava uma folguinha e era possível a namorada dar, ele disfarçava como se não tivesse percebido ela soltando gases.
A situação era desagradável demais, porém, animado com a brincadeira, o rapaz tolerava.
 
5- A vizinha gostosa e carente age diferente.
Acostumada a alimentos menos calóricos e “pesados”, não existe essa história de soltar gases.
Os pais viajam muito, sobrando tempo para curtir o namoro sem qualquer embaraço.
A moça gosta de bons filmes, não é melosa como a outra, sabe apreciar vários estilos.
Além disso, ela prepara pratos deliciosos.
Eu descobri que domina as receitas baianas.
A fofa faz um vatapá!
Ah! Que vatapá!
Quem prova o vatapá dela não esquece nunca mais o sabor!
 
Concluímos que a vizinha gostosa e carente tem tudo para satisfazer o sofredor desprezado.
Por que perder tempo chorando por causa de uma gordinha que não sabe cozinhar, elimina gases nos instantes da "brincadeira", é filha de uma mulher chatérrima e evidencia um gosto cultural peculiar aos retardados?
 
6- E as mocinhas?
A realidade delas parece ser muito mais delicada!   
 
O rapaz que recomendei trabalha, faz faculdade, conserva o hábito de ler um livro mensalmente, demonstra ter um papo bem bacana.
 
Já o ex que agora faz a donzela chorar não trabalha, vive recebendo o bolsa-vagabundagem oferecido pelos pais, gosta de ler algumas revistinhas do Batman, usa brincos e faz depilação.
 
Talvez vocês estranhem o meu comentário sobre o uso de brincos, mas eu cresci num tempo em que somente as mulheres usavam brincos.
Fazer depilação é um pouco demais, não?
 
Mas, abandonando a minha cisma, há duas características que não posso perdoar.
 
Quando o cidadão abre a boca, ele diz sete palavrões pronunciando dez palavras.
O cara tem uma mania de cuspidela a qual nunca abandona.
Sempre ele vira o rosto para cuspir.
Pode ser no chão, no baldezinho usado para colocar lixo, em qualquer lugar. O negócio dele é cuspir.
Às vezes, na hora dos beijos, ele pede licença para dar uma cuspidinha.
Que nojo, hein?
 
7- Percebam bem!
A princesa desprezada chora querendo rever um vagabundo que usa brincos, curte uma depilação, exercita o hábito de cuspir sem parar, apresenta uma enorme dificuldade de articular uma frase e nunca leu um livro.
 
Eu prefiro poupar os leitores deste artigo de conhecer os hábitos alimentares desse animal e suas preferências culturais.
 
Ao lado dela, entretanto, existe um sujeito dedicado, trabalhador e dono de um excelente papo.
 
Vale a pena sofrer pelo outro?
 
8- Alguém dirá que, ainda assim, não consegue esquecer o ex ou a ex, que gosta dele ou dela exatamente do jeitinho que ele ou ela é.
 
Escutando essa asneira, eu preciso ressaltar que, independente da falta de qualidades e atributos deles, eles te deram um pé na bunda.
 
Você, mocinha, foi desprezada!
Você, rapaz, também foi desprezado.
 
Se vocês preferem sofrer por quem não quer mais saber de vocês, permaneçam no fundo do poço, chorando pela gordinha que elimina gases cheirosos ou pelo rapaz que beija e cospe, cospe e beija.
 
Eu quis ajudar, contudo, a decisão de continuar sofrendo é um direito o qual precisa ser respeitado.
 
9- Falarei agora apenas para as mocinhas e os rapazes que, refletindo sobre os detalhes que destaquei, perceberam que não perderam grande coisa e decidiram, então, dar uma oportunidade à gostosa prendada e inteligente ou ao rapaz quase perfeito.

Eu garanto que, cerca de dois dias depois, vocês estarão mais animados e sorridentes.
É batata!
Na semana seguinte, se alguém lhes perguntar sobre o fundo do poço, vocês responderão imediatamente:
“Que poço?”
“Eu não sei onde fica a entrada do poço, muito menos o fundo dele!”
 
Tudo ganhará outra cor, os antigos melancólicos admitirão que a desilusão amorosa de outrora foi a melhor ocorrência de suas vidas.
 
10- Dialogando com vários indivíduos que superaram a fase de desalento extremo aproveitando as minhas preciosas observações, eu fiquei sabendo que os ingratos e insensíveis, após notarem que o seu preterido ou a sua preterida estavam muito bem, tentaram uma reabilitação.
Eles imploraram uma segunda chance, disseram que descobriram hoje o que perderam tanto no aspecto físico como no subjetivo.
 
Mas não dá mais!
A fila andou!
 
A pessoa que, no pretérito, instigou uma tremenda angústia, sem suportar o desprezo de quem antes ela desprezou, segundo alguns relatos, vai parar exatamente lá, no bendito fundo do poço.
O feitiço muda e acaba atingindo o feiticeiro.
É interessante, não?
 
Tentando demonstrar solidariedade, devemos torcer para que a pessoa não seja um palmeirense ou uma palmeirense, pois, caso contrário, o poço será fundo pra caramba.
 
Um abraço!








 
Confira o meu acróstico “Eu vou orar”!
Eu, abatido com as poucas leituras, posso chegar ao fundo do poço!
Por favor, evitem isso!

http://www.recantodasletras.com.br/acrosticos/4014020
 
Um abraço!

 
Ilmar
Enviado por Ilmar em 01/12/2012
Reeditado em 04/12/2012
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