Incômoda Imagem

Para retratar a seca do nosso sofrido Nordeste, os jornais estampam em sua capa a imagem de uma caveira de boi ou vaca e, ao lado, um sertanejo de olhar triste. Retrocedo no tempo e me vejo no sertão do São Francisco, onde teve início um projeto de irrigação que seria a redenção do sertanejo. Vi a técnica israelense com seus projetos experimentais, trazidos pela SUDENE, produzindo verdes campos numa área onde antes só se via o chão estorricado. A minha esperança se robustecia, achando que nunca mais iríamos depender da vontade de São Pedro. Sim, este é o padroeiro da chuva na crença nordestina.

Já contando com a energia da CHESF, Companhia Hidro Elétrica do São Francisco, com água e terra abundantes, e com aquela tecnologia avançada, não imaginava que os nossos governantes desperdiçassem a capacidade do homem para enfrentar as intempéries da natureza. Começando ali, ainda na gestão do presidente Getúlio Vargas, através do seu ministro da agricultura, Apolônio Sales, o INIC, Instituto Nacional de Imigração e Colonização, foi o pioneiro da agricultura irrigada no Vale do São Francisco, mais precisamente no município de Petrolândia, sertão de Pernambuco. E esse KNOW HOW foi exportado para Petrolina, hoje a região mais próspera do São Francisco.

E ainda assim o sertão do Nordeste continua castigado pela seca. Projetos faraônicos que nunca são concluídos, a exemplo da transposição do São Francisco, que já gastou o dobro do orçamento inicial e menos da metade construída, arrefecendo a esperança do nordestino.

Em nossa Alagoas, o propalado CANAL DO SERTÃO, que a cada ano de eleição ganha um PAI diferente, continua a passos de tartaruga.

Lamentavelmente, ainda vamos ver muitas dessas imagens chocantes: o olhar triste do sertanejo, condoído pela perda de seu animal abatido pela fome e pela sede, por omissão de quem detém o poder político. Projetos eleitoreiros que devem se arrastar por longo tempo para servir aos mais escusos interesses.