Feliz natal

Entre vivências e estudos, sempre considerei a amizade representante supremo daquele máximo sentimento de afeição e respeito que consideramos amor.

Claro que não estou falando do Amor como ele é, mas como o idealizamos em sua forma pura – já que, influenciados pela tradição Cristã, também apreendemos que Jesus Cristo foi “único” capaz de tornar carne os melhores verbos. Entre eles, o verbo “amar”.

Mas eis que, graças ao Cristianismo, entre outras ideologias espiritualistas humanistas inclusivas, a maioria de nós é um tanto melhor hoje do que os que vieram primeiro. Há ainda percentual considerável de barbaridade em alguns, mas, no geral, domamos os demônios que nos constituíram e, agora, mesmo que eventualmente continuem a aflorar a nos por na condição de “anjos caídos”, marchamos à realização da Humanidade – meta ainda secundária à realização da divinização que a imaginação, associada à boa vontade, nos impôs como condição máxima a formas de vivências qualitativamente superiores da Vida.

Assim considerando, então, sinto que a amizade é o que de melhor podemos dar e receber como manifestação de pelo menos uma sombra do Amor entre nós possível – embora às vezes se diga tão rara quanto Ele a ponto de fazer existir a expressão “verdadeiros amigos”; como se pudéssemos ser amigos falsos. Porque ou se é amigo ou não se é, e então há na expressão “amigo verdadeiro” uma espécie de paradoxal redundância do inapropriado – assim como não se deve dizer que “o ser humano é um canalha”: ou se é humano ou um canalha, sendo “canalha” expressão primária de uma potencial desumanidade ainda presente em alguns que, influenciados por vontades ancestrais associadas a más vontades políticas, tenderiam fazê-la evoluir até ser responsável pela depredação vampiresca de tudo que existe vivo no Universo.

Depois desta breve explicação sobre como penso dever ser a amizade à efetivação da expressão de um bom percentual do Amor e, por tabela, da Humanidade, devo dizer que este breve comentário foi motivado pelas recentes discussões que tenho presenteado entre “amigos” por conta de política partidária, uma das três questões que podem transformar o ideal de Amizade em pretexto para uma guerra, como discussões sobre a superioridade de times de Futebol e sobre a Verdade, defendida por certas crenças religiosas, crentes em suas ideias “originais” sobre a feitura e administração da Vida, em detrimento da “validade” de outras visões do caso.

Creio não ter inimigos por raramente ter entrado em discussões sobre tais assuntos. Quando associadas a preocupações econômicas, então, me excluo das rodas onde eles são o motor contínuo das conversas (mas onde me encontrarão, então?), tendo meu foco de interesse mais a ver com a dimensão das expressões culturais de modo geral e o sentido da Arte como colaboradora da invenção de outros sentidos à Vida, e de nós mesmos; onde não apenas uma pintura, uma música, uma peça de Teatro, um filme, uma apresentação de Dança, um livro, mas também tudo formado pela civilização (forjado pela sensibilidade, pela imaginação e pelas técnicas) sejam consideradas obras de artes – incluindo a Pornografia, a Política, os esportes e nossos próprios “Z’eus”, sendo a maior realização artística, concordando com o filósofo alemão Hegel, o ser plenamente humano.

Sei que muitas pessoas não podem considerar assim. Elas não têm minhas vivências e minhas leituras e a Vida é mesmo muito mais do qualquer um possa saber sobre ela. Mas, depois de tudo o que vivi até aqui, como entusiasta auxiliar da Criação, penso poder definir o que é importante considerar no meio da enxurrada de valores que, hoje, mais do que nunca, diariamente a maioria assimila sem questionar.

Mesmo porque, além de ser também consumidor, e baseado no que apreendi ser valioso, como artista eu também sou reprodutor e produtor de certos bens, e então me sinto capaz de determinar onde atuar ao desenvolvimento de alguns que considero importantes à manutenção de certas formas da Vida; principalmente de sua realização Humana, em franca oposição àqueles que estimulam contendas e destruições do que deve ser preservado e desenvolvido a tornarem inutilmente infértil o terreno da Vida ao nascimento de suas eternas formas de ser.

Feliz natal.