REPROVAÇÃO DE MÉDICOS É BOA NOTÍCIA?

Uma notícia veiculada pela Rede Globo de Televisão, aparentemente negativa, me fez pensar no que ela tinha de boa. O Conselho Regional de Medicina de São Paulo (CREMESP) foi o primeiro do Brasil a cumprir uma nova norma – mais uma – para qualificar o médico. Mais da metade dos candidatos a médico ficaram abaixo da nota exigida, portanto, por este critério, não estariam aptos para o exercício da função. Qualquer notícia sobre a qualidade dos profissionais que mexem nas entranhas do nosso corpo causa curiosidade e esta em particular, preocupa muito. Ainda mais quando o Conselho afirma que os reprovados podem exercer a profissão.

Contudo, analisando a notícia como um todo, há dados muito positivos nela. A maioria das reprovações se refere ao modo de atender o paciente. Os médicos não consideram mais ser suficiente conhecer medicina, precisam também conhecer a reação dos pacientes à maneira como são recebidos, como os seus problemas lhe são comunicados. Nenhuma novidade para os bons profissionais. Para estes, o chamado “tratamento médico” não se restringe aos procedimentos médicos ou cirúrgicos, também à maneira como recepcionar o paciente para que este não adoeça por causa da palavra do médico. A autoridade deste é tão grande que sua palavra muitas vezes exerce um efeito maior que a própria medicação que ele receita, embora a maioria dos pacientes não confie em médico que não receita remédios, mesmo que depois não obedeça ao calendário de tomá-los.

O que o CREMESP não declarou, mas os profissionais de saúde sabem, é que há necessidade de descontruir a competição entre os pacientes para saber quem é o mais doente. Muitas vezes vemos diálogos bisonhos do tipo: “Há quanto tempo você está doente?” E o outro: “Há dois anos”. O primeiro: “Isso não é nada, eu sofro disso há dez”. A doença adquire um ar de importância para o doente. Quando uma pessoa gosta de sua doença, não há remédio que cure, a não ser que um (a) médico (a), com a confiabilidade que a profissão lhe outorga, promova a mudança mental deste paciente com palavras. Feito isso, a receita de um placebo pode ter o mesmo efeito de um tratamento caro e prolongado.

Poucos profissionais têm uma carga de trabalho tão grande quanto os médicos. Por isso, quando somos atendidos por um médico de manhã, acreditando que ele acabou de levantar da cama, descansado, podemos estar defrontando com um profissional que está encerrando seu expediente depois de doze ou mais horas ouvindo queixas, procedentes ou não, de outros pacientes. Quando não está retornando da sala de cirurgia, onde defendeu a vida de alguém. Este profissional, humanamente, está querendo se ver livre do trabalho e pode não dar a atenção que reclamamos. Contudo, isso é uma discussão com outras variantes, embora tenha a ver com o tema.

Os cursos universitários alimentam os alunos de informações e fazem testes para verificar os diversos sintomas que uma doença pode apresentar. Os Conselhos Regionais, através deste exame, acabam passando pelo crivo principalmente as instituições de ensino que formam os profissionais que vão cuidar de todos nós. É uma grande medida de defesa do consumidor.

Luiz Lauschner