O companheiro que mata

Eu tinha apenas nove anos de idade no dia da morte de meu avô, ate então eu não conhecia a morte como o fim da existência humana, e na minha maneira de pensar tudo na vida passava, e realmente passou, passaram dias, meses e anos para que eu me conformasse com a tua morte. Naquele triste dia todos estavam presentes no funeral, meus familiares, amigos e ate desconhecidos vieram de todas as partes para tomar conhecimento da causa de uma morte tão inesperada, naquela madrugada o silencio foi soberano, no meio de toda aquela multidão, e quando alguém exprimia o pensamento, o fazia em murmúrios, lamentando a morte daquele que trazia no olhar uma enorme vontade de viver.

Mais tarde fui compreender que seu maior inimigo na vida, também havia sido o seu maior companheiro, entre um café e outro ele estava presente, num dialogo entre amigos, num fim de noite e mesmo na sua solidão a pensar nas coisas mais simples da vida, o seu companheiro permanecia sempre presente, eram inseparáveis. Ate que com o passar dos anos o cultivo desta arvore deu os seus frutos, um cancro nos pulmões estava a lhe roubar as forças, a virilidade e todo o seu tempo, não fazia mais nada do que estar sentado, pois a mais simples actividade já lhe reduzia a nada, foi assim ate ouvir de um medico que o seu maior companheiro o estava a matar pouco a pouco e que já não lhe restava mais do que algumas semanas de vida, passadas essas semanas meu avô se encontrava estirado em uma cama, com a cabeça apoiada nos braços de minha mãe e com os olhos cheios de lágrimas a se despedir da família a maneira que lhe era possível, ao levantar a mão e acenar como os dedos um discreto e frágil adeus, sem uma única palavra pronunciar, tendo um fim lento e doloroso. E o companheiro de sempre que lhe tirou a vida antes do tempo ainda esta entre nós e cada vez mais presente na vida de milhões de pessoas. O TABACO e assim, muito bom ate sentirmos no corpo o grande mal que causa a nós e principalmente às pessoas que mais amamos.

Ricardo Barbosa
Enviado por Ricardo Barbosa em 10/03/2007
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