PARABÉNS, JOÃO CAETANO!

   Em 2008, enquanto no Brasil se comemorava os 200 anos de alguns eventos e famosas instituições – a chegada da Família Real ao Brasil, a fundação do Banco do Brasil e do Jardim Botânico, entre outros – perdeu-se a oportunidade de marcar o bicentenário de uma figura que pode ser considerada o verdadeiro marco fundador do Teatro Brasileiro: o nascimento de João Caetano, ator, dramaturgo, diretor e teórico do teatro.
   Os 200 anos deste mestre do teatro, nascido em 27 de janeiro de 1808 em Itaboraí, passaram em branco, mesmo sabendo-se que ele, fundador da primeira companhia genuinamente brasileira de teatro, dá nome a vários teatros em todo o país. Há, praticamente, um Teatro João Caetano em toda cidade de grande porte no Brasil, inclusive no Rio de Janeiro, onde uma estátua do ator recebe os espectadores, na Praça Tiradentes.
   Em Itaboraí, terra natal de João Caetano, a data também pareceu passar sem muita importância, mesmo que ele também tenha estreado aqui e que o teatro da cidade leve, merecidamente, o seu nome. Quem gosta de teatro e viu no ano passado as várias referências aos 100 anos de nascimento de Nelson Rodrigues – talvez o dramaturgo mais popular e inovador do século 20 no Brasil – sabe que João Caetano teve muito menos do que merecia. 
   Pois no próximo domingo, dia 27, não custa lembrar, João Caetano completaria 205 anos. Em 24 de agosto, chegará outra data representativa – os 150 anos da morte desse mestre do teatro, falecido em 1863. Em 12 de outubro, o Teatro João Caetano do Rio completa 200 anos. Em suma, datas para lembrar João Caetano não faltam, até porque ele teve uma carreira marcante – inovando na forma de representar, administrando teatros e companhias, vivendo nos palcos sua paixão pela vida. Não enriqueceu, porque, diferente dos tempos midiáticos de hoje, os atores de antes tornavam-se celebres, mas não tinham a TV e as campanhas publicitárias para enriquecê-los.
   Se tantos afirmam que “um brasileiro não desiste nunca”, João Caetano dignificaria muito essa pobre frase de efeito. Sua carreira foi uma verdadeira batalha, talvez lembrando os tempos em que foi soldado, na juventude. Somente no Teatro São Pedro, que depois iria se chamar João Caetano, no Rio, em que ele teve momentos fundamentais, ele teve que enfrentar três incêndios e, praticamente, recomeçar do zero. Viajou por todo o país, num tempo em que viajar, por si só, já era uma aventura. 
   Atuou na Bahia, em Pernambuco, no Rio Grande do Sul, em praticamente todas as províncias do Rio de Janeiro. Levou o teatro brasileiro a Portugal, representando com sucesso em Lisboa, já nos últimos anos de vida. Construiu e reconstruiu teatros, montou e remontou companhias, empregou atores e lutou para obter o respeito para a sua classe.
   Como conta um cronista da época, o sepultamento de João Caetano, no jazigo n.º 3.164, do Cemitério São Francisco de Paula,”teve a maior simplicidade, comparecendo todos os artistas da Companhia João Caetano e de outras companhias dramáticas existentes na cidade”. Na data de seus 205 anos de nascimento, João Caetano merece os parabéns, e pelo seu exemplo de vida, merece a preservação de seus feitos para futuras gerações de itaboraienses e brasileiros.

(Publicado no JORNAL ITABORAÍ de 25/01/2013)