TÓPICO DA HISTÓRIA DA ESCRAVIDÃO NA PARAIBA

FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR

TÓPICO DA HISTÓRIA DA ESCRAVIDÃO NA PARAIBA

FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR

O Diário de Pernambuco (1), edição de 11 de setembro de 1838, página 4, dentre os escravos fugidos, publicou:

[...]

Do engenho maraú, ribeira do rio Parahiba, propriedade do Mosteiro de S. Bento da cidade de Parahiba, fugio Bonifácio crioulo, idade de 50 annos, secco, pernas finas, pouca barba, e ja toda branca; João Baptista, crioulo, carpina, de trinta annos de idade, estatura ordinaria, cheio do corpo, e muito barbado, tem os calcanhares brancos, e pernas foveiras por queimadura de fogo de polvora, e o andar um tanto embarassado; quem os prender e leva-los ao dito engenho ao abaixo assignado, ou no Mosteiro de Olinda será saptisfeito de todas as despezas, bem recompensado: consta ao abaixo assignado que elles tem andado por Páo d’Alho, Nazareth, e Limoeiro, portanto elle roga aos seus amigos residentes n’esses lugares, toda pesquisa a respeito, e d’elles espera tal favor. Fr. Galdino de S. Ignez Araujo. (Transcremos com a ortografia da época).

[...]

Vale salientar de que o comércio negreiro nesta época era moeda corrente entre os senhores de engenho com a importação de escravos vindos da África. Aqui os negros que eram livres em sua terra natal, a África, eram escravizados e obrigados a fazerem trabalhos forçados em troca da alimentação e da senzala.

O engenho Maraú localizado nas terras dos atuais municípios de Sapé, Sobrado e Cruz do Espírito Santo, antes de pertencer ao médico José Marinho Falcão, casado com a senhora Geni da Cunha Coelho (filha de José da Cunha Coelho e de Andradina Lins Cavalcanti da Cunha Coelho, filha do Deputado e Coronel José Francisco de Paula Cavalcanti – Coronel Cazuza Trombone, senhor dos Engenhos: Santana e Massangana) e Luzia Lins Cavalcanti (tia materna do escritor José Lins do Rego Cavalcanti, do engenho Corredor, no Pilar/PB), pertencia a Ordem de São Bento do Mosteiro de Olinda, Estado de Pernambuco e que a referida ordem religiosa plantava cana de açúcar e explorava o trabalho escravo, não obstante os ensinamentos bíblicos, o que vale dizer que uma ordem religiosa da Igreja Católica Apostólica Romana era latifundiária na várzea do Paraíba no século XIX, e não era a única ordem religiosa a ser proprietária rural e dona de escravos na várzea paraibana não, pois, o engenho Itapuá, por exemplo, pertencia a Ordem Carmelita, igualmente sediada no Recife/PE e na época era considerado o maior engenho de cana de açúcar da região, só perdendo para as usinas que surgiram a partir do século XX e muito bem retratos na obra "Usina" de José Lins do Rego Cavalcanti.

O Engenho Maraú teve inicio sua construção em 1714 pelo Frei de Santa Clara, da ordem dos frades beneditinos. A Capela de Santo Amaro, teve sua construção iniciada em 1724 e que foi concluída em 1752(2) É importante mencionar de que em dezembro de 1859(3) o Imperador Pedro II esteve no local quando de passagem para visitar Pilar e inaugurar a Casa da Câmara(4). Tanto no Engenho Maraú ( dos Beneditinos ), quanto no Engenho Itapuá ( dos Carmelitas ), a escravidão foi praticada com rigor por ambas as congregações religiosas. A visão história é confundida com a visão infanto-juvenil em termos de exaltação versificada em Maraú de minha infância(5).

Finalmente, as terras do engenho Maraú, atualmente foram todas distribuídas para os componentes do MST e/ou sem terras, várzea rica de nutriente e própria para a plantação de cana de açúcar, enquanto a casa grande, o engenho, o bueiro, a igreja de Santo Amaro (padroeiro da localidade), onde foi batizado o senhor Gentil Lins, primeiro Prefeito de Sapé, além do casario dos empregados, valioso conjunto arquitetônico encontra-se em total abandono em ruínas.

..........................

1 Cf.: Diário de Pernambuco. Edição 00196 de 11/09/1838, p. 4 – Escravos Fugidos. In.: <http://memoria.bn.br/DocReader/029033_01/12036> . Acesso em 03.Abr.2013.

2 Cf.: Baixo Curso (Várzea) - Rio Paraíba - Para’iwa – Disponível in.: <http://www.paraiwa.org.br/paraiba/igrejas.htm>. Acessado em: 03/04/2016.

3 Cf.:SILVA, Lígia Maria Tavares. Nas margens do Rio Paraíba do Norte (Artigo). João Pessoa: UFPB, Cadernos do Logepa. V.2, n. Jul.Dez-2003, p. 74-80. Disponível.: <http://periodicos.ufpb.br/ojs/index.php/logepa/article/download/10975/6160>. Acessado em: 03/04/2016.

4 Cf.:AGUIAR, Francisco de Paula Melo. Capela, casa grande e engenho (Artigo). São Paulo: Recanto das Letras, 2014. Disponível in.: <http://www.recantodasletras.com.br/artigos/4899065>. Acessado em: 03/04/2016.

5 Cf. AGUIAR, Francisco de Paula Melo. Maraú de minha infância (Artigo). São Paulo: Recanto das Letras. Disponível in.: <http://www.recantodasletras.com.br/poesiassurrealistas/4127151> . Acessado em: 03/04/2016.

FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR
Enviado por FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR em 28/02/2013
Reeditado em 05/08/2023
Código do texto: T4164911
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.