Emigrante

De vez em quando as lágrimas saltavam-lhe dos olhos, e por alguns instantes o sorriso daquela jovem, quieta e com o rosto voltado para o chão parecia um corpo sem vida, uma figura num quadro que no fundo tinha como cenário as ruas desertas e húmidas de um Inverno chuvoso e triste no coração da grande Lisboa. Nas mãos guardava um retrato da família onde abraçava os dois filhos e sorria, sorria ao lado de um marido que após a morte inesperada deixou apenas uma saudade que nem o tempo consegue apagar, a recente família da pequena jovem chegou ao fim tão cedo como tinha começado e fortemente abraçada a fotografia tentava apaziguar o sentimento de dor e solidão que cortava seu coração, enquanto mergulhada num mar de desilusão que fazia com que um simples dia parecesse uma eternidade. A jovem paga sozinha o alto preço que o destino lhe cobra, nascida numa pequena aldeia e criada no seio de uma família pobre, trabalha horas sem fim, dia após dia para que os filhos possam comer e para que não falte o remédio que os pais tanto precisam para viver, se tornado a esperança na vida daqueles que ama, vivendo sonhando e esperando pelo fim. Do sofrimento ou da vida. Emigrar por vezes não e uma opção e sim uma necessidade, por isso pessoalmente procuro tratar as pessoas pelo que são e não pelo que parecem ser.

Ricardo Barbosa
Enviado por Ricardo Barbosa em 19/03/2007
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