CIRCUNCISÃO

PALAVRAS DE VIDA

Pastor Serafim Isidoro.

C I R C U N C I S Ã O

A circuncisão, B`RIT MILÀ (hebraico) - B`rit significando “Aliança”, é feita ao oitavo dia de vida de um menino ou em qualquer época em um adulto que se incorpore ao judaísmo - At. 7:8. É a extirpação do prepúcio masculino, sendo um dos mais antigos costumes da antiguidade, praticado entre judeus, islamitas, egípcios, polinésios, indígenas e tribos australianas e africanas. Calcula-se que um sétimo da população masculina do mundo seja circuncidada. Além da utilidade higiênica, a circuncisão é para o israelita o símbolo na carne de uma aliança com Deus, significando limpeza na geração de filhos de uma raça especial, zelosa e de boas obras. Foi ordenada por Deus a Abraão e aos seus descendentes como pacto de que Ele seria o seu Deus e lhes abençoaria, se fossem cumpridores da parte que lhes coubesse nesse pacto, no caso, a obediência as Suas leis e ordenanças.

Na Nova Aliança a palavra grega PERITOMÊ (circuncisão) aparece dezessete vezes como verbo (PERITEMNÔ) e trinta e seis vezes na forma de substantivo, sendo trinta e uma vezes usada por Paulo. Significa um selo de justiça da fé que o israelita tem em IAHWEH (Jehovah) “Ele está aí” - Rm. 4:11.- É um pacto perpétuo, conforme o estipulado por Deus em Gn. 17:7-8:

“Estabelecerei o meu pacto contigo e com a tua descendência depois de ti em suas gerações, como pacto perpétuo para te ser por Deus a ti e a tua descendência depois de ti. Dar-te-ei a ti e a tua descendência depois de ti a terra de tuas peregrinações, toda a terra de Canaã em perpétua possessão e serei o teu Deus.”.

Esse pacto entre Deus e a nação Israel, estabelecido através dos seus patriarcas, deveria se estender até aos agregados a esse povo:

“Este é o meu pacto que guardareis entre mim e vós, e a tua descendência depois de ti: Todo varão dentre vós será circuncidado. Circuncidar-vos-eis na carne do vosso prepúcio e isto será por sinal de pacto entre mim e vós. À idade de oito dias, todo varão dentre vós será circuncidado, por todas as vossas gerações, tanto o nascido em casa como o comprado por dinheiro e qualquer estrangeiro que não for da tua linhagem. Com efeito, será circuncidado o nascido em tua casa e o comprado por teu dinheiro; e assim estará o meu pacto na vossa carne como pacto perpétuo. Mas o incircunciso, que não se circuncidar na carne do prepúcio, essa alma será extirpada do meu povo; violou o meu pacto” - Gn. 16:10-14.

A circuncisão é feita no oitavo dia do nascimento do menino, extirpando-lhe a fimose, porque esse dia é o ideal para essa operação, (hoje cientificamente provado), sendo a pele protegida contra infecções. A cerimônia constitui-se de três importantes etapas: 1) - MILAH, a extirpação do prepúcio; 2) - PERIAH, a glande é descoberta; 3) - METIZITZAH, o fluxo do sangue é estancado.

Como se vê, é importante essa prescrição divina a Israel. De fato, ela é um dos mais importantes dos seus seiscentos e treze mandamentos.

O cuidado de Paulo em não mesclar judaísmo / cristianismo é tal que ele se rebela contra essa instituição, fazendo desta a questão principal, primordial, do seu ministério entre os gentíos. É ousado quando diz textualmente que:

“A circuncisão nada é...” - I Co. 7:19.

“Pois a circuncisão é coisa alguma, mas sim o ser uma nova criatura”... - Gl. 6:15.

“Eis que eu, Paulo, vos digo que, se vos deixardes circuncidar, Cristo de nada vos aproveitará...” - Gl. 5:2.

Devido a sua filosofia quanto a essa doutrina da circuncisão foi-lhe necessário ir a Jerusalém para se explicar perante a Igreja e o ministério ali constituído:

“Então alguns que tinham descido da Judéia ensinavam assim os irmãos: Se vos não circuncidardes, conforme o uso de Moisés, não podeis salvar-vos. Tendo tido Paulo e Barnabé não pequena discussão e contenda contra eles, resolveu-se que Paulo e Barnabé e alguns dentre eles subissem a Jerusalém, aos apóstolos, e aos anciãos sobre aquela questão. E eles, sendo acompanhados pelos irmãos, passaram pela Fenícia e por Samaria, contando a conversão dos gentios, e davam grande alegria a todos. Quando chegaram a Jerusalém, foram recebidos pela Igreja e pelos apóstolos e anciãos e lhes anunciaram quão grandes coisas Deus tinha feito com eles. Alguns porém, da seita dos fariseus, que tinham crido, se levantaram, dizendo que era mister circuncidá-los e mandar-lhes que guardassem a lei de Moisés. Congregaram-se pois os apóstolos e os anciãos para considerar este assunto. E havendo grande contenda, levantou-se Pedro e disse-lhes: Varões irmãos, bem sabeis que já há muito tempo Deus me elegeu dentre vós, para que os gentios ouvissem da minha boca a palavra do evangelho e cressem. E Deus, que conhece os corações, lhes deu testemunho, dando-lhes o Espírito Santo, assim como também a nós; e não fez diferença alguma entre eles e nós, purificando o seu coração pela fé. Agora, pois, por que tentais a Deus pondo sobre a cerviz dos discípulos um jugo que nem nossos pais nem nós podemos suportar? - Mas cremos que seremos salvos pela graça do Senhor Jesus Cristo, como eles também. Então toda a multidão se calou e escutava a Paulo e a Barnabé que contavam quão grandes sinais e prodígios Deus havia feito por meio deles entre os gentios. E havendo-se eles calado, tomou Tiago a Palavra dizendo: Varões irmãos ouvi-me: Simão relatou como primeiramente Deus visitou os gentios, para tomar deles um povo para o Seu nome. E com isto concordam as palavras dos profetas, como está escrito: Depois disto voltarei e reedificarei o tabernáculo de Daví, que está caído; levantá-lo-ei das ruínas e tornarei a edificá-lo, para que o resto dos homens busque ao Senhor, e também todos os gentios sobre os quais o Meu nome é invocado, diz o Senhor, que faz todas estas coisas que são conhecidas desde toda a eternidade. Pelo que julgo que não se deve perturbar aqueles, dentre os gentios, que se convertem a Deus, mas escrever-lhes que se abstenham das contaminações dos ídolos, da prostituição, do que é sufocado e do sangue. Porque Moisés, desde os tempos antigos, tem em cada cidade quem o pregue e cada sábado, é lido nas sinagogas. Então pareceu bem aos apóstolos e aos anciãos com toda a Igreja, eleger varões dentre eles e enviá-los com Paulo e Barnabé a Antioquia, a saber, Judas, chamado Barsabás, e Silas, varões distintos entre os irmãos...” - At. 15:1-22.

Esse concílio, realizado em Jerusalém desenove anos após o Pentecoste e dezesete anos depois da conversão de Paulo, definiu favoravelmente a posição contrária de Paulo aos ritos mosaicos, à circuncisão e estabeleceu a supremacia da Igreja sobre o judaísmo.

O problema da circuncisão apresentar-se-ia sério quando alguém, judeu-crente, comunicasse ao apóstolo o nascimento de um menino em sua família. Circuncidaria ou não esse filho? - E certamente Paulo era taxativo: NÃO. - Mas onde ficariam então as prescrições que Deus fizera a Israel (através de Abraão) dizendo ser este um estatuto perpétuo? - Se Paulo (em Cristo) anulava a circuncisão (e também o sábado) não estaria desobedecendo o próprio Deus?

A questão se entende quando compreendido o fato de que Israel é Israel e que Igreja é Igreja. São dois povos, são dois pactos, são duas dispensações distintas, diferentes.

A circuncisão, sem dúvida, será restaurada na sua prática desde a futura Dispensação da Tribulação, após o arrebatamento da Igreja, época em que o judaísmo terá novamente a sua proeminência. Mas na Dispensação da Graça, na Dispensação da Igreja, o judaísmo, a guarda do sábado, a circuncisão, os ritos judaicos nada são para a salvação em Cristo.

Entretanto, o que ocasionou, oito anos depois, a prisão de Paulo em Jerusalém, foi a sua repulsa à circuncisão. Essa doutrina o desestabilizou perante os judeus, seus perseguidores, embora tivesse ele procurado evitar o confronto:

“E logo que chegamos a Jerusalém, os irmãos nos receberam de muito boa vontade. No dia seguinte Paulo entrou conosco em casa de Tiago e todos os anciãos vieram ali. E, havendo-os saudado contou-lhes minuciosamente o que por seu ministério Deus fizera entre os gentios. E ouvindo-o eles, glorificaram ao Senhor e disseram-lhe: Bem vês, irmão, quantos milhares de judeus há que crêem, e todos são zelosos da lei. E já acerca de ti foram informados de que ensinas todos os judeus que estão entre os gentios a apartarem-se de Moisés, dizendo que não devem circuncidar os filhos, nem andar segundo o costume da lei. Que faremos pois? - Em todo o caso é necessário que a multidão se ajunte, porque terão ouvido que já és vindo. Faze pois isto que te dizemos: Temos quatro varões que fizeram voto. Toma estes contigo, santifica-te com eles, e faze por eles os gastos para que rapem a cabeça, e todos ficarão sabendo que nada há daquilo de que foram informados acerca de ti, mas que também tu mesmo andas guardando a lei. Todavia, quanto aos que creem dos gentios, já nós havemos escrito e achado por bem que nada disto observem; mas que só se guardem do que se sacrifica aos ídolos, e do sangue, e do sufocado, e da prostituição.” - At. 21:17-25.

Paulo aderiu a essa dissimulação, uma espécie de tapeação para com os judeus, já que ele não cria, não pregava e não ensinava dessa maneira, e as consequências foram catastróficas porque ele e seus companheiros foram presos quando saíam do templo onde praticavam tal cerimônia e foram arrastados por uma turba desenfreada de judeus fanáticos.

Desencadeavam-se assim as cenas finais do ministério de Paulo. Seria ele levado para Roma, onde finalmente, após dois anos, sua partida desta vida estava decretada por Deus...

O que se depreende de toda esta narrativa é que o cristianismo, em determinadas épocas sofre uma pressão de retorno ao judaísmo, às praticas e ensinos judaicos que procuram mesclarem-se a simplicidade do evangelho. A doutrina da prosperidade, em nossos dias é a agente dessas pressões, tendo a adesão de importantes figuras, líderes e teólogos que não querem se preocupar com um mais acurado exame doutrinário da questão. É cômodo propiciar ao povo aquilo que o povo quer. Que contas prestarão depois, por enquanto não lhes parece interessar...

Só Jesus.

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