COMO APROPRIAR-SE DO CONHECIMENTO?

FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR

Buscar conhecimentos e informações no vídeo é a forma mais aparente de apropriação no ambiente de sala de aula. Neste particular o vídeo pode tanto ser um complemento a uma exposição do docente como uma informação adicional trazida aos discentes de forma audiovisual. No entanto, são mais interessantes e se destacam outras formas quando o saber curricular não é o objetivo principal para o docente. Apropriar-se da linguagem possibilita outras formas de interação e experimentação. Por exemplo, os discentes fazendo teatro, apresentando noticiários de faz de conta e/ou mesmo produzindo seus próprios vídeos experimentam a linguagem audiovisual de forma às vezes criativa, outras copiando os gêneros da programação da televisão, abrem novas possibilidades a partir do vídeo. Como aquele que trabalha com sucata, através do processo de reciclagem, dá outros usos e ressignifica o que tem em mãos, cada docente, por analogia, assim como Charles Chaplin, “multiplica as possibilidades de sua brincadeira: faz outras coisas com a mesma coisa e ultrapassa os limites que as determinações do objeto fixam para seu uso”(CERTAU, 1996, p. 178). O vídeo, então, passa a responder a outras finalidades diversas daquelas que o mercado e/ou os meios de comunicação lhe destinaram primitivamente, instalando-se assim um campo de liberdade de criação, recriação e invenção. Pode-se trazer um conhecimento escolar, um tema da vida cotidiana da sociedade ou não, e/ou até mesmo um tema do ambiente dos meios de comunicação para a sala de aula, também se pode trabalhar as linguagens e experimentar novas interações, e ainda, pode-se ampliar o ambiente da sala de aula até onde o vídeo alcança, proporcionando experiências e vivências, mesmo que através de simulações, capazes de enriquecer o ambiente escolar e a própria cultura do discente.

Ao fazer uso do vídeo em sala de aula, o docente, na maioria das vezes, não percebe quão limitada é a parcela das possibilidades que está sendo efetivamente trabalhada. Em nenhum momento pode-se negar a eficiência do vídeo, como portador de conhecimento escolar em linguagem audiovisual e/ou como um auxiliar ao processo de desenvolvimento dos saberes curriculares formais e informais em sala de aula. Vários testemunhos de docentes atestam para a melhora no rendimento escolar dos discentes após a exibição de um vídeo bem relacionado com a matéria, disciplina ou tema multidisciplinar. Ou mesmo quando é superficial, ainda assim serve como motivador para a complementação da cultura docente e discente. Porque os discentes estão acostumados com a linguagem dos meios de comunicação mais do que com a da escola, por isso eles pegam bem os conhecimentos escolares. Mas outra forma de apropriação me parece mais interessante é quando os discentes se apropriam da linguagem.

Experimentar uma outra linguagem como o teatro, trabalhando o que foi visto no vídeo, qualifica ainda mais o aprendizado porque agrega a linguagem ao conhecimento escolar. No noticiário de faz de conta, por exemplo, se aponta para o caminho inverso, o saber curricular formal era da linguagem escrita, a linguagem de apresentação, audiovisual, e a forma, um gênero de programação da televisão. Neste tipo de apropriação nem participou o vídeo ativamente apenas uma câmara de faz de conta. Noutras vezes não são os discentes que assumem a produção também tem o docente que faz um “filminho em vídeo” e com isso experimenta e se experimenta com a linguagem do vídeo em sala de aula. No entanto, quando a metade dos discentes de uma turma transforma o livro que leram em vídeos, fica mais evidente que a linguagem realmente está fazendo parte do seu dia-a-dia. Neste particular, escola e docentes precisam ficar atentos porque a linguagem não se limita a ser uma forma de comunicar conhecimentos, mas é um indicativo de uma alteração total no ambiente.

Um ambiente dos meios de comunicação no ambiente escolar não mais limitado a negociar conhecimentos e/ou linguagens e sim a questionar os próprios pressupostos da escola e do convívio social, aparece quando o vídeo traz o componente de lazer. Ao dizer que aula de vídeo é aula de lazer ou de brincadeira, o discente estava a questionar a sua diretora que afirmara que o professor que planeja, prepara, não usa o vídeo como lazer ou como brincadeira. Isto evidencia que o componente mais evidente da linguagem audiovisual, desperta emoções, tem sofrido severas limitações no ambiente escolar. Quando a diretora, diz programar mensalmente um filme como lazer para os alunos, não estaria caindo em contradição com as próprias recomendações de ter claros os conhecimentos escolares e objetivos da atividade para liberar a sala de vídeo? Certamente a questão não pode ser respondida nesta pesquisa, mas evidencia um desafio para a escola e para o currículo formal escolar, principalmente para aquela dimensão que aparece no lugar dos conflitos, o currículo em ação, aquele que se realiza na sala de aula.

FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR
Enviado por FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR em 28/03/2013
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