BASEADO EM UM FATO REAL

Em 1921, Manaus produzia seu primeiro filme. Tratava-se do documentário longa-metragem “No Paiz das Amazonas”, do cineasta Silvino Santos. Não foi o primeiro filme dele, que já havia feito um documentário no Peru, quase dez anos antes. Interessante observar que a paixão pela fotografia levou-o ao cinema, arte muito nova e caríssima, na época. O documentário feito no Rio Putamayo, no Peru, era, na verdade, um comercial. Financiado por uma empresa multinacional, Silvino produziu o documentário para provar ao mundo que esta empresa dava um tratamento humano aos nativos da região, na produção de seringa, desfazendo as acusações de matança e escravidão. O filme, que seria revelado nos Estados Unidos, perdeu-se com o naufrágio do navio que levava os negativos.

O documentário “No Paiz das Amazonas”, o primeiro produzido em sociedade com Agesilau Araújo, filho do Comendador J.G. Araújo, foi exibido no Rio de Janeiro e em Paris. Mais tarde, Silvino produziu outros filmes, que também fizeram sucesso. Todos eles, evidentemente, eram mudos. Nos anos 1920, já havia gravador de som em disco, mas não no próprio filme. Essa tecnologia seria descoberta em 1929 e só chegaria ao Brasil mais de dez anos após a produção de “No Paiz das Amazonas”.

Hoje, embora Manaus tenha o seu Festival Internacional de Cinema, a produção de filmes no Amazonas é muito pequena. Descontados alguns esforços individuais, é praticamente inexistente. Isso, se não levarmos em conta a produção feita por outros que apenas tomam por empréstimo o cenário amazônico para realização de películas. O cenário exuberante e natural continua, como antigamente, despertando a curiosidade no mundo todo.

Porém, há um buraco que foi se abrindo e aumentando com o passar do tempo: o despertar da vocação para o cinema. Curiosamente não vemos a formação de profissionais no setor, embora seja um filão de negócios milionários. Manaus tem festivais de ópera e de cinema cuja “matéria prima”, que antes vinha de fora, hoje já conta com uma boa contribuição local. Mas pode ser muito maior.

O filósofo e professor da Universidade Federal do Amazonas - UFAM, Guaraciaba Tupinambá, defende, desde a década de 1990, a criação de um curso de cinema na UFAM. À época, alegava que o curso poderia começar através de convênio com uma universidade federal com tradição na formação em cinema, como a Fluminense, UFF, por exemplo. Hoje, espera que iniciativas de projetos e programas como o Núcleo de Antropologia Visual – NAVI, da UFAM, entre outros, assumam o protagonismo e criem um curso superior de cinema na UFAM.

Enquanto isso, decorridos mais de 10 anos, a ideia migra para a Universidade Estadual do Amazonas que, por sua experiência em cursos como Artes e Turismo, talvez possa levar o projeto avante. Possivelmente completando o leque de habilitações do curso de Artes Cênicas.

Hoje, o jovem que tiver o sonho de se tornar cineasta, ou mesmo ator, terá de arcar com pesadas mensalidades em cursos particulares.

O enorme Brasil, com sua diversidade cultural não tem continuidade na boa produção de filmes. Nos anos 1960, acreditava que podia compensar com a produção de filmes baratos. Conforme defendia Jesse Valadão, era necessário produzir um volume grande, mesmo de baixa qualidade, para fazer frente aos enlatados americanos que já estavam sendo assimilados pelo público brasileiro, mesmo ferindo nossa cultura.

Hoje, o Brasil, graças ao gigantismo da Rede Globo, é um exportador de novelas de televisão, mais raramente produz um filme de boa qualidade técnica e de história. Quando surge um filme que repercute - o último foi Tropa de Elite - passam-se vários anos até que surja algo novo e bom.

O exemplo dos pioneiros é bom e é estimulante. Se há 100 anos, com todas as dificuldades materiais e humanas, fomos capazes de produzir filmes de boa qualidade, hoje deveria ser muito mais fácil.