MELHOR IDADE 


Eu gostaria de saber quem foi o Zé Ruela que disse que a melhor idade é após os 60 anos. A melhor idade é entre 17 e 35 anos, quando você pode comer uma feijoada, tomar algumas cervejas e ainda bater uma pelada após o almoço. Qualquer idade além de 60 esta fora da garantia estendida. 
 
O trauma psicológico começa na aposentadoria, quando você recebe o primeiro salário e percebe que tem que trabalhar para o resto da vida, pois o seu sonho de ficar em casa termina antes do fim do mês. Depois vêm as limitações. Mesmo com toda experiência adquirida ao longo dos anos trabalhados, você tem dificuldade de lembrar os trabalhos desenvolvidos.
 
Dia desses um amigo fez 59 anos e estava se preparando para jantar com a esposa e comemorar seu aniversário, quando lhe perguntei:
 
- “Quer dizer, então, que hoje a noite tem?”.
 
- “Ah, sim! Tem dor nas pernas, dor nas costas, dor na coluna etc.”.
 
Melhor idade pra quem? Para quem duvida do que estou falando, tente pegar alguma coisa que caiu no chão. As juntas todas estalam como pipoca na panela, a cabeça fica pesada e a coluna dói. Isto sem contar que às vezes ainda sai um pum descontrolado. Você só percebe que a coisa está complicando quando tenta atravessar o sinal amarelo e não consegue chegar do outro lado antes do sinal vermelho.
 
E a prática de exercícios físicos? Sim. Um dos maiores exercícios que se pratica nessa idade é calçar os sapatos. Amarrar os cadarços dos sapatos ou dos tênis parece à disputa de medalha nas olimpíadas.
 
Mas existem algumas vantagens, tais como: pagar meia entrada no Pão de Açúcar; poder sentar nos bancos de espera da Caixa Econômica; sentar nos bancos de ônibus destinados a idosos; sentar e esperar aquelas extensas filas especiais nos supermercados. Daí estipularam que acima dos “sessenta” devemos ter regalias. 
 
Por falar em espaços especiais nos ônibus, tenho um amigo muito do sacana, que estava sentado em um daqueles bancos laranja quando uma senhora sentada atrás dele falou baixinho em seu ouvido: "Este banco é para deficiente". Ele respondeu: “Eu sei. É que eu também sou deficiente". 
Não satisfeita com a resposta, ela continuou o observando e após alguns minutos, novamente perguntou: "O senhor é deficiente em quê?" Ele virou para trás e também falando baixinho, respondeu: “Eu sou broxa. Mas não fala pra ninguém, ok?".
 
Uma grande vantagem no casal idoso é que as discussões vão ficando cada vez mais raras. Eles não aguentam discutir por muito tempo, pois dormem antes ou se esquecem por que brigavam.
 
A partir dos 50 anos você começa a mudar alguns hábitos. Ou seja, você continua com o mesmo ritual, mas o comportamento é outro. Vou dar um exemplo: nos fins de semana, você estava acostumado a levantar cedo, tomar café e sair para bater uma bolinha ou participar de algum tipo de esporte. Após os 60, nos fins de semana, você continua levantando cedo, mas para tomar os remédios, sair para comprar o jornal e o pão e passar na farmácia.
 
As cismas e manias surgem. A maioria dos jovens cisma que está passando por algum tipo de crise, como ansiedade, dilemas existenciais etc. Quase todos precisam de ajuda psicológica. Já os idosos têm outras crises: hipertensão arterial, fraqueza dos músculos, perda da acuidade visual e de audição, falta de ar, queda de cabelo, disfunções hormonais e do metabolismo. Assim sendo, a “melhor idade" está com tudo!
 
Você só percebe que está velho quando alguém se levanta do assento para lhe dar o lugar ou para lhe ajudar para subir degraus ou atravessar a rua. Não há coisa mais irritante quando você começa a subir alguma rampa e ouve: "Quer ajuda aí, senhor?". Você pensa: “Ajuda aí é o cacete!". Você sobe sozinho, escorrega e fica com uma puta dor nas pernas.
 
Tenho um casal de amigos, Josualdo e Dona Menô. Eles se programaram durante seis meses para irem a um determinado lugar, a fim de conhecerem um mirante com vista maravilhosa da natureza. Começaram a subir o morro às 6 da manhã, levaram meio dia para chegarem até o topo e quando lá chegaram, descobriram que o mirante estava no morro ao lado. Agora só daqui a seis meses. Só espero que eles não se esqueçam onde foram.
 
A desconfiança começa a dar sinais de vida. Quando se atinge uma determinada idade, você desconfia de tudo. Ao perceber que alguém lhe olha atentamente, você não sabe se está lhe paquerando ou com pena de você.
 
Dia desses, na fila do banco, vi que uma moça de uns 30 anos, com um belo sorriso nos lábios, não tirava os olhos de cima de mim. Já me sentindo uns 20 anos mais jovem, estufei o peito e dei uma piscadinha pra ela, discretamente. Ela se aproximou de mim e falou sussurrando: “O senhor não quer passar a minha frente? O senhor tem todo o direito”. Pensei comigo: “Vaca!”.
 
Chega uma fase da vida em que procuramos rejuvenescer. Uma vez encontrei a esposa de um senhor que conheço há muitos anos, perguntei como ele estava. Ela disse: “Ah, o Gomes? Ele está igual uma criança. Dorme o dia todo, faz xixi na cama...”.
 
A melhor idade talvez não seja na maior idade, mas quando aprendemos a gostar de nós mesmos e gostar de quem também gosta de nós, pois o que rejuvenesce na vida é o amor. À medida que aprendemos a amar e somos amados, tornamo-nos mais jovens e começamos a encarar a velhice como um passa tempo, o tempo que se deve passar com coragem e alegria.
 
Luiz Gonçalves Martins
Enviado por Luiz Gonçalves Martins em 29/04/2013
Reeditado em 29/04/2013
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