O CACIQUE E O REI

O Rei Harald V da Noruega, de 76 anos, aceitou o convite do Cacique Davi Yanomani e passou quatro dias embrenhado na floresta, hospedado na aldeia Watoriki a 150 km de Boa Vista capital de Roraima. O monarca disse se tratar da realização de um sonho e sem um grande aparato se segurança, pois não se tratava de uma visita oficial, aproveitou para dar uma checada no que eStava sendo feito com o dinheiro norueguês investido através da organização da sociedade civil de Virgin Forest Foundation Norway , que apoia os Yanomami em projetos educacionais há mais de 15 anos, com recursos de seu governo.

O desejo do Rei era ter uma experiência de vida em uma comunidade indígena no seio da floresta, conhecer a vida das pessoas que vivem lá e participar do seu dia a dia. A realização deste sonho tornou-se possível graças ao convite de Davi Yanomami fez para participar da comemoração do 20º aniversário da aprovação da Terra Indígena Yanomami, na aldeia de Watoriki. Devido a uma agenda lotada, a visita só foi possível agora.

Rei Harald chegou à comunidade de Watoriki sob a autoridade de Davi Yanomami, na manhã de 22 de Abril e foi recebido por 190 habitantes. Durante os quatro dias que permaneceram na comunidade, ele dormia em uma rede, comeu carne de veado e beijus , ouviu as histórias do passado, e viu como os Yanomami cultivam sua relação com a floresta. Os Yanomami também relataram suas preocupações com a ambição do homem branco para com os minerais presentes em seu território e a degradação florestal devido à mineração ilegal. Eles também expressaram seu temor com as consequências da legalização da mineração em terra indígena, e a construção de barragens. Os Yanomami têm reafirmado que a sua única preocupação é manter a floresta em pé.

O último dia da visita em 25 de abril, os presentes foram trocados para simbolizar a amizade entre o Rei Harald V e Davi Yanomami. O Rei ofereceu-lhe um álbum pessoal de fotos mostrando o monarca e sua família, sua casa, seu barco e seu cão. Davi deu ao rei uma pulseira tradicional que simboliza a beleza e a força dos pajés.

A comitiva do Rei, muito enxuta, contava apenas com algumas pessoas de sua guarda pessoal, as demais faziam parte da ONG que já trabalha com os nativos, nada parecida com as comitivas brasileiras que enveredam pela Europa inchadas com mais de 150 bajuladores e seus familiares. O Rei se hospedou numa casa simples e dormiu em rede, semelhante as viagens de nossos políticos com suas diárias de hotel em torno de 45 mil reias fora os mimos. O Rei se alimentou de caça e tomou água de fontes, que não eram servidos em restaurantes suntuosos, tampouco preparados por chefes de renome e conta bancária de mesma proporção. O Rei se preocupou em saber como seu dinheiro estava sendo usado, se realmente estava fazendo diferença na vida daquelas pessoas, algo como uma bolsa tudo e verba de merenda que nunca chegam aonde deveriam e quando chegam são usadas como barganha política. O Rei recebeu pedidos e ouviu o povo. O Rei foi ao encontro do povo e abraçou seus líderes. O Rei se mostrou apreensivo com o destino dos nativos, suas terras e seus sítios sagrados. O Rei não é nosso...

Du Valle