REFLEXÕES SOBRE A REENCARNAÇÃO

A vida seria fruto do mais absoluto caos se não houvesse as vidas sucessivas.

Hoje lia no noticiário: um casal em São Paulo adotou duas menininhas, uma com três, outra com dois anos. E ontem, foi cometido contra a menor das duas, por parte do pai adotivo, mais um entre tantos crimes hediondos: por conta de uma trivialidade - a menininha estava demorando a acabar de comer - o louco deu-lhe um pontapé, e, não satisfeito, a espancou violentamente, ocasionando a sua morte algumas horas depois. Mais tarde, a esposa acabou confessando ter sido mesmo o marido o autor do crime; que não se pronunciou por medo do mesmo, que possuía histórico de agressividade no seu temperamento.

Li; choquei-me até onde se pedia, como sempre, a cada nova ocorrência de barbárie, de uma freqüência assustadora de tempos a esta parte. Fiquei pensando: que diabos de mundo seria este, e que seria este tal Criador eqüânime, perfeito na construção do Universo, se uma coisa dessas fosse fruto do mais puro acaso para os envolvidos?!

Onde a lógica? Onde a justiça?! Então é assim que funciona? Uns nascem, por obra do mero acaso, em famílias bem constituídas, cobertos de carinhos e de afeto dos familiares, e, de resto, em situação material e financeira confortável. Outros, como as duas menininhas em questão, sem mais nem aquela, além de serem renegadas pelos pais de sangue, e abandonadas em abrigos, ao enfim conquistarem o suposto golpe de sorte com a adoção feita por um casal aparentemente bem intencionado, encontram, ao invés, num dos dois, um monstro, e o carrasco final dos seus destinos!

Por quê?! Por azar delas?! Azeite! Quem mandou nascerem nesta situação?! Não é culpa de ninguém! E será que isto é lógico?! É assim que funcionam as leis maiores regentes dos destinos individuais, neste mundo minúsculo perdido entre a farinha luminosa de tantos outros espalhados no infinito?!

Então que se descreia, de fato, em Deus, e num Criador justo, sábio, perfeito, eqüânime nos seus desígnios...Porque então o que prevaleceria seria um "deus nos acuda", "salve-se quem puder" - o que justificaria de fato, a partir disso, toda a falta de escrúpulo imaginável e todo e qualquer ato de barbárie no desenrolar da convivência humana! Sorte, portanto, de uns, se foram bem nascidos; falta de sorte de outros, se vieram a este mundo nestas condições misérrimas de oportunidades!

Algo nos sopra que uma nota em falso existe neste raciocínio. A história toda não pode estar completa, visível às nossas vistas num caso desses, e em tantos outros; faltam peças no quebra-cabeças; uma coisa assim mais lembra um filme dramático exibido a partir da sua metade, sem se reportar ao início!

Apenas a noção de continuidade confere sentido aos enredos vivenciados na nossa passagem por este mundo. Razões gerando resultados. Como, aliás, acontece a toda hora no nosso cotidiano: se abusamos da alimentação inadequada, mais cedo ou mais tarde o organismo grita, por intermédio das moléstias; se nos enchemos de arrogância e orgulho no trato com o semelhante, não demorará muito para principiarmos a sintonia somente com alguns, repelindo outros tantos, mais sensíveis, mais nobres de sentimentos, e de maior estatura espiritual, que se limitarão a afastar-se - muitos cheios de piedade pela nossa cegueira, evitando-nos a companhia; se cedemos ao descontrole nervoso, geramos um pandemônio no ambiente onde vivemos com os demais. Porque a agressividade é facilmente contagiosa para os espíritos vulneráveis, e o que teremos será um efeito cascata, cujo fim é impossível de se diagnosticar: um sem número de pessoas descarregando, numa reação em cadeia, o nosso mau humor por tabela, pela vida afora...

Tudo, como se vê, das coisas mais banais às mais importantes, obedece ao curso de um fio invisível, na maior parte do tempo, à nossa percepção consciente. É assim que a vida funciona, e se denuncia o funcionamento das suas leis. O que nos leva a pensar, numa lógica simplista, por qual causa estas ocorrências chocantes e espantosas para a nossa sensibilidade se dariam, soltas de coerência, à mercê de uma estranha arbitrariedade do destino: uns, bem nascidos, num ambiente familiar equilibrado; outros, nascidos em famílias regularmente constituídas, entretanto, nem sempre felizes; outros mais entregues, desde o berço, à crudelíssima indigência social, e à conseqüente indiferença de grande parcela da sociedade, ineficiente, até o presente momento, em oferecer solução satisfatória a este grave panorama, observado neste e em outros eventos estarrecedores dos tempos em que vivemos.

Reflita-se, e fácil virá a conclusão de que apenas as vidas sucessivas, com a renovação das oportunidades de aprendizado em contextos diversos a cada reencarnação, e na presença de um sem número de almas que nos haverão de acompanhar em regime de crescimento compulsório por intermédio das leis da dor, ou ao influxo suave da sintonia do amor, explicarão devidamente as aparentes injustiças. Injustiças essas que, isoladamente, e de dentro da concepção falha de uma vida apenas, nos sugerem não um processo Criativo equilibrado e contínuo, eclodindo a cada dia dentro dos parâmetros indefectíveis de uma Sabedoria Suprema, e entrevisto na infinitude mesma do Universo acima e em torno de nós - mas um caos confuso e incompreensível, não condizente com o milagre maravilhoso presenciado a cada nascer do sol; no brotar de cada flor perfumada nos nossos jardins; e no nascimento diário de milhares de seres trazidos à luz da materialidade, para a necessária renovação das antigas e amargas lágrimas em sorrisos, e na cura definitiva para as limitações ríspidas de entendimento que ainda nos aprisionam à ignorância das coisas maiores de Deus, da Existência.

Com amor,

Lucilla & amparador, Caio Fábio Quinto

Lucilla e Caio são autores dos romances psicografados O Pretoriano, da Mundo Maior Editora, e Sob o Poder da Águia, lançado em 2006 pela Lumen Editorial


Christina Nunes
Enviado por Christina Nunes em 30/03/2007
Código do texto: T431043
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