O Psicodrama na Intervenção Psicopedagógica, de Seilla Regina Fernandes de Carvalho

1- Apresentação

Este trabalho tem por objetivo demonstrar de que maneira a utilização do psicodrama poderá trazer benefícios quando aplicado na orientação educacional de grupos discentes no âmbito da instituição escolar.

2- Fundamentos do Psicodrama e a Inter-relação com a Psicopedagogia

Criado por Jacob Moreno, o psicodrama aparece onde a palavra perdeu o significado e quando o nível de tensão é bastante forte e bloqueia a comunicação verbal. O cenário é uma conjunção social em que os integrantes "atuam" representando seus próprios eus. A vivência do psicodrama revela o momento atual, no presente, sendo um convite a uma comunicação humana transformadora. Seus resultados são observados tanto na dimensão terapêutica quanto pedagógica, ou seja, na educação objetiva, na situação dramática, nas vivências de introspecção e operativas, o envolvimento do indivíduo com situações que mobilizam sentimentos, emoções a serem refletidas individualmente e/ou dentro do grupo.

É possível observar a inter-relação entre o Psicodrama e a Psicopedagogia, visto que esta última destina-se a intervir em situações diversas como: casos de insubordinação e inadaptação escolar, baixo rendimento em uma ou várias áreas do conhecimento, ausência de motivação para atividades pedagógicas, baixa auto-estima, bloqueios na espontaneidade e criatividade. Estas duas áreas podem ser trabalhadas de forma integrada, enquanto a Psicopedagogia trabalha com as modalidades de aprendizagem, o Psicodrama visa oferecer mecanismos para trabalhar os aspectos emocionais frente às fissuras ou dificuldades que o sujeito venha a apresentar nos seus esquemas de operatividade sobre o mundo.

O desenvolvimento humano é permeado de ações que compõem as atividades lúdicas como o brincar e o jogar. O brincar é anterior ao jogar, o primeiro é uma forma mais livre e individual de exercício funcional e o segundo é uma conduta social que impõem regra. A ludicidade abrange tanto a atividade individual e livre quanto a atividade coletiva e regrada, num movimento progressivo e integrado. Na perspectiva sócio-cultural, brincar é uma atividade dotada de significação social, necessita de aprendizagem, pois, por ser uma expressão que emerge da cultura, é dotada de signos enraizados no conjunto de atividades humanas.

De acordo com Sara Paim (1980), o jogo, como atividade coletiva e regrada da ludicidade, desempenha uma função semiótica onde o objeto presente constitui o símbolo para o objeto ausente. No jogo, a criança entra em contato com o outro e supera seu egocentrismo original, direcionando para um relacionamento cooperativo.

O jogo psicodramático visa inserir uma brecha entre a fantasia e a realidade interior do indivíduo para que venha mobilizar o intercâmbio entre essas duas dimensões de forma livre, espontânea e criativa a fim de que os conflitos intra-psíquicos e psico-afetivos possam ser vivenciados, retratados e assistidos. As técnicas básicas do psicodrama, como a inversão de papéis e o solilóquio, podem ser adaptadas sem maiores problemas às metodologias escolares comuns.

3- Proposta de Aplicação

Acredito que a prioridade do trabalho de Orientação Educacional deve ser dada aos grupos diante da dinâmica interpessoal existente em situações reais de cada aluno e assim podem ser mais bem compreendidas e contextualizadas. A partir daí o trabalho focado no atendimento individual torna-se mais expressivo pela troca e vínculo de confiança que vai se estabelecendo com o educando.

Dinâmica: Espelho

Grupo: Alunos da 8ª série (entre 13 e 15 anos)

Nº alunos: 22

Inicio a dinâmica com todos em círculo. Ao som de uma música instrumental. Olhar uns aos outros. Escolher um par e formar duplas. Frente a frente, um elemento da dupla faz movimentos com o corpo, sendo imitado pelo companheiro que age como seu espelho. Explorar ao máximo a movimentação... (a um sinal os papéis se invertem)

Formar outras duplas, repetir o trabalho. Desfazer as duplas e formar um círculo grande na sala, sentados.

Refletir: Como nos sentimos espelhando e sendo espelhados? Do que mais gostei? Por quê?

Do que menos gostei? Por quê?

Tive dificuldades? Em quê? Por quê?

Com quem foi mais fácil trabalhar?

Com quem foi mais difícil trabalhar? Por quê?

Expor para o grupo os seus sentimentos, sua percepção, suas descobertas, dúvidas, questionamentos.

Conclui-se o trabalho com o grupo falando sobre a dificuldade que encontramos em vivenciar o papel do outro. Porém que é necessário nos colocarmos no lugar do outro para que possamos entender algumas situações que acontecem em nossas vidas.

4- Conclusão

Esse trabalho mobiliza o prazer em se descobrir capaz de ver o outro, colocar-se em seu lugar, quase adivinhar os movimentos, perceber-se através dele e estar junto numa viagem a dois. No plenário, é muito importante trabalhar tanto as dificuldades individuais mais comuns, como a lateralização, o ritmo, o prazer do jogo corporal. Pois, se trata de um brincar a dois que exige despojamento das formas individuais em prol da disponibilidade para o outro.

Como método didático, o psicodrama garante a aquisição do conhecimento em nível intuitivo e em nível intelectual, mas também leva a uma participação maior do aluno e a utilização do seu corpo, permitindo ao professor-orientador, a condução do grupo como unidade. À medida que o grupo evolui é possível perceber que as técnicas dramáticas e de imaginação ativa além de facilitar a re-significação dos conhecimentos, potencializam aspectos de integração, socialização e estilos de conduta, que facilitam a relação com o outro, consigo e com o ambiente.

5- Bibliografia

FERNANDEZ, A. O Saber em Jogo: a psicopedagogia propiciando autorias de pensamento, Porto Alegre: Artes Médicas, 2001

PAIN, Sara. Diagnóstico e Tratamento dos Problemas de Aprendizagem. Porto Alegre: Artes Médicas, 1986

PORTO, Bernadete de Souza (Org). Educação e Ludicidade, Ensaios 3: Gepel, 2004

ROMAÑA, M.A. Do Psicodrama Pedagógico à Pedagogia do Drama.Campinas:Papirus,1996