ILUSÕES, DESILUSÕES E A HIPOCRISIA HUMANA

Quase todos falam em nome de “Deus” na vã filosofia de permanecerem enganados ou de enganarem os outros. Não me interessa aqui discutir religião, até porque poucos estão preparados para isso, ou melhor, poucos estão realmente preparados para refletir sobre as coisas mais essenciais na vida. O pior de tudo é enganar a si mesmo. Permanecer iludido para sempre pode até ser um caminho para a felicidade, mas o problema é que às vezes temos que encarar a realidade, daí não estaremos preparados para a frustração, sendo que a maior delas é chegar a conclusão de que não somos aquela pessoa que tínhamos convicção de que éramos. E porque será que não estaremos preparados? A resposta talvez venha após a reflexão sobre esse texto. O certo é que é duro ter que admitir os nossos fracassos, mas talvez seja muito pior fazermos afirmações reiteradas de coisas sobre as quais não conhecemos quase nada.

As pessoas que se enganam e se enclausuram nas suas “fortalezas” costumam acreditar tanto nas suas virtudes que se sentem capazes de fazerem o julgamento dos seus semelhantes, ou melhor, condenam-nas de forma sumária, porém, se formos analisar minuciosamente, chegaremos a conclusão de que as pessoas que perdem grande parte do seu tempo nos criticando, censurando, julgando e condenando, na verdade são muito mais infelizes do que a gente e na maioria das vezes àquilo que tanto elas condenam é justamente o que elas gostariam de fazer e não o fazem por algum medo ou pura incompetência.

É verdade que às vezes não conseguimos aproveitar intensamente a vida porque somos impelidos pelos olhares alheios, mas se analisarmos cuidadosamente, veremos que na maioria do tempo somos escravos dos nossos próprios conceitos e valores, e não daquilo que nos impuseram. Somos tão dependentes da opinião dos outros, que acabamos às vezes achando que somos o centro das atenções. Precisamos refletir diariamente sobre as nossas ações e se elas não prejudicam os outros nas suas necessidades basilares, então não há razão para ficarmos nos remoendo, afinal, opinião e gosto são muito pessoais. Dessa forma, é perda de tempo ficarmos tentando copiar a “receita” dos outros para atingirmos a felicidade, pois os ingredientes necessários para o nosso “bolo” são sempre diferentes porque nós também somos diferentes.

Se estamos acostumados a afirmar que somos todos diferentes, porque insistimos em sermos iguais, em termos opiniões e comportamentos semelhantes? Porque insistimos em querer que os outros sejam iguais a gente e às vezes queremos ser iguais aos outros? Porque sugerimos aos outros os ingredientes que não deram certo no nosso bolo? Será que queremos que os outros sejam felizes de fato, ou inconscientemente nos deleitamos com os fracassos e as decepções alheias? Quando perguntamos aos outros se está tudo bem será que a resposta que satisfaz o ego é verdadeiramente aquela positiva ou esperamos lá no fundo da alma que o outro esteja agonizando e precisando desabafar com a gente, cujo tormento fomentará futuras fofocas? Talvez o amigo leitor esteja se retorcendo diante de tantas afirmações e interrogações aparentemente corriqueiras, banais e desnecessárias, mas por pior que sejamos, sempre nos consideramos bonzinhos. Nenhum fofoqueiro de plantão se considera o tal, pelo contrário, ele sempre acredita piamente de que os outros precisam das suas informações. O ladrão sempre acha que a vítima conquistou seus bens de forma desonesta e que o roubo seria uma medida compensatória! O vingativo sempre considera que a vingança é justa! Em síntese, todos nós acreditamos que estamos sempre certos e mesmo quando admitimos nossos fracassos, eles costumam ser sucedidos de justificativas plausíveis. Por isso, cada qual deveria viver a sua vida da forma como acha melhor e o resto que se dane!