PAPAI, POR QUE O SENHOR FOI PROTESTAR?

As manifestações nas ruas, principalmente nas capitais pegou não só o governo de surpresa. Os analistas políticos também ficaram procurando as razões para os protestos que se transformaram em monstros contra tudo. O mais terrível é que, conversando com alguns participantes, nem estes sabiam definir exatamente do por que de sua participação nas ruas. A polícia paulista ensaiou uma contenção violenta mas, ao descobrir que os protestos não eram contra o Governo daquele estado, deixou correr solto.

O movimento seria contra o aumento das passagens do transporte público? A maioria dos manifestantes nem utilizam este tipo de transporte. Contra os gastos excessivos da Copa do Mundo? Como assim, se os brasileiros queriam a copa de qualquer jeito? A explicação mais clara me foi dada por uma jovem solteira de 20 anos de idade, que nem pensa ainda em ser mãe, que disse simplesmente: “Ninguém mais me segura em casa. Quero poder dizer aos meus filhos que ajudei a mudar o país.” Mudar o que, se oficialmente está tudo muito bem?

O povo se cansou do jogo de faz-de-conta. Cansou de ser chamado de otário. Cansou dos Sarneys, dos Renans, dos Collors, dos Genuínos e de outros tantos. Cansou de ver casuísmos políticos e jurídicos serem apresentados como “verdades”. Cansou de ver inaugurações de obras que nem estão projetadas, cansou de ver obras essenciais interrompidas sem entender o por que. Cansou de ver “primeiros pingos de solda” receber destaques como se fossem obras concluídas. Enfim, cansou de mentiras. O governo não dá continuidade no que começa e, mesmo quando promete não gastar, como no caso dos estádios para a Copa do Mundo, torra bilhões como quem compra um lanche na esquina. Até mesmo o judiciário tão aplaudido por seu julgamento cai no descrédito porque o resultado da condenação é desobedecido, como se tudo não passasse de uma farsa. Num primeiro momento o povo fica pasmo, mas chega um ponto que não compreende que até na condenação do STF cabe recurso, e protesta.

O Brasil teve sua experiência com o governo de esquerda que andou bem, teve conquistas, teve divulgação e apoio popular como nenhum outro. Mas que, no conjunto da obra não cheira bem. Os corruptos ou suspeitos estão em cargos de primeiro escalão; nepotistas e salafrários na primeira linha de sucessão, como os vários presidentes do Senado e o ex-presidente da Câmara Federal. O Poder Executivo tem apoio do Legislativo não por ideais, mas porque loteou cargos entre os partidos políticos e apaniguados transformando-os em partícipes do próprio executivo numa relação incestuosa que causa nojo. Os fiscais do executivo fazem parte dele. Sou eu prestando contas para mim mesmo. Até o belo fato de eleger a primeira mulher para a Presidência da República, perde o brilho quando ela quer ter o poder de alterar o vernáculo.

Para completar, a FIFA que não deixa de ser uma grande empresa e quer faturar com seu evento máximo, vem ao Brasil ditar normas e influenciar até na “fabricação” de leis específicas. No palanque oficial, o manda chuva da Fifa Joseph Blatter toma o microfone do cerimonial como quem diz: “Não respeitam a presidente, mas a mim vão escutar. Gostam mais de futebol que de política.” Por sua deselegância e arrogância recebeu merecidas vaias, também.

Por que o Brasil protesta? A última gota apenas fez transbordar o caldeirão que já estava cheio há muito tempo. O povo quer a volta da vergonha na cara, quer a volta do olho no olho, quer transparência. A oposição política de hoje ,ao contrário dos poderosos de hoje que cresceram fazendo manifestações, não baixou a esse nível. Assim o povo de hoje quer os partidos desacreditados longe de suas manifestações. O protesto não é apenas contra o “governo”. É também contra a oposição que não soube traduzir a frustração da sociedade ante a desilusão com aquilo que chamam de esquerda.