Verdade ou golpe?

Ao cair da noite, fui abordada por uma senhora aflita que, aparentando extrema angústia, tentava me comover com sua história.

Era carrinheira, transportadora de papel reciclável.

Seu carrinho quebrara e ela o levara na oficina, para consertar.

Tinha ido retirá-lo, mas o mecânico se recusou a entregar sem o pagamento completo do serviço. Não faria fiado.

Ela justificava que, como não pudera trabalhar com o carrinho, ficara sem ganhar nada - nem havia almoçado... e estava angustiada, por que faltava ainda certa quantia para completar o valor. A oficina estava quase fechando e ela precisava do carrinho, para coletar os materiais durante a noite.

Seu desespero era tanto - real ou fictício, que me comoveu. Eu e uma amiga conseguimos reunir a quantia necessária.

A mulher contou as notas e moedas, e saiu rapidamente, enviando bênçãos a quem a ajudara, em momento tão dramático.

Eu e a amiga ficamos conjeturando: Seria mais um golpe, como tantos de que já fomos vítimas? (As mulheres são os alvo preferidos...) Ou aquele drama era real? Talvez, se fosse um homem que estivesse pedindo, nós não teríamos acreditado, imaginando que ele iria ingerir bebida alcoólica...(olha aí o preconceito!)

Na verdade, não é isso o que importa. O fato fez-nos refletir que, enquanto alguns cidadãos conseguem viver com relativa tranquilidade, outros passam por extrema dificuldade, para conseguir o mínimo necessário à sua subsistência.

E estamos fazendo muito pouco para eliminar esse profundo fosso de diferenças sociais, que a cada dia se torna maior... desembocando no recrudescimento da violência, como uma forma indisfarçável de revolta...