AS RUAS QUE LEVAM À MORTE

Trafegar pelas ruas de Goianésia, especialmente para quem é motociclista, é sinal de perigo constante. A brutalidade aparece nas estatísticas e nos noticiários. Sua face mais horrenda, no entanto, é semeada entre familiares e amigos que choram a morte precoce das vítimas. Para quem perde um filho em algum dos cruzamentos da cidade, aos vinte e poucos anos, não há política de trânsito que possa colar o coração despedaçado ou reimplantar o sorriso nos lábios.

Apenas no primeiro semestre do ano seis pessoas perderam a vida nas ruas e avenidas de Goianésia, fruto de acidente de trânsito. Todos conduziam motocicleta. Outras quatro pessoas morreram nas estradas que cortam o município. Em igual período do ano passado, foram quatro mortes.

De acordo com informações da 13ª Companhia Independente de Bombeiro Militar, sediada no município, foram registradas 295 ocorrências com vítimas no trânsito apenas no primeiro semestre de 2013. Em igual período do ano passado foram 213.

Um dos oficiais do 23º Batalhão da Polícia Militar elencou os três principais vilões do elevado número de mortes e acidentes envolvendo motociclistas no trânsito de Goianésia: imprudência, imperícia e negligência.

Para o superintendente municipal de trânsito, coronel Alexandre Freitas Elias, há outros fatores que podem ser acrescentados à lista: o elevado número de veículos circulando no mesmo espaço, que não sofreu grandes alterações.

Com 60 mil habitantes, Goianésia tem, de acordo com dados do Detran-GO, 30.748 veículos registrados. Do montante, 7.180 são motocicletas e 3.189 motonetas (Biz e afins). Não estão computados junho e julho. Dá uma média de um veículo a cada dois habitantes. Cresceu o número de carros e motos e a estrutura de trânsito não seguiu o mesmo caminho.

Goianésia conta com apenas três semáforos, 33 rotatórias e 58 faixas de pedestres. Apenas doze faixas são consideradas boas. Acrescente-se a isso a falta de educação e prudência no trânsito de muitos condutores.

Raio X da tragédia

Considerando o ano de 2012, Goianésia registrou 568 acidentes de trânsito. 379 envolveram motos. Os campeões são os choques entre carro e moto: 178. Em segundo lugar está a queda de motocicleta: 101. Foram ainda registrados 51 acidentes envolvendo moto com moto. O pior dessa matemática é que das 568 ocorrências, 746 pessoas sofreram algum tipo de dano físico. De escoriações a óbito.

Medidas a serem tomadas

De acordo com o comandante da Superintendência Municipal de Trânsito (SMT), Alexandre Freitas Elias, que assumiu o posto em abril, é preciso cumprir um tripé. “Engenharia, educação e esforço legal”. Trocando em miúdos: a Prefeitura precisa reordenar o tráfego, com mais semáforos, melhor sinalização, fechando cruzamentos. Paralelo a isso, realizar campanhas educativas e orientativas. E num segundo momento, se preciso, impor sanções aos infratores.

Ele tem em sua mesa um estudo detalhado da situação atual de Goianésia e um laudo técnico do que precisa ser feito para pulverizar as estatísticas atuais. A princípio, ele garante que o cruzamento da Avenida Goiás com a Rua 18, no Centro, algoz de algumas vidas, será, enfim, fechado. Um semáforo será implantado no cruzamento da mesma avenida com a Rua 14, também no Centro. “Além da construção de sete novas rotatórias em pontos estratégicos da cidade”, anuncia.

Ele considera isso ainda muito pouco. “Goianésia precisa de mais seis semáforos, no mínimo. O mais importante, no entanto, é conseguirmos levar adiante a ideia de que a cidade cresceu e a estrutura de trânsito atual não mais é satisfatória. Estamos estudando a possibilidade de fechar outros cruzamentos, adotar sentido único em algumas ruas, construir mais rotatórias e sinalizar melhor, tanto vertical como horizontalmente a cidade”, explica Elias. “E batalharei incansavelmente para que seja implantada a partir de 2014 a Guarda Municipal”, acrescenta.

Tão jovens

Estatísticas costumam ser frias e não conseguem interpretar a dor das famílias envolvidas nas tragédias. As três mortes de junho têm algo em comum: a trajetória de três rapazes, cheios de vida e planos, foi interrompida, gerando um abismo de desespero em seus familiares.

No sábado, 8 de junho, Oziel Gonçalves Machado, 36 anos, trabalhador da Anglo American, teve morte instantânea após sofrer corte profundo no pescoço. Ele colidiu sua motocicleta na traseira de um Fox, no cruzamento da Avenida Goiás com a Rua 40, no bairro São Cristóvão, região norte da cidade. Bombeiros ainda tentaram reanimá-lo dentro da viatura. Perderam a batalha para a morte.

Na fria madrugada de domingo, 23, foi a vez de Clésio Gomes da Silva, de 25 anos, morrer após sua motocicleta se chocar de forma violenta contra um ônibus, na Rua 42, esquina com a Rua 17, no bairro Nova Fiíca, região norte. Ele quebrou o pescoço em dois lugares. Não chegou a realizar seus sonhos. Não deixou herdeiros nem legado. A morte, apressada, não lhe forneceu tempo.

Sábado, 29, Daniel Marcos Souza Santos, de apenas 17 anos, engordou a nefasta estatística, ao quedar sem vida no asfalto da Avenida Goiás, esquina com a Rua 18, no Centro. Ele estava de carona em uma motocicleta, que foi colhida por um Corsa Classic. O adolescente foi arremessado para a morte por incríveis cinco metros do local da colisão. Ele voltava todo feliz do Hospital Municipal Irmã Fanny Duran, onde tinha ido visitar sua esposa, grávida de 36 semanas de sua primeira filha. Junho se foi com sua mazelas. Nas primeiras horas de julho, o milagre da vida: nasce, pesando 3,7 kg, Emilly Daniela, a filha do rapaz assassinado pelo trânsito de Goianésia.

Não poupa ninguém

Além dos casos que resultaram em morte, outros tantos terminam com vítimas com fraturas nas pernas, nos braços, no tórax. Toda semana, Goianésia perde em algum cruzamento um jogador de futebol de final de semana. Pessoas que saem de casa para trabalhar e voltam alguns dias depois com placas de titânio na perna. Voltam em cadeiras de rodas.

Nem autoridades de grosso calibre escapam do caos urbano de Goianésia. A juíza Lorena Cristina Aragão Rosa teve seu carro atingido no cruzamento das avenidas Goiás e Brasil, no semáforo central. Ela não sofreu danos físicos. Seu veículo, no entanto, teve danos materiais. A pergunta é: quem será o próximo?

Anderson Alcântara
Enviado por Anderson Alcântara em 13/07/2013
Reeditado em 13/07/2013
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