breve esboço da apicultura
a apicultura no Brasil
Apicultura é a criação racional de abelhas com a finalidade de se obter mel, pólen, própolis, cera, veneno e polinizar pomares promovendo a fecundação das flores. A abelha criada com essa finalidade, está na classe dos insetos e pertencente à ordem himenóptera, espécie mellifera, família Apidae, tribo Apini e gênero Apis.
  Nas Américas, não existiam abelhas da tribo Apini, quando em 1839 foram introduzidas no Brasil. Há diversas raças de abelha do gênero Apis. As aqui estabelecidas, que detêm maior importância, são a apis mellifera mellifera (alemã), a apis mellifera ligustica (italiana) e a apis mellifera adansonii (africana).
  
Numa colônia variam três castas: uma rainha; de 60.000 a 80.000 operárias; e, de 0 a 400 zangões. Suas longevidades respectiva são: produtivamente, 01 ano; 40 dias; e, 80 dias. Cada integrante possui atividades distintas: a rainha, que faz a postura dos ovos, 1.500 unidades/dia, é desenvolvida em célula (alvéolo) especial e alimentada exclusivamente com geleia real. Das fêmeas ela é a única com órgãos reprodutores perfeitamente desenvolvidos; as operárias variam de atividades conforme suas idades (as mais novas, domésticas, são faxineiras, nutrizes, engenheiras dos favos e, do vigésimo dia em diante, campeiam na coleta de água, néctar, pólen e própolis; os machos da sociedade, os zangões, têm a função exclusiva de copular a jovem rainha (princesa) em seu único voo nupcial, fecundando-a. Estes, pouco depois da cópula, morrem, pois deixam parte de seus órgãos genitais na rainha. No voo, a rainha é copulada por aproximadamente dez zangões, quando seus espermas são armazenados numa bolsa (espermateca) e fecundam os ovos simultaneamente à postura diuturna.
  A colônia é uma comunidade altamente socializada, possui intercomunicação constante. As apis melliferas têm sistema de comunicação complexo e se manifestam através de cheiros, danças e sons. Atraem sexualmente os zangões à rainha, informam a localização e a distância da fonte de alimento, alertam etc. Cada cheiro, cada dança, cada som, e o conjunto dessas manifestações, têm significado específico.
  Conhecendo a anatomia, a morfologia e a organização social da abelha, além da flora da região, o apicultor oferece condições favoráveis à colmeia e, dessa maneira, otimiza a produção.
  A matéria-prima do mel é o néctar das flores — açúcares dissolvidos e secretados pelos nectários. Nem todas as flores têm nectários e as que possuem variam a concentração de açúcares. Entre as boas plantas que secretam, há o eucalipto, o assa-peixe e o morrão-de-candeia. Cada florada nectarífera define a qualidade do mel — sabor, densidade, coloração e valor nutritivo.
  A abelha ingere o néctar e, no seu estômago, através de enzimas, transforma a sacarose em levulose (frutose) e o amido em maltose. Daí, estando quase nula a porcentagem de sacarose, praticamente restando açúcares invertidos, o mel propriamente dito, e é depositado nos alvéolos para amadurecer — reduzir a umidade.
  Mel é o alimento básico das abelhas adultas e compõe-se de frutose — 38,19; glicose — 31,28; sacarose — 1,31; maltose — 7,31; e, resíduos (cinzas) — 0,169.
  Pólen é o gameta masculino das flores. A partir da ingestão do mel, da água e, principalmente, do pólen, as abelhas fabricam a geleia real, alimento indispensável às larvas. O inseto coleta o pólen das anteras das flores, ainda em pó, ajunta-os em bolotinhas às patas traseiras que as transportam para a colmeia. Rico em proteínas, é fundamental ao desenvolvimento da prole.
  Arginina — 5.3; histidina — 2.5; isoleucina — 5.1; leucina — 7.1; metionina — 1.9; fenilalamina — 4.1; treonina — 4.1; triptofano — 1.4; e, vellina — 5.8, em percentuais, são os aminoácidos das proteínas do pólen.

  Geleia real é alimento fundamental à comunidade. Dieta das três castas até o 3º dia larvário e alimento exclusivo da rainha, de toda a sua vida; por isso seu desenvolvimento é excessivamente diferenciado — as operárias de 4 a 14 dias de idade, as nutrizes, usam o pólen, o mel e a água como matéria-prima para secretar a geleia. Ingerindo-os, suas glândulas hipofaringeanas localizadas na cabeça, produzem geleia real, composta de proteínas e vitaminas do complexo B. Para o homem, é estimulante do organismo e vitalizador dos órgãos em geral.
  Outro produto fundamental à abelha, mas que não é alimento, é a própolis — resina pegadiça secretada por alguns vegetais. Levada à colmeia pelas patas posteriores das campeiras, com ela o inseto une suas partes e veda frestas, embalsama animais que por ventura morrem no interior e não podem ser transportados, e veda frestas para impedir a entrada de vento. Compõe-se de 50% de resinas com bálsamo aromático; 30 a 40% de cera; 10% de pólen, óleos variados, gorduras, ácido orgânico e cinzas. A própolis não é alimento para as abelhas; para o homem, é remédio variado, diferentemente de panaceia.
  A cera, fisiologicamente é produzida para formar favos depositários de mel, de pólen e de ovos. Para as abelhas produzirem 1kg de cera, têm de consumir de 6 a 7kg de mel. O processo é orgânico: quatro pares de glândulas localizadas no abdômen secretam a cera em forma líquida; então acumulada, solidifica-se em pequenas escamas branco-marfim. Da parte externa do abdômen, é retirada pelas patas intermediárias, levada à boca onde é amassada pelas mandíbulas com o auxílio das patas dianteiras. Neste instante, as abelhas unem-se formando o calor necessário à confecção de alvéolos geometricamente hexagonais, os favos.
  A abelha tem importância enorme na polinização das flores, garante a perpetuação de espécies vegetais e o aumento de frutos e sementes. Naturalmente, a polinização é promovida pelo vento, gravidade e chuva, também pelos pássaros e insetos. Algumas flores são autofecundadas e não precisam de polinização cruzada para frutificar. Entretanto, para serem polinizadas pelas abelhas dependem da interação de atrativos mecânicos estruturais e fisiológicos não acidentais, inerentes à abelha. Há atrativos na flor, como forma, aroma, néctar etc. Desenvolver os mecanismos das relações estruturais abelha-flor é um tanto complexo. O resultado dessa interação é a polinização dirigida, orientada por apicultor especializado, em condições de distribuir as abelhas entre o pomar — sem saturá-lo — com o fim de obter sementes e frutas perfeitamente desenvolvidas, com fecundação integral. Nessas condições, há um aumento significativo na produção. Demais insetos também executam esta tarefa, embora não tão bem quanto as abelhas, visto que elas visitam as flores metódica e periodicamente. Suas características morfológicas e anatômicas também contribuem para que sejam os agentes polinizadores mais eficazes.
  Através do auxílio da abelha obtém-se maior produção de sementes e frutos de excelentes qualidades, naturalmente, sem a necessidade de processos químicos e/ou artificiais que deixam as frutas falsamente belas e realmente insípidas.
  A apis foi introduzida em nosso território pelo Padre Antônio Carneiro Aureliano, em 1839. Na ocasião, chegaram ao Brasil 7 colônias da raça apis mellifera (alemã), originária do alto dos Alpes europeus. Em 1870, foi introduzida, por F. A. Hanemann, em Rio Pardo, no Rio Grande do Sul, a raça ligústica, popularmente conhecida como abelha italiana, oriunda da Itália. Esta raça se adaptou melhor que a alemã ao nosso clima. Líderes como Hanemann, D. Amaro Van Emelen e Emílio Shenck são os nomes mais destacados de nosso primórdio apícola.

 Em 1956, com o intuito de incrementar a produção apícola, o geneticista brasileiro Warwick E. Kerr introduziu uma nova raça: apis mellifera adansonii. Nativa do sul da África, esta raça possui alta capacidade de trabalho e é muito resistente a doenças. Introduzida em Camaquan, município de Rio Claro, SP, para estudos genéticos e testes de produtividade em relação à italiana, a abelha africana foi trazida para gerar nova linhagem. Num “incidente”, 26 colônias soltaram enxames que rapidamente se multiplicaram. Raça extremamente auto defensiva, este ”descuido” criou tamanho transtorno no meio apícola — apicultores amadores ou abelheiros deixaram a atividade de lado. O professor Warwick Kerr então, distribuiu por todo o Brasil milhares de rainhas e zangões italianos para que cruzassem com os da raça africana. Com isso, depois de muitos anos se conseguiu uma abelha híbrida de italiana, alemã e africana, que, por fim, a chamam de “abelha africanizada”, por que, no conjunto das características seu gene se aproxima ao da adansonii, a raça africana.
 À época, aconteceram tumultuantes na apicultura brasileira. A imprensa sensacionalista americana alcunhou a resultante deste grupo de “abelha brasileira”, “assassina”, e, através de filmes de baixa qualidade, deturpou os ocorridos com o inseto.
  Hoje, nossa apicultura ainda adquire e cria moderna tecnologia e manejo, aumentando, consequentemente, a produção. Cientistas da faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, SP, lá atrás realizaram experiências, inclusive inseminação instrumental, com grande sucesso, de enorme utilidade para os profissionais da área. Os estados do Nordeste (Piauí, principalmente), hoje, século 21, se destacam na produção de mel, o mais popular dentre os produtos apícolas. No entanto, como meio perdido, têm-se o pólen; a geleia real (vinda liofilizada da China e hidratada no Brasil, é vendida como “nacional” in natura — o produtor brasileiro que se lasque com a desleal concorrência); a própolis como bactericida; a apiterapia com o veneno curador; a polinização cruzada ampliando e dando qualidade à fruticultura...
 Falta apoio das secretarias de agricultura para que desenvolvam trabalhos para fomentar a lida com abelhas.

bases do manejo produtivo
Princípios básicos
A visão global olha a atividade apícola com perspectiva abrangente da totalidade do ofício. Quando o apicultor objetiva metas, melhor resolve os percalços do percurso.
  A atitude do apicultor artífice, multiface, ajuda a conduzir o apiário visando inter-relacionar homem-abelha-meio-ambiente. A meta é satisfazer as expectativas em torno de técnicas empregadas nas abelhas em sintonia com a Natureza, e, desta maneira, obter a produção possível dentro das circunstâncias do período produtivo.
Produção possível é a equação de técnicas aplicadas “vezes” pasto disponível, “menos” o somatório do consumo de manutenção do enxame, “mais” as perdas ocasionais.
bases técnicas
  À exploração racional do apiário, dentro dos princípios acima mencionados, na prática o apicultor tem de resguardar um punhado de condições básicas:
  • padronizar o material;
  • distribuir as colmeias de modo a não saturar o pasto;
  • em seu raio de ação, conhecer, proteger e propagar a flora melífera;
  •  migrar buscando pasto durante todo o ano;
  •  usar cera alveolada inteira nos quadros;
  •  usar tela excluidora (o ninho é suficiente para a postura da rainha);
  •  trocar a rainha uma vez por ano, ou sempre que apresentar deficiência;
  •  45 dias antes das principais floradas, recompor as famílias, igualá-las para acompanhar o desempenho de cada colônia;
  • proteger o apiário de predadores (formigas etc.);
  •  fazer e anotar revisões periódicas (de 15 em 15 dias);
  • elaborar calendário apícola programando as tarefas;
  • usar o fumegador com parcimônia para que a fumaça não contamine os produtos, nem — importante! — prejudique a saúde do apicultor. É fundamental para a saúde do apicultor que ele use, por baixo do véu, máscara para filtrar resíduos da fumaça.
  • transportar o produto protegido de impurezas;
  • dispor de sala higiênica para a extração e manipulação dos produtos e que sejam preservados os seu valores nutritivos;
  • padronizar a embalagem; e,
  • informar ao cliente, no rótulo da embalagem, as características do produto.
  O emprego em conjunto das recomendações acima listadas torna as colônias aptas ao eficiente aproveitamento do pasto, evita o estresse das abelhas e oferece ao consumidor um produto de qualidade. Em linhas gerais, estas condições básicas potencializam o apicultor para qualquer especialização apícola ao nível de produtor.

bases sócio-econônicas e éticas
Em relação à ocupação da terra, a apicultura exerce certa vantagem sobre as demais atividades do campo. O apicultor que não possui pasto próprio, arrenda áreas de pecuaristas, fruticultores, florestais etc.
  A grande maioria paga pela exploração da florada com um percentual da produção. O contrato de aluguel do pasto deve ser bem negociado, tendo em vista que o proprietário da terra normalmente continua desenvolvendo suas atividades. As abelhas, se bem manejadas, não incomodam; ao contrário, em pomares auxiliam na polinização das flores melhorando seus frutos.
  Por outro lado, em relação a outras atividades, a apicultura sofre certa desvantagem. Isto por que, para a instalação física do apiário o espaço utilizado é realmente pequeno, no entanto, para que as abelhas pastem de maneira economicamente viável, é fundamental que o raio de ação de cada conjunto de colmeias seja respeitado. Este raio é, em média, de 1.500 metros, variando com o valor do pasto de cada região relacionada às colmeias. Do contrário, a produção é comprometida. Para não inviabilizá-la, e a do colega que por ventura já esteja trabalhando na área, o apicultor deve fazer um levantamento minucioso na região onde pretende instalar suas abelhas.
  Esta é uma questão técnica por que somente através de conhecimentos e práticas ponderadas, sempre buscando qualidade na produção e no processamento dos produtos, é que as expectativas no investimento financeiro e pessoal serão satisfeitas plenamente; também tem o fundamento relativo à ética — não havendo legislação disciplinar sobre o assunto, esta responsabilidade individual e coletiva às vezes leva à intemperança, e pode determinar as relações de causa e efeito.
 Responsabilidade social e moral conciliam necessidade & liberdade. A necessidade não basta para que o apicultor seja livre para agir; liberdade implica relação prática e social, restrita pela consciência das possibilidades do agir alheio.

o mel
Mel de abelha pode ser definido como alimento produzido pelas abelhas melíferas a partir do néctar que coletam das flores, daí é desidratado e elaborado física e fisiologicamente, resultando no mel floral tão decantado.
  O néctar das flores é basicamente constituído de água e açúcares e, eliminando ao máximo da umidade, as abelhas concentra-o; a sacarose, que é açúcar composto transformado pelas abelhas em levulose (ou frutose) e dextrose (ou glicose), açúcares simples, assimiláveis diretamente pelo nosso organismo sem sofrer processo digestivo; agora transformado em mel, é colocado nos alvéolos que formam o favo. Depois de maduro — a umidade evaporada —, está pronto para o consumo humano.
  A composição do mel varia de acordo com sua origem floral. Assim, quando se diz “mel de eucalipto”, significa que durante a safra as flores do eucalipto predominam na área visitada pelas abelhas. No entanto, há uma composição média: glicose (34%), frutose (40,4%), sacarose (1,9%), cinzas [minerais] (0,18%), e umidade de 17,7%. Os méis contêm variáveis porções de algumas vitaminas B1, B2, B6, C, ácido pantotênico e ácido nicotínico.
  A coloração, o aroma e o sabor do mel, variam conforme a fonte floral procedente. Existem méis mais claros, mais escuros, mais ou menos viscosos e com aromas diferenciados. As flores são absolutamente determinantes de seus aspectos.
  As enzimas que as abelhas depositam no mel são tão poderosas que bactérias não se proliferam no produto. Ainda assim, quando este é colhido, processado e armazenado adequadamente, tem-se que apurar a assepsia desde o campo à extração.
  Mel não engorda por que as abelhas transformam seus açúcares em açúcares simples, assimiláveis diretamente pelo organismo, e também não sofre processo digestivo.
  Todo mel puro e maduro tende, com o tempo, a cristalizar. A cristalização consiste na separação da glicose, que é menos solúvel que a levulose, e na consequente formação de hidratos de glicose em formas sólidas. É alimento com alto valor energético, apresenta propriedades digestivas, é anticéptico e regulador do intestino.
  Conservando-o em lugar fresco e seco, bem vedado, tem-se um excelente alimento.

a geleia real
Geleia real é uma pasta branco-amarelada, ligeiramente gelatinosa, com cheiro e sabor acentuadamente ácidos. É produzida pelas abelhas nutrizes para alimentar tanto as larvas durante os três primeiros dias, quanto a rainha, que se alimenta unicamente de geleia real durante toda a vida. Trata-se de um superalimento que influi no crescimento e na longevidade da rainha:
  • capacidade de reprodução — põe de 1.500 a 3.000 ovos diariamente, o dobro de seu peso;
  • precocidade —  torna-se adulta em 16 dias; as operárias, em 21;
  • crescimento maior demonstrado pelo peso, que pode ser superior ao de duas operárias;
  • longevidade extraordinária — a operária vive 45 dias, enquanto que a rainha, de 4 a 5 anos, 40 vezes mais (embora sua produtividade caia depois de ano).
  A geleia real compõe-se aproximadamente de 66% de umidade e 34% de matéria seca — 12% de proteínas, 13% de carboidratos, 5% de lipídios, 1% de cinzas e 3% de vitaminas, enzimas e coenzimas. Além de 21 aminoácidos essenciais que compõem as proteínas, há vitaminas do complexo B em grande quantidade. Assim, estimula o que é vital em nosso corpo: fortalece o sistema imunológico; aumenta a resistência para esforços físicos e mentais, prevenindo o cansaço e o desgaste de pessoas sobrecarregadas de atividades, estimulando pessoas de vida sedentária; e age como preventivo do envelhecimento precoce de células e órgãos, atenuando os efeitos negativos. Geleia real é recomendada como complemento alimentar, ativando corpo, psique e mente a funcionarem com todo o potencial, prevenindo desequilíbrios. Aconselha-se pôr 200mg (quantidade equivalente a um grão de feijão cru) sublingual, todos os dias, de preferência em jejum. Querendo, adicione tal porção a uma colher com mel.
  In natura, a geleia real obrigatoriamente deve ser conservada sob baixa refrigeração, ao abrigo da luz e da umidade, em frasco bem vedado.

o pólen e a polinização
Polinização é a fecundação de flores e a consequente reprodução de vegetais através das sementes, quando ocorre o ”acasalamento” hermafrodito entre flores de uma mesma espécie — o pólen, elemento masculino, ajuntando-se ao estigma, elemento feminino —, diz-se autopolinização. A polinização ocorre entre elementos de flores de uma mesma planta ou de plantas diferentes da mesma espécie, denominando polinização cruzada.
 Na polinização cruzada, os grãos de pólen são transportados de uma flor à outra pelo vento, a água, os pássaros, os morcegos, o homem e os insetos. Na evolução das espécies, através da seleção natural as flores e seus agentes polinizadores foram se adaptando e criando atrativos mútuos, assim se interagindo.
  A abelha é o melhor agente polinizador, possui uma organização complexa e isso a leva a visitar flores metodicamente. Sua anatomia favorece a polinização e, além de ser atraída às flores pelo néctar, é grande consumidora de pólen, alimento indispensável ao desenvolvimento da prole, única fonte proteica.
  Composição do pólen: “proteínas — de 20 a 35% — as substâncias azotadas contêm aminoácidos que são a matéria base e fundamental para a constituição dos seres vivos, tanto animais como vegetais; aminoácidos: glicídios — cerca de 35%; lipídios — cerca de 5%; vitaminas A, D, E, C, do grupo B; e, sais minerais e oligo-elementos — cerca de 3%. Há diversas substâncias, e em particular enzimas e elementos de natureza não determinada, mas que pesquisadores acreditam como tendo ação terapêutica certa. É um dos alimentos naturais mais completos”, diz Jean François Chézeries em A Saúde pelo Mel e Produtos da Colmeia. Porto: Ed. Litexa, 1984.
  Fortificante natural, o pólen estimula o nosso organismo ajudando a prevenir doenças e/ou a enfrentá-las; regulariza as funções, reequilibrando-o como um todo; contribui para renovação das células, inclusive as sanguíneas; regulariza as funções intestinais, tanto na tendência à prisão de ventre quanto ao diarreico; estimulante em casos de fadiga física e mental, à depressão e ao desânimo.
  O pólen não é considerado medicamento em si e deve ser consumido com parcimônia e equilíbrio, apenas como complemento alimentar com propriedades terapêuticas positivas. A dose ideal é de uma colher de sopa à manhã e à noitinha. Para ser bem digerido, deve ser insalivado. Após a ingestão, beba um líquido.
  O sabor, normalmente amargo, lembra o levedo de cerveja.

a própolis
A própolis é uma substância resinosa, pegajosa e gomosa encontrada em flores, folhas e cascas de alguns vegetais, notadamente no alecrim, assa-peixe, pinheiro, laranjeira, figueira, pessegueiro, eucalipto etc. As abelhas recolhem a própolis e com ela preparam um bálsamo que serve de anticéptico para diversos usos na colmeia, como calafetar, imunizar os alvéolos dos favos, desinfetando as de procriação, e impermeabilizar. Possui propriedades antibióticas que impedem o desenvolvimento de bactérias e ajudam na sua eliminação. Para o homem, é um poderoso anti-inflamatório de propriedades bactericidas e cicatrizantes.

a cera
A cera de abelha é um produto elaborado fisiologicamente por quatro pares de glândulas localizadas no abdômen das operárias. Essas glândulas são desenvolvidas em abelhas entre sete e vinte dias de vida. Após este período, atrofiam.
Para produzir um quilo de cera, a abelha precisa consumir mais ou menos oito quilos de mel. Então digerido, o alimento converte-se em gordura, e aí é necessário temperatura em torno de 35ºC — calor conseguido pelo ajuntamento de diversas abelhas — para a operária secreta-la em forma de escamas brancas. Aflorada do abdômen em estado líquido, no contato com o ar se solidifica e é retirada pelas patas traseiras juntamente com as patas dianteiras.
  Amolecida pelo calor e insalivada, começa a construção do favo que em grande número formará a casa propriamente dita do enxame. Os alvéolos que formam o favo são os depositários de mel, pólen e da cria. O inseto molda a cera e constrói alvéolos hexagonais — forma sextavada, mais econômica em espaço e oferecendo maior resistência ao peso dos alimentos armazenados.
  Os alvéolos são paralelos entre si e simétricos em relação aos da outra face do favo, possuindo uma inclinação do seu fundo para baixo, assim não permitindo que o conteúdo saia. As células (alvéolos) de zangões são maiores que os das operárias, pois os machos são maiores que as fêmeas inférteis; as das rainhas são as maiores, especiais, as chamadas realeiras, e, quando ocorrem, pendem dos favos.
  O uso da fumaça pelo apicultor como recurso para “acalmar” as abelhas, simula incêndio no enxame, na moradia, e induz as abelhas a encherem o papo de mel para migrarem.
  Por isso, todo enxame que pousa em algum lugar está com suas abelhas carregadas de mel, assim oferecendo pouco perigo às pessoas, já que por estarem empapuçadas elas não conseguem curvar o corpo para ferroar. Sem esta carga, não seria possível ao enxame a construção dos favos de cera, futura moradia, e pereceria.

  Esquema sequencial do uso dos favos:
http://www.recantodasletras.com.br/usuarios/96101/fotos/1023832.jpg
  Além de usar a cera na racionalização da criação de abelhas, o homem a utiliza nas indústrias farmacêuticas, de cosméticos e também em odontologia. É usada nas artes plásticas e em impermeabilização de diversos objetos náuticos e aeronáuticos. Com o desenvolvimento tecnológico, a cera de abelha vem sendo substituída por materiais sintéticos. Em alguns países, como a França, favos são fabricados artificialmente, e bem aceitos pelas abelhas, apenas levando um “banho” de cera natural.

bibliografia básica — fundamentos para a boa prática 
"A teoria torna-se prática por simples extensão." (Tomás de Aquino)
Vim falando sobre apicultura de um modo geral, agora, no instante, menciono um tanto de fundamento teórico. Não listo todos os livros existentes no mercado, no entanto, os mencionados e brevemente comentados são livros bons.
  Atento à ação concreta do ofício, o apicultor apoia-se em livros, revistas, informes, apostilas... É importante participar de visitas técnicas, e também, quando possível, frequentar associações, simpósios, congressos... Reciclando conhecimentos, dessa maneira se lida com elementos variáveis, qualitativamente, e a comercialização se ajusta a preços mais justos. A mundialização é inevitável, está aí, e a concorrência internacional desfavorece... Assim, que fazer?!   Quem não atentar, sem dó é capinado fora.
  1. NOVA APICULTURA, coordenado por Helmuth Wiese. Livraria e Editora Agropecuária Ltda. Porto Alegre (RG). Este livro veio ao mercado numa ocasião (1974) com a apicultura brasileira instável, se não à míngua, meio à ”crise da abelha africana”, e apicultores e muitos abelheiros param com a atividade. Wiese e colaboradores sintonizados, sistematizam técnicas e manejos próprios para a lida com essa raça. Quem persevera segue com profissionalismo, como em Avelar, Paty do Alferes, RJ, o falecido Manoel Severo — com quem tive o privilégio de trabalhar e aprender, em 1978-79 —, que ajuntou a teoria à prática. Claro e objetivo, o livro contém em si a Apicultura.
  2. APICULTURA, de Manoel Bernardo de Barros. Editado pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Instituto de Zootecnia, 1966. Embora antigo, é atual. O professor Manoel de Barros foi o grande mestre da apicultura no Estado do Rio. Esgotado, o livro encontra-se na Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, e pode ser copiado.
  3. INSETOS ÚTEIS, de Érico Amaral e Sérgio Batista Alves. Livroceres Ltda. 1979. Piracicaba (SP). Érico Amaral, parceiro de Kerr em outros trabalhos, neste texto faz boa síntese da apicultura.
  4. MANUAL DE APICULTURA, organizado por João M. F. Camargo. Editora Agronômica Ceres Ltda. São Paulo (SP) 1972. Na época que escreveram os textos, quase todos os autores eram do Departamento de Genética e Matemática Aplicada à Biologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto - USP. São textos um pouco acima da média do conhecimento dos produtores, mas assimiláveis. Coletânea indispensável para o apicultor realmente profissional.
  5. APICULTURA EM MARCHA, de Monsenhor Agenor Neves Marques. Gráfica Editora Dehon Ltda. Florianópolis (SC). 1989. O autor colaborou no livro Nova Apicultura. Neste, ainda que deixe a desejar, vamos dizer assim, atualiza aquele. O grande entusiasta e produtor sistematizou o que há de mais atual utilizando diversas vezes a revista Apicultura no Brasil, ora fora de circulação.
  6. LA VIDA DE LAS ABEJAS, de Karl von Frisch. Editorial Labor S.A. Barcelona, Espanha. 1984. Versão ao espanhol de Estanislao Rodrigues e Claudia Schaffer Müller. Von Frisch, prêmio Nobel de Medicina em 1973, dá enorme contribuição à apicultura, estuda a comunicação entre as abelhas e, notadamente, a significação das cores para elas. Livro superinteressante e de leitura bem agradável.
  7. A ORGANIZAÇÃO SOCIAL DAS ABELHAS (APIS), de John B. Free, traduzido por Denise Monique Dubet da Silva Mouga. Editora Universidade de São Paulo (EDUSP). 1980. Excelente livro sobre as abelhas, e, como o anterior, o de Von Frisch, não fala propriamente sobre apicultura, mas das abelhas em si, do comportamento social em seu habitat natural. Extremamente útil para se perceber o porquê de usar certas técnicas através do conhecimento de como as apis se organizam e naturalmente se estruturam.
  8. ABC Y XYZ DE LA APICULTURA, de Amos I. Root. Libreria Hachette S.A. Buenos Aires. Argentina. A primeira edição é de 1877. De lá para cá houve várias edições atualizadas. Seu subtítulo indica o conteúdo do livro: Enciclopédia de la cria científica y prática de las abejas.
  9. APICULTURA, de Pierre Jean-Proust, tradução para o espanhol de Carlos de Liñan y Vicente. Ediciones Mundi-Prensa. Madri. Espanha. 1981. De maneira ampla e profunda, o autor francês aborda todos os temas da criação de abelhas. Fala desde a morfologia e anatomia até a economia e legislação apícola na França — modelo a ser seguido.
  10. LA COLMENA Y LA ABEJA MELIFERA, de Dadant e Hijos, com colaboração de um conjunto de especialistas. Traduzido para o espanhol por Hannelore S. de Marx. Editorial Hemisfério Sur. Montivideo. Uruguay. 1975. A Organização Dadant, em sua quinta edição, é usada em todo mundo. Livro com diversos colaboradores de primeira linha do universo apícola. Indispensável.
  11. O LIVRO DO MEL, de Eva Crane. Tradução de Astridi Kleinert Giovannini. Livraria Nobel S.A. 1983. São Paulo (SP). Como o título indica, tudo sobre o mel. As abelhas e as plantas; características e utilizações no lar; passado e presente etc. Leitura obrigatória para quem produz e consome mel.
  12. A DEMOLIÇÃO DO HOMEM — CRÍTICA À FALSA RELIGIÃO DO PROGRESSO, de Konrad Lorenz. Editora Brasiliense. 1986. Revisão da tradução de José W. S. Moraes e Newton T. Sodré. Pelo título percebe-se que este livro não sugere coisa alguma de criação de abelhas. Decerto. No entanto, aqui entremeio o airoso pensador vienense mais do que o iniciador da moderna etologia com o estudo do comportamento animal no mundo próprio. Por seu intermédio, sugiro paralelo às oscilações do homem tecnologista, assim-assim tentado, lidando com criações de bichos. As “... pessoas [que] só parecem ser ‘normais’ porque a voz do humano, nelas, já emudeceu”, essas tendem reorientar os próprios valores domesticados pelo decadente meio-social, e em vão interagir com organizações variadas. Ele, aquele indivíduo divisível, ainda que se considere impoluto, sensível-racional e dotado de grandes abstrações, contudo apequenado, de alma alquebrada dá voz ao instinto animalesco impalpável. Dessa maneira tenciona dignificar a funesta humanidade individual...
Germino da Terra
Enviado por Germino da Terra em 16/07/2013
Reeditado em 02/06/2016
Código do texto: T4389401
Classificação de conteúdo: seguro
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