Traço de personalidade X Transtorno de personalidade.

Tudo aquilo que fazemos constantemente, acoplando a nosso comportamento, se torna uma característica de nosso ser, ou seja, um traço de nossa personalidade. O célebre líder indiano Mahatma Ghandi tinha total apreço pela pontualidade, o que tornou a disciplina um traço de sua marcante personalidade, e poderíamos dizer também que: uma qualidade de seu espírito.

Essa disciplina norteava não apenas suas ações acerca da pontualidade, como também todas as outras iniciativas que Ghandi se dispusesse a realizar. Porém, diante dessa disciplina, o Mahatma possuía o equilíbrio, não exigia dos outros, mas sim de si mesmo. Era ele informal, sorridente, amigo... Não fazia de sua disciplina algo taciturno, mal humorado, com a doentia mania de constranger os outros exaltando suas virtudes para que estas realçassem a limitação alheia.

A disciplina era simplesmente um traço da personalidade do Mahatma, não um empecilho à seu relacionamento com o mundo.

Porém, diferente do traço de personalidade é o transtorno de personalidade, que exerce enorme pressão sobre a vida da pessoa, impedindo-a de viver plenamente, porquanto, a coloca como refém de sensações e sentimentos que a faz enxergar ilusão no lugar da realidade.

O que a psiquiatria define como: transtorno de personalidade obsessiva, é um exemplo. Portadoras desse transtorno, essas pessoas exigem demais de si e dos outros, perdendo-se em detalhes e formalidades que nada acrescentam, onde a frieza nos relacionamentos as faz trocar o prazer da convivência em família pelo excesso de trabalho. Vestem a máscara do perfeccionismo para transmitirem uma imagem de força e auto confiança, porém, em realidade, são frágeis, no fundo necessitam de ajuda para se livrarem desse bloqueio psicológico.

E por falar em transtorno, calcula-se que 2% da população mundial seja portadora do chamado TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo), que caracteriza-se pelos excessos e pensamentos contínuos em torno de algo ou alguma coisa, o que acaba prejudicando sua vida social. Começa-se a lavar as mãos em demasia com medo de se contaminar, passa-se a ter cuidados exagerados com organização, e por ai vai. Peço licença ao leitor (a) para narrar experiência pessoal. Por muitos anos vivi com uma estranha mania: arrumava chinelos, sempre com o pé direito à frente do esquerdo, em minha imaginação, se o pé esquerdo ficasse à frente do direito, aconteceria alguma calamidade com minha família. Era um tormento, uma obsessão, minha mãe começou a ficar preocupada porque aquela mania me impedia inclusive de prestar atenção nas aulas, meu pensamento vagava: será que alguém em minha casa está com o chinelo do pé esquerdo à frente do direito? Procuramos um psicólogo, foi onde com seu apoio pude vencer esse transtorno. Tratava-se de TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo), a doença do segredo. As pessoas que sofrem de TOC, não raro, sabem o absurdo de seu comportamento, e por receio de serem taxadas de anormais deixam de se manifestar. Lamentavelmente há muita gente sofrendo calada, vivem com o verniz da aparente tranqüilidade, mas a alma se debatendo em constantes lutas íntimas, por puro desconhecimento. Deixam de procurar auxílio e cada vez mais se afastam de uma vida saudável.

Necessário é romper paradigmas e levar as conquistas da ciência até o cotidiano das pessoas. Quebrar mitos que persistem por décadas de que psiquiatras tratam apenas de pessoas com insanidade mental e psicólogos atendem somente pessoas com distúrbios emocionais.

Certa vez, deparei-me com constrangedora situação. Uma senhora de aproximadamente 40 anos, necessitada de apoio psicológico, não aproveitava os benefícios da ciência contemporânea porque seu marido teimosamente lhe dizia que o que ela tinha não era nada, e que Jesus daria um jeito. Nada de psicólogo, nada de tratamento.

O que o marido dessa senhora desconhece é que a ciência, em suas mais diversas formas, é magnânima força divina a nos beneficiar neste planeta escola. È pela própria bondade de Jesus que recebemos a oportunidade de melhor resolver nossos traumas íntimos, nossos medos, receios, anseios, portanto, justo que utilizemos os recursos que temos em mãos.

Esse apartheid de ciência e religião entrava o progresso humano e a qualidade de vida das pessoas. Ciência e religião se completam, são “almas gêmeas”... A ciência sem religião esbarra no materialismo, a religião sem a ciência resvala para o fanatismo. Há uma teimosia nociva por parte de alguns (ainda bem que são só alguns) cientistas e religiosos que fazem questão em promover essa segregação.

A prepotência dos cientistas materialistas que querem explicar o universo sem um criador os afastam de resolver muitas de suas indagações, perdem-se eles em um materialismo infrutífero, reverenciando um Acaso que tem fabulosa capacidade organizadora e infinita inteligência. O bom senso porém, refuta a idéia de que o Acaso possui todos esses atributos. Ao passarmos os olhos pelo universo logo veremos que há quem governa “Céus e Terra”, com infindável maestria, não existe efeito sem causa, portanto, um efeito inteligente como o universo não é fruto do Acaso, mas sim de uma sabedoria sem precedentes. Por outro lado, há a ingenuidade de alguns religiosos que se afastam da ciência e perdem-se em um fanatismo que leva do “Nada ao Lugar nenhum”.

Ciência e religião, queiram ou não cientistas e religiosos, fatalmente irão se encontrar, acabando com essa rivalidade e provando a todos que ambas atuam em conjunto, concorrendo à felicidade humana na Terra.

Wellington Balbo
Enviado por Wellington Balbo em 09/04/2007
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