Leituras I
A frase inicial do livro diz assim:
"Eulália começou a morrer na terça-feira"(...)
O leitor mais assíduo aos bons autores, já saberá identificar a obra, à qual faço referência.Trata-se de Nélida Piñon em A República dos Sonhos.Uma narrativa sobre as vicissitudes e venturas de uma família espanhola em terras brasileiras.
Quando se depara com uma afirmação daquele quilate, logo de saída,toma-se um choque.Fica-se tomado daquela comoção que todo bom enredo deve despertar.E logo se pensa no que levaria um ser humano a sentir-se morto em vida, sem que a doença tenha tomado conta de seu corpo.
É possível que a morte se nos apresente assim,sem darmos por ela,num dia qualquer do calendário,quando ainda respiramos e vamos às compras e lavamos os nossos lençóis e parecemos ter saúde.
No caso do enredo,o contexto tem a ver com as agruras de uma vida de muita luta pela sobrevivência numa terra distante do solo natal.Tem a ver com um casamento antigo e desgastado.Com um marido circunspecto e saudosista.Com uma mulher encobridora das suas emoções.E tem ,desconfio vivamente,muito a ver com o sentido desta outra afirmação dolente:
(...)"Madruga deu-se conta de que jamais freqüentara o fundo do quintal daquele coração"(...)
A resposta,talvez,esteja aí.
Mas, se ele não esteve interessado pelos sentimentos dela por toda uma vida ,por que começar a morrer na terça-feira?
Veremos.Em breve,haveremos de sabê-lo.Por ora, conservemos esta indagação ,como a chave que nos abrirá as portas desse imenso casarão de setecentas e quarenta e oito páginas.
Até mais ler!