A MULHER QUE VENCEU O IMPOSSÍVEL

A vida lhe tirou os movimentos de pernas e braços. Em uma cadeira de rodas, empurrada pela mãe, Cleones, a jovem Lívia Barbosa Cruz, 27 anos, por conta de uma paralisia cerebral, só tem o movimento da cabeça e fala com certa dificuldade. Isso, no entanto, não é suficiente para deixá-la de cabeça baixa, num canto, se lamentando da vida.

Há pessoas que nasceram para brilhar mesmo que a vida lhes tenha reservado um caminho mais tortuoso para trilhar. Lívia é a prova viva de que o ser humano é capaz de se reinventar, vencer as limitações e ser feliz, inspirando multidões.

No parto, o médico deixou passar da hora e usou o fórceps, que machucou a cabeça de Lívia, provocando paralisia cerebral. Desde o início da vida, teve que se adaptar para vencer as dificuldades. Tem na família um grande suporte. Além da mãe, recebe total apoio do pai, José André, e do irmão, Jeferson. Pequenas tarefas de higiene pessoal e cuidados são feitos pela mãe, Cleones.

Toda essa dificuldade seria suficiente para desanimar e atrofiar o ânimo de qualquer pessoa. Mas Lívia não é uma pessoa qualquer: nasceu para vencer e tem ido à luta.

Dedicação para vencer

Aluna dedicada, concluiu o Ensino Médio no Colégio Jalles Machado, com méritos. Nunca repetiu um só ano de escola. Sempre escoltada por uma professora acompanhante, Nair, que fica ao seu lado, fazendo suas anotações, Lívia foca sua atenção na leitura e nas explicações dos professores. "Nair é minha mão na sala de aula. É também uma amiga", conta Lívia.

Em 2009 realiza um grande sonho: passa no vestibular para História na Universidade Estadual de Goiás (UEG). Como a unidade não possui elevador nem rampa (e todas as salas de aula são no piso superior), a UEG improvisou a sala de vídeo para ser sala de aula. Graças a esse arranjo é possível Lívia estudar. Sua mãe a leva todos os dias e a auxilia na faculdade.

Mas a ajuda é apenas motora. Intelectualmente, Lívia se garante. Aluna dedicada, consegue sempre boas notas e é muito querida por seus colegas. Tem na professora Valdelice Camilo, a Preta, seu maior incentivo na faculdade. "Passei a gostar de História por causa dela", conta.

Preta retribuiu o carinho. "A Lívia não têm o domínio do corpo, mas domina totalmente seu intelecto. É inteligente, argumentativa, crítica, bem humorada. Como historiadora e educadora, ensino os fatos e os atos dos personagens da nossa história. E na nossa história cotidiana, temos uma heroína, a Lívia", disse a professora. "Quem a conhece a respeita. A Lívia é assim: impertinente, rebelde, contestadora!".

Outros horizontes

Em dezembro, Lívia concluirá o curso de História. Uma caminhada árdua, mas que será ultrapassada por ela com louvor. "Tenho vontade de fazer Direito também", adianta a acadêmica. Antes, porém, ela pretende realizar outro sonho: publicar seu primeiro livro, que está em fase adiantada de produção. É um romance que aborda o amor e suas impossibilidades. "É baseado em histórias reais. Cinco mulheres que amaram em segredo", adianta.

Como não consegue manipular uma caneta, Lívia encontrou no computador seu fiel companheiro. Digita seus textos com o nariz. A prática foi aperfeiçoando a técnica. É desse modo que ela conversa com amigos no Facebook, redige seus trabalhos universitários, escreve seu livro e acessa as novidades da grande rede.

Lívia é uma moça como outra de sua idade: gosta de ir a shows, festas, ler, ver filmes e ouvir músicas. Um sonho de longa data foi recentemente realizado: conheceu pessoalmente seus ídolos Zezé di Camargo e Luciano, em Goiânia. "Já estava feliz de vê-los cantando, de estar no show. Imagina estar no camarim com eles", conta, emocionada. Lívia, inclusive, deu um coração de pelúcia a Zezé.

Canudo na mão, livro editado, sonhos realizados. Assim é a vida de Lívia. Para quem olha de longe vê apenas uma mulher com necessidades especiais. Quem vê e convive de perto sabe que na verdade se trata de uma mulher forte e inteligente capaz de grandes proezas. De especial ela tem apenas o talento e a fome de vencer os desafios.

Anderson Alcântara
Enviado por Anderson Alcântara em 30/09/2013
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