Morrer está cada vez mais difícil!

Para aqueles que consideram a vida cansativa, enfadonha, chata mesmo, e querem logo transferir residência para o lado de lá, considerando que passarão dessa literalmente para uma melhor, infelizmente sou portador de más notícias. Sim, caro leitor, morrer atualmente está cada vez mais difícil, para desespero de nossos políticos que não imaginavam que a “ciência lhes passaria a perna”, aumentando o período de experiência no corpo físico, e conseqüentemente elevando ainda mais o rombo da previdência social. Segundo estimativas do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em 2.060, o Brasil terá mais de 260 milhões de habitantes, e desse universo, 14 milhões já terão ultrapassado a casa dos 80 anos. Veja, caro leitor, você poderá ser um deles, portanto, vá se preparando, porque certamente virão netos, bisnetos e quem sabe, tataranetos. Haja histórias pra contentar a gurizada. Um amigo, piadista de plantão, disse que as coisas estão tão complicadas que até pra morrer está difícil, e é verdade mesmo.

Culpa da ciência que avançou a largos passos, nos possibilitando algumas décadas há mais no corpo físico. A varíola, por exemplo, há alguns séculos extinguia milhares de vidas, até que o médico inglês Edward Jenner, em 1796, descobriu a vacina contra a varíola, beneficiando infinitas criaturas com sua descoberta.

Algum tempo depois e o norte americano Thomas Green Morton, em 1.846, quebrou a barreia da dor, introduzindo a utilização das anestesias nas cirurgias, possibilitando assim intervenções cirúrgicas mais complexas, e com isso mais vidas foram salvas.

No século XIX, nos hospitais, pacientes que não morriam nos traumas cirúrgicos, pereciam de infecções motivadas pelas precárias condições de higiene, foi quando o inglês Joseph Lister, em 1865, descobriu que o fenol podia esterilizar instrumentos cirúrgicos. E eis que ai ganhamos também mais alguns anos de vida.

Mais adiante, em 1928, o médico inglês Alexander Fleming, foi o responsável pela descoberta da penicilina, com o advento dos antibióticos, pudemos nos safar de inúmeros males que abreviavam a peregrinação terrena.

E não pára por ai, com a descoberta do cientista francês, naturalizado americano Alexis Carrel, nos anos 20, de manter tecidos vivos fora do corpo, desenvolveram-se as técnicas de transplante de órgãos, restabelecendo a esperança de viver para quem estava mais do lado de lá do que do lado de cá.

Há também que salientar que as condições de higiene mudaram, hoje muitas pessoas têm acesso a água potável, esgoto e por ai vai. Infelizmente existem aqueles que vivem em rincões desse mundo à margem do progresso, todavia, forçoso admitir o progresso já efetuado pelo homem, aumentando assim nossa estadia no escafandro de carne.

Mas por que isso ocorre? Por que o progresso chegou de tal forma a nos beneficiar com mais algumas décadas de vida?

A resposta é simples: pela Bondade Divina. Deus, em sua infinita misericórdia e inteligência vem nos presenteando com maiores oportunidades de retificação e evolução, daí a gentileza concedida pelo Pai Maior de ficarmos mais tempo mergulhados nessa Terra Escola.

O mesmo amigo piadista costuma brincar dizendo que a Terra foi invadida por espíritos rebeldes, por isso devem permanecer mais tempo no corpo físico, e para comprovar sua tese faz alusão à mensagem do Cap. V. de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”: “Se fosse homem de bem, teria morrido”. Pura maldade! A vida é mesmo uma bênção, embora muitos a considerem fardo pesado, ela não é nada disso. Nós é que muitas vezes complicamos e agasalhamos sentimentos e pensamentos que nos atormentam. Queremos que os outros ajam assim ou assado, e consideramos qualquer contratempo uma irremediável cobrança de existências passadas. Ah, o que fiz para ele ou ela para merecer vida assim! Mas agora será diferente, suportarei meu marido ou minha esposa com coragem e valentia para dele ou dela me livrar em posterior existência! Exclamam alguns mais exaltados.

Argumento simplista, porquanto o esquecimento temporário serve justamente para refrescar nosso coração quanto aos incêndios dos atritos, muitas vezes motivados pela nossa própria intransigência. Se passarmos a observar todos que nos cercam e discordam de nosso ponto de vista ou de nossa maneira de proceder julgando que são nossos inimigos de existências pretéritas, certamente acumularemos dissabores maléficos, não raro, chegando ao absurdo de tentar o suicídio por achar a vida penosa, enfadonha e sem sentido.

Por isso, caro leitor, é bom nos prepararmos devidamente para bem aproveitarmos as chances do lado de cá, enxergando oportunidades no lugar de problemas, porque nosso estágio aqui neste Planeta, segundo as estatísticas, tem tudo para ser mais longo, então melhor que o façamos de forma serena, porque esperar para chegar do lado de lá para encontrar a serenidade, pelo visto irá demorar muito tempo, porquanto morrer está cada vez mais difícil.

Wellington Balbo
Enviado por Wellington Balbo em 19/04/2007
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