Marcelo Déda e a manifestação de um médico

Sinto uma forte repulsa ao escrever este texto. E esta repulsa ainda me acompanhará por longo tempo. Vi e li, ontem, na Internet, sobre um médico que se manifestou, em rede social, declarando algo, no mínimo, escabroso. Teria dito o médico, no Estado da Paraíba (eu não sei se esse médico é natural daquele estado brasileiro), que o falecimento do sergipano Marcelo Déda significaria um petista a menos.

Parece isto uma espécie de pesadelo, logo partindo de um profissional de quem se espera a luta incansável pela vida. O que mais importa num acontecimento como este é que todos precisamos urgentemente refletir sobre por quais caminhos segue a humanidade. O indivíduo não nasce partidário e nem está aprisionado aos partidos políticos, mas, sim, está profundamente mergulhado nessa condição de ser humano, desconhecedor de suas próprias origens, de seu destino. E não é possível entender um profissional da medicina pensar e agir de forma bruta e insensível.

Sei que alguma pessoa, ao ler este texto, poderá até supor que pertenço ao partido do falecido governador sergipano, no que estará pensando de forma equivocada. Se se pensar que eu teria algum motivo maior, a exemplo de ter sido agraciada por alguma posição na administração pública, o equívoco fica maior ainda. E se acreditar que considerei Marcelo Déda um bom governante para o professorado, tal equívoco se torna gigantesco.

Senti, na época das eleições, a alegria e a esperança de ver em Marcelo Déda uma promessa de avanço para os educadores. Gostava de ver e de ouvir o então candidato, um conhecedor das palavras, tanto orais quanto escritas, fazer pronunciamentos inflamados, mas também objetivos, contundentes e fundamentados. Apreciei o discurso de posse, enfim, muito de Marcelo Déda me chamou a atenção. Entretanto, os professores não viram as promessas realizadas e se sucederam as greves. Foram muitos os impasses e duro ver o sonho fugir com a saúde do governador.

Marcelo Déda não precisa de minha opinião sobre sua competência, sobre sua verve política, sobre sua eloquência. Ele realmente nos ensina até mesmo morto, entregue ao público, em praça pública. Tanto a sua bela figura masculina, quanto a emoção que demonstrava discursando, essa cena em praça, nos braços dos sergipanos, e o fato de ele também ser poeta, colocam em meu imaginário a figura do baiano Castro Alves.

Não me recordo de um velório e solenidades, em terras sergipanas, de tanta força e demonstração de carinho, amor e respeito quanto presenciei pelo político Marcelo Déda. Nem mesmo o passamento de João de Seixas Dória teve tamanha manifestação do povo. Fiquei refletindo sobre as cenas que vi na Praça Fausto Cardoso e outras que foram mostradas nos noticiários. Se algum gesto indelicado, se alguma palavra foi mal colocada nas ruas de Aracaju, eu não testemunhei uma ou outra coisa. O que vi e ouvi foi a declaração de amor ao jovem sergipano, ao intelectual, ao político, ao Chefe de Estado. Até aproveito para felicitar o povo da minha terra, que, naquele momento de uma perda que incomoda o Estado de Sergipe, soube respeitar e separar a questão política da morte.

Entretanto, me surge esse médico, na Paraíba, envergonhando aquele povo de fibra e toda a nação brasileira. Não exatamente em virtude do homem Marcelo Déda, mas precisamente pelo comportamento que não condiz com o de um profissional da nobre área da Medicina, meus pêsames, “doutor”.