TENTAÇÃO I.5

PALAVRAS DE VIDA

Pastor Serafim Isidoro.

TENTAÇÃO - 1.5

Nossos quatro artigos anteriores com esse título têm como endereço as pessoas que sofrem. Poucos são os que têm passado pela vida sem dores, sem sofrimentos seja de enfermidades físicas ou de problemas de ordem moral, dores na alma causados por outras pessoas ou por si próprios. Aos setenta e oito anos de idade, tendo pastoreado cinco igrejas ao largo de meu ministério, viajando como promotor de seminários ou nas Cruzadas Bernhard Johnson durante vinte anos, tenho presenciado o quanto sofre a humanidade. O Mestre dissera: “No mundo tereis aflições”.

Para mim foi crucial a morte de meu pai ocorrida durante a Convenção Estadual de Pastores no ano mil e novecentos e sessenta e dois. Acompanhei os sofrimentos das cólicas dele durante toda aquela noite no hospital, sem entender-lhes o por que. Havíamos orado pedindo o restabelecimento, a cura daquelas dores. Nós o ungimos conforme preceituam as Escrituras. É muito difícil sabermos a razão do sofrimento em outras pessoas. Pregador do Evangelho já por mais de quatro anos em cidade do oeste mineiro onde no ano mil e novecentos e cinquenta e oito fui apedrejado em um culto ao ar livre, crendo na doutrina da cura divina eu não podia passivamente aceitar a situação de sofrimento e dor pela qual meu pai passava naquela noite. Mais do que trezentos obreiros do Evangelho ali estavam revezando-se, às vezes, para visitar e orar pelo enfermo. As dores dele eram intensas.

Quando tudo se fecha em nosso redor, buscamos do alto a nossa saída, o nosso socorro. Abri a minha alma pedindo ao Senhor uma resposta quanto à realidade daquela situação. Disse-Lhe não poder mais pregar o glorioso fato de que Jesus cura as nossas enfermidades, já que não tínhamos resposta às nossas orações. Pedi-Lhe que falasse de alguma maneira comigo. Abri minha Bíblia ao acaso e li: “E por haverem desprezado o conhecimento de Deus, o próprio Deus os entregou a uma disposição mental reprovável..." -” Rm. 1.28. Fechei então a bíblia, continuando a não entender o que estava ocorrendo.

Na dor, nossos sentidos se embotam, nossa visão espiritual se torna turva, pelo que as Escrituras aconselham: “Orai uns pelos outros”... Mas ali naquele quarto estávamos agora sozinhos. Não entendi a tão clara resposta de Deus. Conhecer a Deus nos Seus propósitos é algo especial naqueles que desejam fazê-lo. Paulo escreveu dizendo que desejava conhecer ao Cristo e a grandeza da Sua ressurreição.

No dia seguinte meu pai faleceu.

Após o sepultamento, mais tarde voltei ao templo onde a acirrada convenção era transcorrida. Seu então presidente, Pr. Bernhard Johnson Jr. ficou como que paralisado após fazer a oração de abertura da sessão. Alguém preocupado indagou-lhe se sentia-se bem. Sua resposta foi a de que tivera uma visão de lençóis negros que desciam sobre as cabeças de alguns dos obreiros ali presentes. Houve então um reboliço dos obreiros desejando saber sobre quais ele tivera essa visão. Sua resposta foi contundente: “Aqueles a quem vi já devem estar sabendo quem são”.

Depois de presenciar o sofrimento de meu pai na noite anterior, sem resposta favorável de Deus às nossas orações, aqueles obreiros tornaram-se cônscios quanto à iminência da morte. Eu começava agora a entender o valor para Deus da sofrida morte de meu pai.

Em um rebuliço naquele templo os obreiros abraçavam-se pedindo perdão uns aos outros e a rebelião dos que traziam documentos de acusação cessou em um turbilhão de lágrimas. A mim parecia o dia de Pentecoste. Foi a maior agitação de obreiros que já presenciei. Em Sua sabedoria Deus usou da morte de meu pai para resolução dos problemas daquela, hoje saudosa convenção estadual do ano mil e novecentos e sessenta e dois. Astolfo Isidoro, Presbítero, foi recolhido à glória.

(Continúa: I.6.