Amores roubados

Acompanhei algumas críticas ao trabalho cujo roteiro para TV é assinado por George Moura, adaptado do folhetim “A Emparedada da Rua Nova”, do pernambucano Carneiro Vilela (1846-1913). Quanto à minissérie, quando pude acompanhar, já andava pelo segundo ou terceiro capítulo. Enfim, toda aquela nordestinidade me pegou de cheio e continuei assistindo até o último capítulo. Repito que a salvação da TV tem sido o Nordeste e toda a beleza e calor que ele encerra. Repito que o Brasil é nordestino, que me desmintam os historiadores.

As críticas que li dizem sobre as qualidades da produção e evidenciam alguns detalhes, especialmente o final. Como sempre, o romantismo incurável de todos nós exige um final feliz, mas como esse final poderia acontecer com um rapaz que teria que agradar a gregas, troianas e nordestinas?

Que azar deu o marido de Isabel, logo dentro de sua casa, a mulher e a filha apaixonadas pelo mesmo homem, o que deixaram bem claro para o poderoso das uvas e do vinho. Poderoso por aqui é o que jamais faltou. Se não pelas uvas e vinhos, mas pela cana, pelo algodão, pelo gado. Aliás, todos os nordestinos são poderosos, os pobres e os ricos.

Somos donos de nós mesmos, deste rincão, deste azul do céu, desta lua poeta, deste mar sem igual, da brisa, do sol, das estrelas.

Percebi que o resumo das críticas foi bastante positivo e que a audiência até surpreendeu às expectativas da emissora. Pois é, mais do nordeste buscarão, por certo.

Quanto à forma de apresentação do enredo, considerei, particularmente, quase tudo muito bom, pois somos gente mesmo assim, o que foi mostrado com toda a riqueza e requinte da arte dramática. Todos os papeis foram desempenhados em um nível de excelência impressionante. Evidencio a grandiosidade das cenas em que Murilo Benício excede em perfeição ao chorar por Isabel (Patrícia Pilar) e, ainda, na forte cena do encontro com a filha. O desempenho de Iris Valverde também foi irrepreensível e atingiu o clímax no discurso diante do esquife do avô. Todos, pra ser justa, todos estão mesmo de parabéns.

As paisagens foram capturadas por um olhar de muito amor pelas terras nordestinas, seria o dono desse olhar também um nordestino?

Acerca do final, parece que o seriado não conseguiu agradar tanto, especialmente pelo motivo já mencionado no início do texto, mas eu digo que, de verdade, de verdade mesmo, o normal por aqui seria que as mulheres não ganhariam dos homens e nem talvez ficassem vivas para contar alguma história. Ainda por cima nas poeirentas, ensolaradas e magníficas bandas do sertão onde o sol é muito macho. Ou metido a macho.