Humor no casamento.

Aquele casal vivia as turras.

Ela reclamava dele. Ele implicava com ela.

Em nada mais se pareciam com os namorados apaixonados de outrora. As juras de amor deram lugar as caretas pelas costas. Qualquer semelhança com a realidade, caro leitor, é mera coincidência, mas continuemos.

O filho resolveu ir até a locadora alugar filme de comédia para ver se melhorava o astral da casa.

Sentaram-se os três para assistir, pai, mãe e filho.

Ela gargalhou, ele implicou.

Ele gargalhou, ela reclamou.

O filme de comédia acabou sem que ambos pudessem de fato dar uma gostosa gargalhada para espantar o mau humor, foram dormir como de costume, na mesma cama, porém, cada um imerso em seu desanimado pensamento.

Enquanto namorados tudo vai as mil maravilhas. São promessas de amor eterno, beijos e abraços apaixonados.

Sorrisos mil, ele o supra sumo do bom humor, ela a diva da alegria.

Se comunicam com o olhar, foram feitos um para o outro.

As limitações de cada um são minimizadas pela compreensão, as virtudes maximizadas pela paixão.

Até o ciúme, essa chaga que não raro descamba ao crime, ganha simpatia, servindo como tempero da relação.

O casamento então é inevitável, afinal, querem constituir família e os filhos irão coroar esse infinito amor.

Mas eis que os anos passam, a paixão arrefece. As dificuldades surgem, o mal humor aparece.

Os sorrisos saem de cena para a entrada da reclamação, ironia, indiferença.

O ciúme antes simpático torna-se antipática algema a constranger mais ainda uma conturbada relação.

Por que será, amigo leitor, que o passar dos anos juntos azeda muitos casamentos, ao invés de açucará-los?

Como resposta poderíamos dar a instabilidade emocional, a imaturidade, a indiferença, todavia, preferimos focar o comentário sobre os transtornos de humor que muitas vezes acomete um dos cônjuges, ou até mesmo os dois.

São grandes os números de relacionamentos que se desfazem porque um ou outro está sofrendo de Transtorno Ciclotímico, que se caracteriza por mau humor persistente, onde as reclamações se fazem ferozes e a sede por compreensão ultrapassa os limites do bom senso.

Ao perceber o azedume do comportamento, que se persistir pode ocasionar o fim da relação, do casamento, da família, imperioso exercitar a humildade e a sinceridade consigo mesmo, reconhecer que está precisando de ajuda não é sinal de inferioridade, mas sim de maturidade.

Importante dialogar com o cônjuge, expondo-lhe seus pontos de vista, para que a harmonia se restabeleça.

O ser humano tem dificuldades em reconhecer que está precisando de ajuda, principalmente a ajuda psicológica. O orgulho fala alto e muitos colocam-se apenas na posição de colaboradores, mas jamais na posição de necessitados. Querem passar sempre uma imagem de constante equilíbrio e com isso sofrem calados, uma pena.

Muitos casos dramáticos poderiam ser resolvidos se nos dispuséssemos a dialogar mais, procurando apoio de nosso semelhante quando algum problema nos angustia o ser.

Externando nossos dilemas íntimos, admitindo que necessitamos de apoio, que pouco podemos sozinhos, e que o comportamento azedo apenas nos afasta de quem nos ama, certamente daremos grande passo para uma relação saudável com aqueles que convivem mais estreitamente conosco, colaborando então para nosso próprio crescimento como filhos de Deus.

Wellington Balbo
Enviado por Wellington Balbo em 28/04/2007
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