AGRICULTURA INDÍGENA

INTRODUÇÃO

Ao chegar ao Brasil, o colonizador encontrou os indígenas com sua agricultura capaz de alimentá-los e conservá-los sem nenhuma indicação de que haviam sofrido baixas por desnutrição, ou por epidemias ou pestes.

Os estudiosos chegaram à conclusão de que, muito antes de aqui chegarem os colonizadores, os índios manejavam seus ecossistemas e conseguiam sustentar muito mais gente do que se pensou por muito tempo.

Os índios não só coletavam como também cultivavam e até fizeram seleções genéticas. Altas densidades populacionais foram mantidas por milênios e os ecossistemas ao redor preservados.

Essas conclusões indicam, apontam para que os indígenas tivessem saber e que sua agricultura os permitiam viver com grande grau de integração e harmonia com a natureza.

CARACTERÍSTICAS

É mais do que evidente, que a agricultura era para a subsistência de cada grupo indígena e as técnicas de plantio desenvolvidas são, ainda, utilizadas por pequenos agricultores por todo o país e conhecida como coivara.

Coivara é agricultura de corte e queima que o indígena fazia de modo controlado e produzia baixo impacto ambiental. Consiste em derrubar pequeno trecho de mata, separação e secagem da mata derrubada e queima, para que, no início do período chuvoso se iniciasse o plantio de diversas espécies.

Muitas tribos indígenas dominavam técnicas sofisticadas, que incluíam desde conhecimentos de calendários agrícolas baseados na astrologia, até técnicas de seleção e manejo de solos, bem como para a diversificação de culturas.

Para ilustrar, podemos citar: os índios mundurukus desenvolveram processo avançado de escolha de áreas para o plantio, hoje só conseguidos com aplicação de conhecimentos específicos, tais como: topografia, fertilidade do solo, drenagem etc. Além disso, estipularam metodologia para o plantio e colheita, ainda hoje utilizada pelos pequenos agricultores familiares da Amazônia.

Com relação ao manejo procuravam imitar a natureza. Os índios da Amazônia tinham em suas roças grande variedade de espécies, de forma semelhante à vegetação nativa. Procuravam, também, seguir o modelo natural de sucessão, para a alteração das estruturas de suas roças.

Dessa forma, essa diversidade de cultivo criava barreiras biológicas, portanto naturais, que reduziam bastante a propagação de pragas e doenças.

Os indígenas, de modo geral, tinham como princípio a divisão dos trabalhos entre homens e mulheres. Na agricultura não era diferente. Os homens cuidavam dos trabalhos até o plantio e as mulheres dos trabalhos da colheita.

COLETA

Dentre os principais produtos de coleta destacam-se borracha, cacau, guabiroba, guavira, umbu, mangaba, jabuticaba, piquia, bacuri, abiu, ingá, cupuaçu, jacaratiá, mucajá, guarajá, pitomba, pitanga, fruta de conde, araticum, murici, cajá, araçá ou goiabinha, jenipapo e jatobá.

Todas essas frutas estão hoje integradas na dieta alimentar do povo brasileiro, sobretudo do norte, nordeste e do centro-oeste.

Das palmeiras são coletados o babaçu, a castanha do Pará, a castanha sapucaia, castanha do Maranhão, o açaí, os pinhões.

DIVERSIDADE DE CULTIVO

Na Amazônia o milho é cultivado pelos índios como suplemento à cultura da mandioca. Isto ocorre devido: o milho é menos produtivo do que a mandioca por unidade de área; o milho exige térreas mais férteis, pluviosidade regular e pede melhor eficiência no preparo dos campos de cultivo; e o milho tem de ser colhido quando amadurece, ao passo que a mandioca pode ser armazenada na terra por vários anos, ou então na forma de farinha durante meses.

A batata doce, assim como outros tubérculos ricos em amido foi domesticada em áreas onde grãos como o milho não se adaptavam. Além de outras tribos, era alimento básico dos kaiapós, dos timbiras e dos xavantes.

O cará cultivado entre outras tribos por kaiapós e asurinis. Frequentemente confundido com o inhame, trazido das ilhas de Cabo Verde e São Tomé e aqui aclimatado.

Ariá pertence ao grupo da marantácea, como a araruta. É a mais comum e a de melhor paladar e foi domesticada por tribos amazônicas. Os kaiapós reconhecem cinco variedades. Três delas produzem do bulbo de reserva da raiz e as outras duas brotam da batata, o que indica seleções bem diferentes na sua domesticação. São consumidas assadas e amassadas com farinhas.

Amendoim uma das plantas cultivadas atribuídas ao Brasil. Os kaiabis destacaram-se nesse cultivo.

Favas e feijões cultivados nas roças dos tupis na costa do Brasil.

Certamente é ignorado que no caso das frutas cultivadas, séculos de experimentação e seleção genética decorreram a fim de tornar possível sua retirada da natureza para as roças indígenas e, depois, para as nacionais e internacionais.

O Caju, fruto do cajueiro, cuja origem e domesticação ocorreram na Amazônia, de onde irradiou sua cultura para o mundo tropical. Amplamente consumido em estado selvagem e domesticado pelo índio brasileiro.

Maracujá, originário provavelmente do Brasil e muito cultivado pelos Kaiabis.

Dentre os principais produtos cultivados pelos indígenas poderíamos citar: tabaco; algodão; caroá; erva-mate; guaraná; urucu; cabaças; cuias; e taquaras.

Caroá cultivado pelas tribos da língua karib do alto Xingu, pelos Arawetés (tupis) e utilizada para fazer fios, cordas de arco, bolsa de carregar e apanhar peixes em pequenos riachos, conhecidas como puçá.

Erva-mate desenvolvida pelos guaranis que a utilizavam para fins medicinais se fresca e seca para chás.

Dentre as plantas qualificadas como alucinógenas e estimulantes, cultivadas e coletadas por grupos indígenas da Amazônia destacam-se: coca ou ipadu; e o paricá. Os tukanos e os makus do alto do rio Negro foram os seus principais cultivadores.

SELEÇÃO GENÉTICA

Para exemplificar sobre seleções genéticas, temos o abacaxi e o cupá, ou cipó babão.

O abacaxi em estado selvagem pesa apenas 100 a 200 gramas e mal alcança 12 cm de comprimento. As seleções genéticas feitas pelos índios produziram grande variedade de abacaxis: com ou sem espinho; com a parte comestível meia ácida, ou muito doce; nas tonalidades amarelo gema, amarelo claro, ou branca; e com o peso entre 800 gramas a 15 quilos.

Apesar de pouco conhecido, o cupá, ou cipó babão é um dos vegetais indígenas da maior importância. É uma casta de mandioca arbórea, que deve ter sido domesticada há mil anos.

O cupá cresce rapidamente e é encontrado entre os grupos Timbira e Kayapó, em estado selvagem e semidomesticado. A variedade selvagem alcança, no máximo, um centímetro de diâmetro e a domesticada pelos índios 4 cm. São consumidas assadas ou cozidas como a macaxeira (aipim) e tem sabor semelhante.

CONSIDERAÇÔES FINAIS

A agricultura brasileira sofreu muito mais a influência mercantilista do colonizador, que alterou em muitos aspectos o que aqui se fazia. Os que mais sofreram a influência da agricultura indígena foram aqueles que se tornaram agricultores para subsistência familiar.

O colonizador trouxe a cana de açúcar e com ela a monocultura. Esse período colonial a cana e o negro tiveram tanta importância, que a colônia era considerada o açúcar, e o açúcar, o negro.

Podemos, sem exagero, afirmar que o português trouxe a modernização da agricultura, mas misturou os métodos já desenvolvidos na época em que Portugal fora agrícola, com outros absorvidos em sua atividade de navegar pelos mares e expandir seus domínios e com algumas práticas indígenas como a coivara.

A maior influência indígena na agricultura brasileira foi decorrente da influência na alimentação, pois foram as índias as primeiras cozinheiras do colonizador.

Atualmente, práticas indígenas de manejo estão sendo comparadas com práticas modernas devido estas terem sido mal sucedidas em algumas regiões, como na Amazônia e, também, porque a preservação ambiental ganhou importância.

FONTES:

LIVRO: Índio na Cultura Brasileira – Berta Ribeiro

SITES:

embrapa.br;

comunidades.net; e

pt.wikipedia.org.

J Coelho
Enviado por J Coelho em 11/02/2014
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