CELULAR GRATIS

“Não é nada disso que você está pensando” é a frase costumeira quem diz, em tom de desespero, àquela (ou àquele) que foi flagrado em pleno ato de traição conjugal. Porém, sem nada a ter com esse fato e muito longe da cena, foi o que me veio à cachola quando, folhando a revista ISTOÉ do último dia 26 de março, n. 1952, li a notícia curta e grossa que me deixou, digamos e para usar um termo educado, encabulado: “O Planalto abriu licitação para fornecer celulares aos seguranças e à filha do presidente, Lurian. Ela mora em Florianópolis. Venceu a operadora Vivo. São sete linhas com aparelhos. Podem gastar R$ 75 mil ao ano. Os telefones foram habilitados dias atrás”.

Juridicamente, licitação é o “procedimento pela qual a administração pública seleciona a proposta mais vantajosa, quando compra bens e serviços ou faz outras transações” conforme Aurélio.

Raciocinei, então, quer dizer que a Sra. Lurian, filha do Presidente da República, que não participa, de nenhuma forma, do governo tem seis seguranças! Até aí é aceitável, pois uma filha de presidente está sempre, potencialmente vulnerável a qualquer ação de bandidos, somente pelo fato de ser filha. Devemos, por isso, logicamente, nós contribuintes e não ela pagar pela manutenção da sua segurança, muitas vezes em prejuízo da nossa própria ou a de nossos filhos, pais, irmãos. Os “seguranças” que ela possua talvez nem sejam suficiente para trazer tranqüilidade à segurança que não possuímos hoje, sabidamente, todos nós, súditos do rei.

Mas, o que não aceitei muito bem e achei alta e exagerada, foi a conta apresentada, ou seja, no valor de R$75.000,00 anuais para cobrir as despesas dos telefones celulares. Seis seguranças mais a segurada, são sete pessoas que se dividindo o custo pelo número de beneficiados é igual a R$10.714,28 para cada um, que novamente se dividindo por um ano, teremos o valor de R$892,85 por mês, para cada portador de um celular, no caso a sra. Lurian e cada um dos seus guarda-costas.

Fiquei, então, matutando, quantos milhões de pessoas, portadoras de celulares pré-pagos tem dificuldades para carregar o seu aparelho com um valor mínimo, próximo de R$10,00. Quantos inúmeros portadores de celulares pós-pagos tem dificuldade em quitar, com recursos próprios, as contas mensais pelo uso do telefone, incluindo-me entre estes. Isto sem contar com os preços absurdos das tarifas, da ilegal cobrança da assinatura, dos reajustes acima do custo de vida, das reclamações, das queixas nos procons da vida.

Pergunto, então, qual a razão de sermos nós, ainda, obrigados a contribuir com o pagamento da conta telefônica da filha do rei? Considerando também que esse valor saído dos cofres públicos mensalmente, perto de novecentos reais, está muito acima do salário que recebe a maioria dos trabalhadores de nossa região, continuo a perguntar: será que também pagamos a conta telefônica particular dos amigos do soberano?

E a resposta, dada a mim mesmo, é aquela: NÃO É NADA DISSO QUE VOCÊ ESTÁ PENSANDO!

FLAVIO DIAS SEMIM
Enviado por FLAVIO DIAS SEMIM em 30/04/2007
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