Sobre o ofício de lixeiro
Vivemos entre abomináveis criaturas. Há entre nós carniceiros vis, como os advogados e toda a corja sacripanta do judiciário; pilantras enganadores como os publicitários, golpistas e ladrões; políticos nojentos, agiotas. Em meio a essa fauna nefasta, habitam também umas criaturas singelas, entre elas os lixeiros.
Ao contrário dos parasitas citados anteriormente que vivem a emporcalhar a sociedade e o mundo ao redor, os lixeiros têm por ofício limpar nosso ambiente. De maneira estranha, no entanto, invertemos o modo de ver as coisas, passando a considerar os lixeiros, os encarregados da limpeza, e não os porcalhões, criaturas imundas.
Estranhos que somos, abominamos o convívio com lixeiros; considerando-os sujos, queremos distância deles. A isso, preferimos francamente o contato direto com os parasitas mais nojentos. Podemos nos sentar ao lado do advogado mais sórdido e mentiroso, do político mais vil, do juiz mais descarado e cruel, mas, ouse um lixeiro sentar-se ao nosso lado e, quase todos, nos levantaremos ultrajados pela suposta vileza da singela criatura. Tendo limpado as porcarias deixadas pelos os outros, tendo eliminado sua lambança, é a eles, os responsáveis pela eliminação, que atribuímos a sujeira, (mentes distorcidas as nossas).
Parece haver algo estranho em nosso mundo, em nossas avaliações sobre a correção e a vileza e a correção.
Louvemos o lixeiro, nossos dignos semelhantes, tão necessários, e a quem devemos ao menos a aparência de limpeza de um mundo governado por parasitas sórdidos e nojentos.