O que difere um conto de um romance?

Para tentar extrair esta diferença não poderia deixar de citar duas obras:

Iracema de José de Alencar e O Alienista de Machado de Assis. Porque o primeiro citado seria um romance e o segundo, um conto?

Esta questão que parece aos olhos do leitor não possuir diferença alguma é mesmo de dar um nó no cérebro de alguns escritores. Mas continuemos...

Vale ressaltar que sou tão amadora aqui quanto você com sua curiosidade aguçada. E Deus me livre dessa coisa de citar ou enumerar regras.

Mas cá entre nós, as regras são responsáveis pelo nosso primeiro passo, isso mesmo, “primeiro passo”, pois quando aprendemos a nos equilibrar abrimos mão de algumas “ditaduras literárias”, pelo simples fato de desenvolver características próprias ao escrever.

Voltando ao assunto. O que difere uma obra da outra? Seria o número de páginas?

Diria que não. Iracema e O Alienista possuem mais ou menos o mesmo tamanho. E pode um conto ter uma página ou trezentas, tanto faz. Mas não é a quantidade de páginas que irá qualificar o texto literário como conto.

O que caracteriza um conto é a trama abordada, com poucos personagens e num único espaço de tempo. Pode ser de narrativa longa ou curta, com poucos, muitos ou nenhum diálogo. Isso varia do modo criativo de cada escritor. É importante saber respeitar isso. Ninguém está obrigado a seguir os passos de “fulano”. Devemos ser receptivos. E saber aceitar a diferentes métodos de criação.

Vale ressaltar que algumas regras que servem como normas para caracterizar um conto continuam intactas, mesmo após muitas mudanças.

São elas:

• Apenas um conflito

• Poucos personagens

• Um núcleo

• Uma ação principal que desencadeará todo o resto da narrativa

• Toda a história girará em torno da trama

É a partir destas bases que será possível dizer se o conto é realmente um conto.

Edgar Alan Poe pregava que a força do conto deveria estar em seu epílogo.

Anton Tchekhov nos trouxe o conto moderno, sem epílogo e dizia que se deveria cortar o início e o fim dos contos, a fim de que causassem maior impacto aos leitores.

Chamo a atenção para os estilos “diferentes”. Ambos são considerados os gigantes da arte do conto.

É isto o que diversifica as obras, onde você não tem a sensação de “dejavú” ao folhear um livro.

O que caracteriza um conto é a espécie da narrativa, que devido a poucos personagens tende a ser curta.

É comum quando alguém lê um conto bom e teima que se o autor escrevesse mais tornaria a história ainda melhor. Em alguns casos sim... Em outros seria uma ruína total.

O conto deve possuir o único objetivo de surpreender ao leitor. O final sempre deve ser surpreendente, sem alardes no meio da trama...

Poderia afirmar que o que caracteriza o conto é a carga dramática carregada de suspense. Por mais que se queira estar à frente, não se deve abrir mão de causar aquela sensação de “não entre no carro, o assassino está no banco traseiro”, todo leitor aprecia esta sensação. Se o autor conseguir provocar e instigar com suas palavras, sem tornar a leitura cansativa, terá conseguido escrever um bom conto, digno de ser levado para a cama, e lá ser devorado até as últimas palavras.

Por isso digressões e descrições demasiadamente longas devem ser extremamente evitadas.

Capriche no suspense. Aguce a curiosidade do leitor.

E jamais, em hipótese alguma subestime a inteligência e interpretação de quem lê.

Por hoje é só, espero ter ajudado.

Alessandra Benete
Enviado por Alessandra Benete em 14/04/2014
Código do texto: T4768971
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