Cristo e a resiliência

Um dos simbolismos mais fortes e abrangentes do Cristianismo está presente na Semana Santa, celebrada esta semana no mundo inteiro. A Paixão de Cristo, que narra os últimos dias de Jesus na Terra, renova muitas mensagens que valem preciosas reflexões. Uma delas é a da superação da dor e do sofrimento, transformando-os em alicerce para novas jornadas.

A humilhação pública vivida por Jesus, que culminou na sua crucificação, é contada e representada há mais de dois milênios como uma forma de lembrar à humanidade que a superação é uma poderosa forma de lapidação do espírito. Esta, de certa forma, é a proposta da “resiliência”, nome dado à capacidade de resistência e crescimento em meio a sucessivos problemas e obstáculo.

A palavra vem da Física e praticamente não era usada em outras áreas até bem pouco tempo. Nesta ciência ela significa “a propriedade que alguns materiais apresentam de voltar ao normal depois de submetidos à máxima tensão”. É o caso das fibras de um tapete de nylon, que recuperam a forma assim que acabam de ser pisadas e amassadas.

O conceito de resiliência foi apropriado pela Psicologia para explicar a capacidade que algumas pessoas têm em ficar ainda mais fortes depois de expostas a situações adversas. Estudiosos do assunto ainda debatem se esta capacidade é inata ou pode ser adquirida através do seu exercício consciente.

Os que defendem ser possível a aprendizagem da resiliência (tese com a qual me identifico) chegam a dar algumas dicas que podem ser um bom ponto de partida. Uma delas diz respeito à primeira reação que se deve ter no instante em que surge a crise. É importante formular uma explicação para o que está ocorrendo, analisar as circunstâncias, a sequência dos fatos e as razões da adversidade. Paralelo a isso, tentar entender os próprios sentimentos em relação ao processo como um todo. O passo seguinte é pensar nas possíveis estratégias do que fazer ao sair da crise. Afinal, projetar-se no futuro é sempre uma boa saída para suportar a dor do momento. Entretanto, é fundamental ter em mente que é no presente que a mudança acontece, assim como é essencial não depositar no outro a tarefa de salvador da pátria.

Estabelecer laços com pessoas que podem representar coragem e estímulo é uma coisa, mas deve ser de cada um a responsabilidade de se resgatar do fundo do poço. Vale a pena ainda valorizar as pequenas vitórias, pois isso traz autoconfiança e serve de impulso para se tentar chegar a outras. Por fim, o verdadeiro resiliente não pensa somente em si, mas nos que vão se beneficiar com as suas conquistas ou tomá-las como exemplo.

Num paralelo à Paixão de Cristo, o quadro que envolve todo o sofrimento do Filho de Deus até a Sua morte e posterior ressurreição é o que se pode chamar da maior lição de resiliência que alguém pode ter. Não apenas como uma referência de que também podemos nos reerguer depois de perdas e sofrimentos cotidianos, mas como uma luz no fim do principal túnel de nossa existência. Se conseguirmos vislumbrar nem que seja um flash do simbolismo da ressurreição de Cristo, será mais fácil aceitarmos não só o fato de que morreremos todos um dia, mas também a certeza de que a nossa jornada espiritual estará apenas recomeçando.