Não tirem do povo o que lhe resta...

Não tirem do povo o que lhe resta...

Outro dia vi uma reportagem sobre um lugar místico localizado na serra do roncador em Cocalinho, no norte do nosso País, onde acontecem rituais de cura em meio a muitas orações, realizadas no interior de uma enorme gruta e fiquei imensamente triste, não por achar que existe ali algum tipo de enganação, mas por ter estado tão perto de lá e não ter conhecido o lugar. Quando estive em Barra do Garças, não sabia da existência do santuário tão perto dali e certamente me sentiria muito bem se estivesse visitado aquele local.

Não me venham falar de charlatanismo, de falso curandeirismo ou de exploração da fé, pois o que vi na reportagem foi criatividade pura, foi a extrema inteligência de determinadas pessoas que souberam aliar o misticismo do lugar de natureza exuberante, à capacidade de criação do povo brasileiro que em determinadas situações, tira leite de pedra, literalmente.

Me fez lembrar de um caso que aconteceu em minha cidade a muitos anos atrás, quando um senhor com algum investimento e muita sabedoria, espalhou aos quatro cantos que havia encontrado uma menina santa, que fazia curas milagrosas. O sucesso foi tanto que formavam caravanas de ônibus para visitarem o local em busca de tal menina que não cobrava nada pelo atendimento, mas onde um rosário custava 30 reais e uma garrafinha com água abençoada por ela era vendida a 20 reais.

Crime? Charlatanismo? Exploração da fé? Talvez, mas todos iam porque queriam, porque acreditavam na cura através daquelas mãos e tenham certeza que muitas pessoas acabam efetivamente se curando de pequenas enfermidades através da intervenção de pessoas assim e sabem porque? Porque a fé cura, a fé tem poder avassalador, a fé remove obstáculos em nossas vidas, a fé põe um povo em pé e a falta dela derruba nações.

Igual a esse santuário de Cocalinho, devem existir dezenas espalhados pelo nosso país, em Minas Gerais, em Goiás, no Amazonas, em lugares onde a mídia ainda não chegou, mas onde o povo brasileiro, sofrido, desrespeitado no seu direito à saúde, sem perspectivas de atendimento, mal assistidos por um sistema nacional de saúde doente, ineficiente e corrupto, acredita de alguma forma que possa ali se curar dos males do corpo, da alma e do coração.

Quero aqui lhes deixar um pedido, deixem que o povo acredite, deixem que as pessoas procurem esses lugares, ninguém obriga a ninguém a isso, as práticas não são invasivas, as orações são feitas com fé e esses lugares servem de alento a quem muitas vezes não tem mais nada, a não ser recorrer a essas práticas em busca da cura de seus males, se isso lhes fazem bem, deixe os assim, não tirem do pobre povo brasileiro a única coisa que ainda lhe resta, a inabalável fé, pois a ruína de um povo começa quando ele perde o poder de acreditar...

Adilson R. Peppes.

Adilson R Peppes
Enviado por Adilson R Peppes em 23/06/2014
Reeditado em 19/11/2014
Código do texto: T4855448
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