PRATICIDADE, SIMPLICIDADE E EFICIÊNCIA

Vivemos cercados por muitas regras e burocracias em nosso cotidiano. Algumas delas são de grande utilidade, mas outras são um atraso de vida.

Se você observar, em seu trabalho, em sua escola, em sua vida e em tantos outros departamentos, nos deparamos com certas formalidades que tornam nossa vivência uma lentidão, fazendo com que certos procedimentos caminhem vagarosamente.

Algumas dessas regras têm sua eficácia, mas outras aprisionam e amarram o sistema. Mas que sistema? Todos.

O SUS, Sistema Único de Saúde, o Sistema Judiciário, o Político, o Sistema Prisional e qualquer outro que tenhamos.

Quantos procedimentos inúteis são adotados para se marcar um exame, para se legalizar ou invalidar algo, para votação ou aprovação de determinado projeto, a cassação de um gestor ou membro da Câmara dos Deputados ou do Senado, a liberação de um preso e por aí vai; ou melhor, não vai. A coisa emperra. Mas não para todos, porque se houver certas pessoas envolvidas, conchavos, tráfico de influências, jogos de interesses, aí a coisa realmente não anda; ou anda, dependendo do interesse e da interferência desses falsos manipuladores. Falsos porque paira sobre eles um poder maior que sempre prevalecerá.

Quebrando um pouco o regulamento, conseguimos descobrir outras

saídas. E assim devemos proceder. É preciso deixar certas regras de lado, procurando fazer as coisas de um jeito prático e eficaz.

O grande estudioso das Artes-Marciais, Bruce Lee, mencionou uma frase que versa sobre regras e regulamentos: Aceite o que for útil e rejeite o que for inútil.

Bruce Lee foi um homem que quebrou regras, aquelas que não funcionam e que cristalizam o indivíduo, sendo um pensador e filósofo, que não se preocupou em seguir o sistema, mas sim em usar o seu método variável. Ao observar os diversos estilos de Artes-Marciais, analisou cada um, observando o que funcionava e o que não funcionava, desenvolvendo, assim, uma forma sem forma de lutar, de viver, de aprender e apreender, o que chamou de jeet-kune-do, que significa O caminho para interceptar o punho.

Jeet-Kune-Do, então, é o estudo, a busca de um caminho e de um meio melhor de se fazer as coisas, onde se retira tudo aquilo que entrava o crescimento de algo. É o estudo de si mesmo, a análise, o pensar inteligente de uma mente vazia e sem pré-concepção, e não de uma mente confusa e atordoada por regras, dogmas e vícios de comportamento.

Não se pode ensinar e nem aprender JKD; JKD é uma mutação constante; simplesmente flui. É algo meu ou seu; é individual. Não pode existir professor ou instrutor de JKD. Pode haver intérprete desse processo de descoberta e inovação. Cada um deve buscar, e explorar o seu Jeet- Kune- Do. Jeet Kune Do não pode ser copiado ou imitado. Deve crescer espontaneamente em cada um ao ponto de se tornar natural. É o aperfeiçoamento ou evolução máxima do indivíduo, exteriorizando-se através de sua técnica. Jeet Kune Do é a essência, a parte sadia de algo.

As leis, as regras, a burocracia e a justiça terrena funcionam bem mais a favor de alguns. Sabe por que, leitor amigo? Porque nós nos deixamos corromper muito facilmente. A lei de levar vantagem fala forte dentro de nós.

Quando nos preocupamos em seguir o sistema, em vez de mudá-lo, não procurando um meio melhor e mais ágil de fazer determinada coisa funcionar, tornamo-nos seres mecânicos, desprovidos de sensibilidade e criatividade. Transformamos-nos em apenas mais um, em vez de sermos um, único, verdadeiro, pensante e atuante. E nós temos como mudar o sistema, sim. Primeiramente devemos mudar a nossa forma de pensar, segundo a nossa forma de falar e terceiro a nossa forma de agir, dizendo SIM à tudo que funcione bem e que gere bons frutos e NÃO, “eu não concordo”, “não aceito” e “não faço” coisas que estejam causando o sofrimento alheio ou que estejam indo contra aquilo que é salutar. E, assim buscar melhores condições de vida para todos, deixando nossos interesses mesquinhos e egoísticos de lado, buscando o Jeet-Kune-Do, o melhor, a essência, um caminho que funcione para nós, sem nos atermos em tradições e apegos inoportunos.

Às vezes, ao quebrarmos certas regras ou desfazê-las, percebemos como tudo funciona melhor. A vida não é para ser levada com rigor total. Não podemos ser sérios ao extremo. Não somos uma carcaça de ferro, somos seres espirituais passando por uma experiência humana à qual nos possibilita o aprendizado através das experiências dos erros e das tentativas na busca de outros caminhos.

Ficamos desorientados com tantas normas e estamos expostos a regulamentos que amordaçam e estagnam nossas almas.

O ponto comum entre essas normas é o desejo de controle e organização, o que é compreensível. Entretanto, somos seres imperfeitos e grande parte das pessoas que criam essas regras ou que chefiam determinado departamento, está ali por jogadas mal ensaiadas ou más manobras políticas, e não tem habilidade para exercer a função que se predispõem ou que receberam. Por outro lado, temos profissionais dignos de assumirem cargos que ocupam. O problema está no porque e para quem se está oferecendo, e no porque e para que se está aceitando. Devido a isso, antes de nomearmos alguém para um cargo, deve-se ver se esse alguém tem capacidade humana e técnica para isso. Se tem humanismo e instrução.

Nessa nossa busca por essa liberdade ___com responsabilidade e seriedade__, nos contundiremos, mas o esforço valerá à pena porque estaremos libertando- nos dessa mordaça, os regulamentos e protocolos emasculadores que obstruem a fluidez de um processo.

Às vezes, nesse embolo burocrático que criamos e no qual nos aprisionamos, sentimos saudades daquelas coisas simples como a enxada que capina sem poluir, o andar a pé sem contaminar o ar, os abraços e toque de pele; e sentimos náusea do agrotóxico que intoxica, do monóxido de carbono que infesta e do [des]contato virtual. Nem tanto ao mar, nem tanto à terra...

Quando falamos em regras, leis, liberdade não podemos nos esquecer o quanto as mulheres foram sacrificadas por causa de regras. Não tinham direito a voto, eram tratadas como animais e vistas como um objeto. Mas hoje a situação está se resolvendo, pois elas têm quebrado diversas regras e estão nos mostrando que mulheres também são guerreiras de primeira linha. Ainda existe preconceito e discriminação, mas estamos caminhando para uma igualdade e futuramente nos veremos não como homens ou mulheres, mas como pessoas.

Na vida, para se conquistar algo, teremos que deixar de lado esse pensamento retrógrado de que pelo simples fato de ser homem ou mulher não sejamos capazes de fazer algo. São essas diferenças, essas diversidades de cores, vidas, sonhos, talentos, objetivos que preenchem nosso mundo.

As mulheres tem se mostrado grandes guerreiras. Guerreira do lar, esteio da família, excelentes profissionais fora dos lares também e mães maravilhosas.

Os homens também têm se revelado bravos guerreiros, força de uma nação e pais maravilhosos. Precisamos dos dois, nunca nos esqueçamos disso. Nem tanto ao mar nem tanto à terra...

Temos a necessidade de reavaliarmos nossos conceitos e não ficarmos agarrados em certos métodos. Regras devem existir, desde que possuam praticidade, simplicidade e eficiência, primando pela preservação da natureza e pela integridade moral e física de todos nós.

Uma mulher estava prestes a ser apedrejada por ter sido pega em adultério. Consultaram um Educador que estava por perto, a escrever na areia, e disseram-lhe que a Lei Mosaica apregoava que, em casos como aquele, poder-se-ia efetuar o apedrejamento. Aquele Homem que escrevia na areia levantou-se, olhou para a mulher e para aqueles homens que queriam se aproveitar de uma lei para satisfazerem seus instintos trevosos, e pronunciou: Se a lei de Moisés manda que ela seja apedrejada, que então assim se faça, mas só atire a primeira pedra aquele que nunca pecou. Os homens foram saindo um a um, a começar pelos mais velhos.

Ele se aproxima da mulher e lhe pergunta:

__ Onde estão teus acusadores? Ninguém te condenou?

__ Não, senhor... Responde a mulher, ainda assustada.

__ Nem eu tampouco te condeno; vá e não peques mais...

Após o acontecido, Jesus voltou a escrever na areia. Provavelmente escrevia coisas assim: Nem sempre seguir leis ou regras é fazer o que está certo. Entre a lei que odeia, condena e mata e a que ama e perdoa, fique com aquela que asserene sua alma e alcance seu coração, deixando-o amar.

Amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo: Aí estão todas as leis e os profetas. Essa deve ser a nossa lei.