ACADEMIA CELESTE DE LETRAS

“Morre no Rio o escritor e acadêmico João Ubaldo Ribeiro, aos 73 anos” (18/07/14).

“Escritor Rubem Alves morre aos 80 anos, em hospital de Campinas” (19/07/14).

“Morre Ariano Suassuna, autor de ‘O Auto da Compadecida’, aos 87 anos” (23/07/14).

Mal se respira, num instante de distração, a mídia noticia a partida do outro. E do outro. Haja coração! Ainda nem tinha me recuperado da tristeza trazida pela imprensa em abril: “Morre García Márquez, o gênio do realismo fantástico latino-americano, aos 87 anos”.

Eu sei que a vida segue seu destino (o que, às vezes, não me parece compreensível ou aceitável). E essa certeza é dolorosa, pois haja o que houver ninguém ficará para semente. É meio negro, eu sei, mas é a morte a única certeza que temos na vida (embora alguns incluam o especial de fim de ano de Roberto Carlos na TV Globo como a segunda certeza).

Considerando a lei natural das coisas, sabe-se muito bem o destino de todos. E pensar nisso não é legal. Deixa-me aflita e um tanto angustiada. Sabemos que todos cumprirão sua sentença, como bem disse Suassuna. Talvez por isso alguns resistam à velhice.

No fundo, se bem pensarmos, envelhecer é o caminhar para o fim. Meu medo não é maior porque tive a sorte de, numa palestra de Rubem Alves, ouvi-lo falar da velhice como algo bonito, e natural, que deve ser acolhida e bem vivida. Ele até questionava o fato das tentativas de substituição do termo “velho” por “idoso”, ou de se tratar dessa fase da vida como “terceira idade” ou “melhor idade”. “Melhor pra quem?” foi o que ele disse, fazendo rir toda a plateia que lotava o Teatro José de Alencar. Falou que poeticamente não soava bem esse termo, citando como exemplo o livro intitulado “O velho e o mar”, que muito perderia de poesia se fosse substituído “velho” por “idoso”.

É uma pena que os talentos convocados para ocupar cadeiras no céu não deixam substitutos, não no mesmo modelo. Talvez eu precisasse pedir perdão aos escritores contemporâneos antes de dizer isso, mas a nossa literatura não será a mesma. Nunca mais.

Que Deus os tenha num bom lugar, como bem diria a minha mãe que, a depender da distribuição dos espaços no céu, poderá encontrar-se com eles.

Maria Celça
Enviado por Maria Celça em 24/07/2014
Reeditado em 24/07/2014
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