A VIRGULAÇÃO PARECE FÁCIL, MAS É A COISA MAIS DIFÍCIL

Caros leitores, quero acentuar, aqui, inicialmente, que escrevo este artigo para ser lido por pessoas simples, sem empáfia doentia, e que acham que tudo sabem, mas, no fundo, nada sabem de alguns assuntos de que tratam, porque, por arrogância desmedida, fixaram um entendimento próprio de que coisa nenhuma deve ser mudada em relação a si – e, assim, suas ideias e seus pensamentos fazem com que os seus erros sejam contínuos e, sempre, maiores. A verdade é que ninguém sabe tudo, mormente quando um determinado assunto não é bem estudado, visto que uma pessoa, por mais inteligente que seja, não aprende uma coisa, se não a estuda bem ou com afinco, como acontece com a nossa querida língua portuguesa, que, infelizmente, é muito pouco estudada e, por isso mesmo, é muito maltratada por inúmeros brasileiros, que a usam diariamente por força de suas profissões, no entanto não a estudam, convenientemente.

A verdade verdadeira, caros leitores, é que alguém para mudar alguma coisa tem de ser flexível, e não pode julgar que sabe tudo, porque isso é pura besteira ou ignorância. Dessarte, as ideias, quando houver necessidade disso, devem ser mudadas, já que “vergonha não é o homem mudar de ideias; vergonha é o homem não ter ideias para mudar.”

BUDA mudou de ideias; o grande CAIUS JULIUS CAESAR mudou de ideias, com respeito a MARCUS BRUTUS, quando este o traiu na batalha de Farsália – cidade grega da Tessália, onde lutou a favor de POMPEU, o Magnus – o Grande, o Maior, que foi derrotado por aquele, no ano 48 a.C.; BEETHOVEN dedicou uma das mais belas sinfonias a NAPOLEÃO, intitulada de HEROICA, e depois mudou de ideias. E assim o fizeram eminentes estadistas, executivos, inventores, exegetas de Direito, pátrios e estrangeiros, como bem o confirmam as suas respectivas obras, porquanto, conforme os mais brilhantes pensadores, “os erros são utilíssimos quando nos educam.”

Feitas as considerações acima, passo a tratar, aqui, do tema propriamente dito, que é A VIRGULAÇÃO PARECE FÁCIL, MAS É A COISA MAIS DIFÍCIL – e é isso mesmo, prezados leitores.

A verdade é que as pessoas, conforme já foi ressaltado no meu livro MINÚCIAS DO VERNÁCULO: provenientes de análise sintática, não estudam mais análise sintática com seriedade, e as escolas não a ensinam mais aos seus alunos condicentemente, e isso é uma falha imperdoável, porque se trata de uma matéria da maior importância na arte da escrita. Não há dúvida de que a análise sintática, estimados leitores, é essencial a tudo, e sobretudo ao manuseio da vírgula, que poucos a usam corretamente por falta de conhecimento daquela (de análise sintática), porquanto é muito difícil a virgulação, ou a colocação correta da vírgula, sem um conhecimento, mesmo que superficial, de análise sintática.

Em face de ser a vírgula o “sinal de pontuação (,), que indica ligeira pausa e serve para separar certos membros de uma frase”, como bem a define o dicionarista FRANCISCO FERNANDES, em seu Dicionário da Língua Portuguesa – ou, ainda, conforme o gramático NAPOLEÃO MENDES DE ALMEIDA, é um sinal que “separa conceitos, ideias, frases”, muitas pessoas, por falta de conhecimento de gramática e, maximamente, de análise sintática, cometem os erros mais absurdos na virgulação, consoante se vê, a cada passo, em romances, em livros jurídicos, acórdãos, sentenças, petições iniciais, contestações, arrazoados, contratos e em jornais e revistas. E tudo isso ocorre e ocorrerá, frequentemente, caros leitores, por falta de um estudo sério e percuciente, por parte dos diferentes profissionais, sobre a língua portuguesa, que é “tão grandiosa, tão opulenta, mas ao mesmo tempo e infelizmente tão esquecida e maltratada”, segundo as sábias palavras do festejado FRANCISCO FERNANDES, na apresentação do seu Dicionário de Sinônimos e Antônimos da Língua portuguesa.

Conquanto seja a vírgula, em regra, um erro comum, que pode ser qualificado, as mais das vezes, de natureza leve, há dois casos, no entanto, em que tais erros têm natureza grave, ou seja, são crassos, grosseiros – e isso ocorre, quando, numa oração, o sujeito é separado do predicado (do verbo) a que pertence, por meio de vírgula, ou o verbo é separado por ela dos seus termos integrantes (1. complemento nominal; 2. complemento verbal: objetos direto e indireto; 3. agente da passiva), conforme tudo isso está explicado, minudenciosamente, no meu já citado livro MINÚCIAS DO VERNÁCULO: provenientes de análise sintática.

É importante e curial seja transcrito, aqui, o que diz o saudoso gramático NAPOLEÃO MENDES DE ALMEIDA acerca da vírgula, sobre a qual assim se manifesta:

“É comum vermos esta doutrina: ‘A vírgula indica pequena pausa’. – De fato, essa indicação tem a vírgula, mas não devemos aceitar como certa a recíproca: ‘ Havendo pausa, há vírgula’. Essa recíproca induz a erros e erros; pausas existem que na leitura se fazem meramente por ênfase; vezes há – e isso facilmente poderá comprovar o aluno – em que separamos, na leitura ou em um discurso, o sujeito do verbo; outras, em que separamos o verbo do seu complemento, mas erro cometeremos se graficamente representarmos tais pausas por vírgula, porque não se pode pôr vírgula entre o sujeito e o verbo nem entre o verbo e o seu complemento, ou seja, não se concebe que se separem termos que mantêm entre si íntima relação sintática. O que podemos seguramente afirmar é: ONDE NÃO HÁ PAUSA NÃO HÁ VÍRGULA.”

É preciso seja salientado, aqui, ainda, para que se possa aquilatar a complexidade da virgulação, que, consoante foi evidenciado no meu já mencionado livro, a fls. 104-105, “Há vinte e oito (28) espécies ou classes de orações, a saber: a) uma absoluta, quando o período for simples (de uma só oração); b) uma principal, quando o período for composto por subordinação, com duas ou mais orações (principal é a oração que contém o sentido capital e não é introduzida por nenhum conectivo subordinativo); c) uma coordenada assindética, quando estiver apenas justaposta, ou seja, não houver conjunção; d) cinco coordenadas sindéticas, quando forem ligadas por conjunções coordenativas (aditivas, adversativas, alternativas, conclusivas, explicativas); e) seis subordinadas substantivas, por exerceram funções correspondentes a substantivos (as quais são denominadas de subordinadas substantivas subjetivas = sujeito; subordinadas substantivas objetivas diretas = objeto direto; subordinadas substantivas objetivas indiretas = objeto indireto; subordinadas substantivas completivas nominais = complemento nominal; subordinadas substantivas predicativas = predicativo; subordinadas substantivas apositivas = aposto); f) duas subordinadas adjetivas, que funcionam como adjuntos adnominais (as quais são chamadas de subordinadas adjetivas restritivas e de subordinadas adjetivas explicativas); g) nove subordinadas adverbiais, que têm o valor de advérbio e funcionam como adjuntos adverbiais, junto à oração principal (as quais são chamadas de subordinadas adverbiais causais, comparativas, concessivas, condicionais, consecutivas, conformativas, finais, proporcionais e temporais); h) três subordinadas reduzidas (que podem ser substantiva, adjetiva, ou adverbial), com os verbos numa de suas formas nominais, sem que estejam formando locuções verbais (as quais são chamadas de subordinadas reduzidas de infinitivo, de gerúndio, de particípio).”

Das vinte e oito orações acima evidenciadas e caracterizadas, deve-se ressaltar, na oportunidade, que a oração principal não pode ser separada por vírgula das substantivas subjetivas, objetivas diretas, objetivas indiretas, completivas nominais e predicativas, das cinco primeiras, portanto, enumeradas na letra e, visto exercerem função de substantivo e de termos integrantes da oração a que pertencem; das duas subordinadas adjetivas, que funcionam como adjuntos adnominais – e são, pois, termos acessórios da oração, a adjetiva restritiva, a princípio, não recebe vírgula, mas a explicativa é virgulada; as nove subordinadas adverbiais, por funcionarem como adjuntos adverbiais, que são termos acessórios da oração, podem separar-se por vírgula da oração principal; e as três subordinadas reduzidas, se forem adjetivas ou adverbiais, podem separar-se da principal por vírgula, conforme explicações de tudo isso, por miúdo, constantes da minha já citada obra, onde há inúmeros exemplos de cada caso.

A oração coordenada assindética, conforme já foi esclarecido, precedentemente, na letra c, sempre é separada por vírgula da antecedente – e as cinco coordenadas sindéticas, relacionadas na letra d, comumente, recebem vírgulas depois da oração que as precede, ou, por outras palavras, elas são encabeçadas por vírgulas, por vezes até para uma maior ênfase.

Finalmente, a título de conclusão do presente assunto, deve ser ressaltado, ainda, que, para a boa e correta virgulação, além de tudo o que, aqui, foi trazido à baila, deve a pessoa ter um seguro conhecimento dos seis casos de sintaxe da gramática latina, os quais eram ensinados no antigo ginásio e, posteriormente, mais como recapitulação, no curso clássico, devido à sua importância, e que são os seguintes: a) nominativo – que é o caso do sujeito, que não pode ser separado do verbo a que pertence; b) genitivo – que é o caso do adjunto adnominal, que é termo acessório da oração e, como tal, é dispensável; c) dativo – que é o caso do objeto indireto, o qual é termo integrante da oração e não pode ser separado do verbo a que pertence, por vírgula; d) acusativo – que é o caso do objeto direto, o qual, igualmente, é termo integrante da oração e, como tal, não se separa do verbo a que pertence, por vírgula; e) vocativo – o qual não pertence à estrutura da oração, é considerado à parte, como elemento afetivo por excelência – e pode vir no começo, no meio ou no fim da oração, mas vem sempre acompanhado de vírgulas (de duas, quando vem no meio da oração, ou entre vírgulas); f) ablativo – que é o caso do adjunto adverbial, por exercer papel adverbial, e é, assim, termo acessório da oração e, como tal, a critério da pessoa, pode ou não ser separado por vírgula de outro termo.

Vê-se, pois, caros leitores, por tudo o que foi expendido, aqui, até de modo resumido, que a virgulação é coisa complicada e tem difícil manuseio na língua portuguesa, que, em verdade, merece ser melhor estudada por todos, principalmente pelos que dela fazem uso diário, para não ser tão maltratada, a cada momento.

Biguaçu, 11 de agosto de 2014.

Trogildo José Pereira

– advogado –

– E-mail: trogildojp@bol.com.br –

Trogildo José Pereira
Enviado por Trogildo José Pereira em 12/08/2014
Reeditado em 26/08/2014
Código do texto: T4919877
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2014. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.