Chega o mês de maio. Param as usinas de açúcar. Param os cortes de cana. O trabalhador da palha - o canavieiro, se sente acuado, pois o período da entressafra durará até o mês de setembro, um período longo demais para ficar desempregado. Como fazer a feira? A barriga não pode esperar tanto.

Parte então o canavieiro do engenho para cidade em busca de emprego, em busca do sustento de cada dia. Mas emprego não há mais. E se houvesse morar onde? Debaixo do viaduto numa casinha de papelão. Mas na cidade do interior não tem viaduto e o canavieiro calça a alpargata nos meninos, bota o matulão nas costas, a mulher na frente e lá se vai estrada a fora. Mais uma família a habitar as favelas de Recife ou o interior dos viadutos “Joanas Bezerras”. Mais uma menina a protituir-se, mais um jovem a ingressar no mundo do crime, mais um pai a esmolar pelas ruas da cidade sem emprego e mais uma mãe a chorar um destino infeliz.

Essa era a triste realidade do trabalhador da cana-de-açúcar. Ao chegar o período da entressafra: deixar a sua terra, abandonar seus costumes e seus amigos para aventurar-se na cidade grande em busca de emprego. E assim as cidades foram inchando, as favelas se proliferando, a miséria aumentando. E foi com o objetivo de mudar esse quadro que o ex-governador Miguel Arraes, de saudosa memória, criou o programa Chapéu de Palha no ano de 1987. Cada trabalhador passou a receber um salário mínimo mensal pelo período de quatro meses, enquanto esperava o reinício das atividades agrícolas ligadas à cana-de-açúcar. Assim, se Arraes não resolveu todos os problemas do canavieiro, deu uma grande ajuda no sentido de mantê-lo em seu habitat natural sem passar privações. Mas o Chapéu de Palha que deveria ter sido encampado por outros Governadores, não teve vida muito longa.

Uma das propostas de campanha do governador Eduardo Campos, neto de Arraes, foi reeditar o programa Chapéu de Palha. Promessa que se tornou realidade no dia 05 do mês corrente com o lançamento nos municípios de Ribeirão e Paudalho, cujas solenidades ocorrem às 10h e às 16h, respectivamente. Desta feita o programa atenderá 20 mil famílias distribuídas entre: 22 Municípios da Mata Sul, 19 na Mata Norte, 07 na Região Metropolitana do Recife e cinco no Agreste, totalizando 52 municípios. Estão sendo cadastrados no “Programa Chapéu de Palha - Emergencial 2007”, os trabalhadores da palha da cana entre 18 e 60 anos, e estes, se selecionados vão receber uma bolsa complementar ao Bolsa-Família de até R$ 190,00 (cento e noventa reais) - meio salário mínimo e doação de leite, pelo programa Leite de Pernambuco.

Também serão implementadas ações nas áreas de geração de renda, reforço alimentar, capacitação e melhoria da qualidade de vida da população, com ênfase nas áreas de educação, saúde, cidadania, habitação e meio ambiente, além de regularização de documentos, entre outras. O trabalhador, em contrapartida, participará de ações de capacitação, reflorestamento e alfabetização, havendo um controle de freqüência com acompanhamento e supervisão de entidades do Governo e das Prefeituras. Os Municípios atendidos também contarão com trabalhadores para mutirões de limpeza e outros serviços públicos.

Segundo os órgãos de classe dos trabalhadores, o Estado tem 60 mil canavieiros desempregados, no entanto o programa vem atender a família que, na maioria das vezes tem mais de um trabalhador. Quanto ao salário, que inclusive o Governo ainda não informou a imprensa quanto vai gastar para pagá-lo, é pouco, mas significa uma grande ajuda para quem está desempregado.

De qualquer forma, o Chapéu de Palha chega em boa hora e como ponto de partida para uma política agrária mais eficiente, sem dúvida, merece o aplauso do povo pernambucano.


limavitoria
Enviado por limavitoria em 18/05/2007
Reeditado em 18/05/2007
Código do texto: T492477