E assim levo a vida....

Novinha ainda comecei a criar expectativas, comecei a sonhar e esperar. Comecei a viver as esperas que fariam parte de toda a minha vida e que existiriam sempre enquanto menina, enquanto adolescente e enquanto mulher. Meus pensamentos voavam buscando sempre a liberdade de ser, de viver histórias, de encontrar a beleza de amar.

Menina de cabelos cacheados e cheia de pureza, com olhar curioso e coração acelerado, estava deslumbrada com um sorriso doce, com um olhar verde brilhante e uma voz forte e deliciosa.

Nada se sabe ainda nesta idade, mas já se pode sentir os pulsares diferentes que tantas vezes ainda iriam ocorrer ao longo dos anos que iam se seguir. Nesta idade ainda não se sabe que dentro de qualquer patinho feio, existe um lindo cisne.

Desde que essa voz caiu em meus ouvidos e as palavras pronunciavam elogios, declarações de bem querer, simpatia, desejo e amor, passei a desejar ser como a Cinderela, A bela Adormecida ou a Rapunzel. Mesmo sabendo que todas elas eram prisioneiras, porque eu também sabia que elas eram salvas por um príncipe encantado cheio de amor pra dar e que iriam ser felizes para sempre.

Fomos companheiros de longas manhas, tardes e noites.Desfrutamos de momentos musicais, juras de amor e emoções intensas. o que eu sentia era tão novo e tão prazeroso que nada mais ao meu redor atraía-me.

Nesse tempo falávamos de coisas que para outros não tinha

importância. O assunto corria sobre o escuro da noite, as estrelas distantes, os grilos e sapos na grama, as cigarras que cantavam, as tardes quentes, frutas, flores, cheiros, as nuances do mundo e assim por diante...Falávamos de pensamentos e devaneios. Todas essas palavras eram ditas e algumas sussurradas ao som de músicas românticas ao fundo.

O tempo passou e com uns poucos anos a mais as necessidades foram se transformando. A menina que se arrepiava ao ouvir aquela voz e que sonhava com beijos doces e olhares se cruzando desejava bem mais.

Ah!... O amor.... Sempre o amor conduzindo vidas...

Nem sei na verdade se eu o escolhi ou se fui escolhida por ele.

Conjugar o verbo amar...não sei...dificuldade pra isso. Talvez eu diria que amar é tão vasto como o universo que se descortinou aos meus olhos nessa idade tenra, um amor assim, entre uma menina e um homem feito, cheio de experiências, impregnado de cicatrizes de um tempo de vida já vivido, que eu ainda desconhecia, se quer podia imaginar.

Hoje eu sei que na escola quiseram me ensinar, na família quiseram me domar e estabelecer limites, mas foi no mundo que eu aprendi os movimentos e os recuos , os processos intransferíveis de exercitar os verbos Ser e Amar.

Hoje eu sei mais ainda... Sei que tenho a felicidade de ter momentos assim lindos pra recordar. Pensar e sentir saudades é tão bom... E melhor ainda é escrever sobre amor, sobre amores. Escrevo pra me salvar da dor da saudade que me invade.

Apesar dos anos que passaram voando sob meus pés, me sinto alegre por perceber que aquela menininha com sentimentos puros e arrebatadores ainda está aqui dentro do meu coração. Tenho imagens em demasia na minha mente, imagens de um tempo muito iluminado e que me deixou grandes saudades. Saudades que me fazem ficar de olhos abertos madrugada adentro. Bem como a voz que eu tanto ouvi me dizendo também te amo minha menininha.

E assim levo a vida...Deixando que as lembranças vivam dentro de mim, trazendo-me momentos divinos do meu passado, colocando sorriso nos meus lábios no presente e me deixando forte e prontinha para um futuro ainda melhor.